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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Novo tratamento para o HIV é aprovado pela Anvisa; saiba quem poderá tomar

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

24/12/2021 04h00

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Nesse final de ano, tenho visto médicos infectologistas e pessoas que vivem com HIV no Brasil agitados, comentando sobre o novo esquema de tratamento antirretroviral que está chegando ao país com o nome comercial Dovato. Trata-se da associação de dois medicamentos, Lamivudina e Dolutegravir, coformulados em um único comprimido, que deve ser tomado diariamente.

O esquema teve seu uso aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no final de novembro e, desde então, percebo que existe muita desinformação circulando sobre ele, por isso decidi explicar um pouco melhor o que essa aprovação significa de fato e o que esperar de mudanças daqui para frente.

Para início de conversa, diferente do que diversas matérias informaram, esse não é o primeiro esquema de tratamento do HIV em uma única pílula diária no Brasil. Já temos disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) desde a década passada o esquema conhecido como "3 em 1", composto pelos medicamentos antirretrovirais Tenofovir, Lamivudina e Efavirenz.

A novidade do Dovato é outra. Desde o final da década de 1990, acreditávamos que era necessário usar 3 drogas antirretrovirais simultaneamente para controlar de forma satisfatória a multiplicação do vírus e manter de maneira sustentada a carga viral indetectável.

De lá para cá, os medicamentos antirretrovirais melhoraram muito, tanto em relação à potência antiviral contra o HIV quanto aos possíveis efeitos colaterais. No caso da potencial toxicidade causada por essas drogas, melhorar não significa deixar de existir, e hoje vemos que com o uso prolongado de alguns antirretrovirais eles ainda podem ocorrer, como por exemplo as alterações renais e ósseas.

Nesse sentido, nos últimos anos os pesquisadores começaram a avaliar se, com as drogas mais modernas que temos disponíveis hoje, esquemas antirretrovirais simplificados, com menos medicamentos, seriam capazes de manter o bom controle do HIV. Desde então, diversos ensaios clínicos têm demonstrado que a combinação das 2 drogas do Dovato funciona tão bem quanto os esquemas com 3 drogas. E ainda por cima causam menos efeitos colaterais.

Os resultados dessas pesquisas têm feito o tratamento do HIV se transformar em todo o mundo, e aqui mesmo no Brasil o esquema com Lamivudina e Dolutegravir já é reconhecido pelo Ministério da Saúde e recomendado em algumas situações específicas, mas ainda em comprimidos separados (2 de Lamivudina e mais 1 de Dolutegravir, diariamente). Com a chegada do Dovato, esse esquema passará a ser administrado em uma única pílula diária.

Outra desinformação que está circulando nas últimas semanas é que o Dovato já está sendo disponibilizado pelo Ministério da Saúde para tratamento das pessoas que vivem com HIV no Brasil. A aprovação para uso pela Anvisa não significa que o medicamento já foi incorporado pelo SUS, mas apenas que a agência regulatória concorda com a bula do medicamento e com a indicação para uso contida nela.

De acordo com a bula aprovada, o Dovato poderá ser usado para tratamento de pessoas que vivem com HIV com mais de 12 anos, com no mínimo 40 kg de peso e que não tenham no seu histórico o registro de HIV resistente a qualquer um dos antirretrovirais contidos no esquema. Ele poderá ser usado tanto para início de tratamento como para troca, para aqueles que estão utilizando um esquema tradicional com 3 drogas.

A incorporação do Dovato ao SUS será muito bem-vinda por se tratar de um esquema de fácil adesão, grande potência contra o HIV e bom perfil de efeitos colaterais. Mas isso ainda depende de fluxos complexos utilizados na incorporação de novas tecnologias ao serviço público.

Converse com o seu médico e tire todas as suas dúvidas sobre uma eventual simplificação da sua terapia antirretroviral. Essa novidade pode ser uma boa ideia para você.