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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

São Paulo reduz em 36% os casos de HIV e pode controlar a epidemia até 2030

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

10/12/2021 04h00

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No Brasil, no mês de dezembro são publicados os boletins epidemiológicos com as atualizações dos números da pandemia de HIV/Aids. O de 2021 era especialmente aguardado uma vez que não sabíamos ainda qual seria o impacto da pandemia de covid-19 e a decorrente interrupção do contínuo cuidado, educação, prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV, e no controle que havia sido alcançado dos casos de HIV/Aids ao longo das últimas décadas.

O Boletim Epidemiológico do município de São Paulo de 2021 veio cheio de boas notícias. Pelo 4º ano consecutivo tivemos uma redução nos novos casos registrados de infecção por HIV. Somente no ano de 2020, foram notificadas 2.472 novas infecções por HIV no município, que concentra o maior número de casos do país.

Se comparado com o ano de 2016, quando a queda se iniciou, esse número representa uma redução de 36% na incidência anual. Os números de casos de Aids também se encontram em queda no município desde 2017, registrando, em 2020, uma redução de 34%, com um total de 1.502 casos.

O resultado animador é fruto de uma política longitudinal da Coordenadoria de IST/Aids do município de São Paulo de ampliação do acesso à testagem, prevenção combinada e tratamento do HIV/Aids. Para se ter uma ideia, São Paulo sozinha é responsável por mais de 15 mil usuários que iniciaram a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), o que corresponde a 33% de todos os usuários de PrEP do país e 70% do estado de São Paulo.

A redução verificada na incidência de HIV poderia ser fruto do fechamento dos serviços de testagem durante a pandemia, no entanto, em São Paulo durante todo o período de isolamento social a rede municipal de serviços se manteve aberta e atendendo a demanda dos usuários. No ano de 2020 foram realizados mais de 30 mil testes de HIV a mais do que em 2019.

O Boletim Epidemiológico também informa que o município teve renovado o seu certificado de erradicação da transmissão materno-infantil do HIV. Esse prêmio conferido pelo Ministério da Saúde só foi alcançado no país por mais dois municípios de muito menor dimensão: Umuarama e Curitiba, ambas no Paraná. Desde 2019, São Paulo consegue oferecer toda a atenção necessária às gestantes durante pré-natal, parto e puerpério, garantindo o sucesso na prevenção vertical do HIV.

Os dados do município, entretanto, apontam que existem ainda inúmeras metas a serem buscadas, como a solução da desigualdade racial. Tanto nos casos de infecção por HIV quanto nos de Aids, temos em São Paulo uma taxa de incidência muito maior registrada entre homens e mulheres pretos do que entre aqueles brancos. Se não existe nenhum fator biológico que facilite a transmissão do HIV na população preta, a disparidade dos números apenas escancara a desigualdade racial no acesso à saúde e aos insumos de prevenção.

Para tentar reverter essa desigualdade, o município tem ampliado o número de serviços que oferecem testagem e prevenção combinada em todas as regiões da cidade, incluindo as mais pobres e periféricas. Atualmente são 92 serviços municipais fazendo o atendimento de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV) e 55 oferecendo a PrEP.

No último ano, foram realizadas diversas edições do "PrEP na Rua", uma espécie de mutirão de atendimento inicial de usuários interessados em PrEP. Depois de começarem a PrEP são referenciados para seguir o acompanhamento em um serviço próximo à sua casa.

Recentemente foi inaugurado o CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) da Cidade, uma unidade itinerante que vai oferecer todo o atendimento encontrado num serviço tradicional. Assim como o "PrEP na Rua", o CTA da Cidade pretende eliminar os obstáculos existentes para acesso à testagem e prevenção do HIV, se deslocando dentro da cidade para chegar aonde estão as pessoas que mais precisam desse cuidado.

Mais uma vez São Paulo mostra para o resto do Brasil que valorizar o que a ciência nos ensina e lutar pelo acesso à saúde pública, de qualidade e sem discriminação é a melhor maneira de enfrentar a epidemia de HIV/Aids.

Parabéns, São Paulo. Se continuarmos nessa direção, vamos atingir o controle dessa epidemia até o ano de 2030.