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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Relatório da ONU indica avanço lento no controle mundial do HIV e de ISTs

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

28/05/2021 04h00

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Em 2015, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou um audacioso plano de metas para serem atingidas até 2030 com o objetivo de tornar o mundo melhor e mais sustentável. Denominado Sustainable Development Goals (Metas de Desenvolvimento Sustentável), ele conta com 17 objetivos em diversas áreas que vão desde a eliminação da pobreza e a fome até a promoção do consumo responsável.

A meta número 3 (saúde e bem-estar da população mundial) tem como um dos seus principais pilares o controle de doenças transmissíveis, entre elas a infecção por HIV, as hepatites virais e as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Na última semana, a ONU divulgou um relatório que avalia o progresso no controle mundial dessas doenças entre os anos de 2016 e 2021. Nele, encontramos boas e más notícias que trago para discutir aqui.

De acordo com o relatório, as infecções por HIV, hepatites B e C, e ISTs juntas ainda contam com mais de 1 milhão de novos casos todos os dias em todo o mundo e anualmente são responsáveis por 2,3 milhões de óbitos, 14% de todas as mortes em decorrência de doenças infecciosas.

A má notícia é que os novos casos dessas infecções não estão caindo como deveriam. Para o HIV, por exemplo, em 2019 foram registrados 1,7 milhão de novos casos, mais de 3 vezes a meta de 500 mil estabelecida pela ONU para o final dessa década.

Somente em 2019, foram registrados também 3 milhões de novas infecções por hepatites B e C e 374 milhões novos casos de sífilis, gonorreia, clamídia e trocomoníase, sendo que essas últimas 4 infecções, apesar de serem facilmente tratáveis e curáveis, têm sua curva de incidência em platô, sem tendência de queda.

Por outro lado, o relatório mostra também que importantes avanços foram obtidos em algumas áreas. A expansão da vacinação contra hepatite B ao nascimento está derrubando o número de novos casos, fazendo com que essa seja a doença mais próxima da meta de controle.

Para hepatite C, desde 2015 o número de pessoas anualmente recebendo o tratamento capaz de curar a infecção aumentou em mais de 9 vezes, chegando agora a 9,4 milhões de pessoas.

Houve também uma impressionante ampliação de acesso ao tratamento antirretroviral para o HIV, fazendo com que hoje em todo mundo dois terços das pessoas que vivem com esse vírus e 85% das gestantes soropositivas estejam em tratamento. O resultado desse avanço é uma redução significativa das mortes em decorrência da Aids e da transmissão materno-infantil do HIV.

O relatório destaca também que o maior desafio para se alcançar as metas de controle do HIV e outras ISTs é a desigualdade no acesso às tecnologias de diagnóstico, prevenção e tratamento desses agentes.

As barreiras nesse acesso são maiores sobretudo quando estamos falando das populações mais vulnerabilizadas socialmente e que mais se beneficiariam dessas intervenções, como as mulheres jovens e adolescentes e seus parceiros, os homens gays e bissexuais, as pessoas trans, os usuários de drogas, os trabalhadores do sexo e a população carcerária.

O relatório da ONU, portanto, reforça o que já sabíamos. As ferramentas para vencer as epidemias de HIV, hepatites virais e ISTs já existem, mas determinantes sociais, como o estigma e a discriminação, são os principais responsáveis pela continuidade dos novos casos e das mortes em decorrência dessas infecções.

Ainda temos 9 anos até 2030. Somente com o empenho e comprometimento de todos, governantes e população, poderemos cumprir as Metas de Desenvolvimento Sustentável dentro do prazo.

Pense nisso e no seu papel nesse processo.