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Rico Vasconcelos

Pessoas que vivem com HIV podem e devem tomar a vacina contra covid-19

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

08/01/2021 04h00

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O ano mudou, mas o assunto ainda é o mesmo: quando e como vamos superar a pandemia de covid-19? E em primeira posição na lista de esperanças sem dúvida está a imunização contra o coronavírus.

Se tudo der certo, quanto mais rapidamente atingirmos ampla cobertura vacinal no Brasil, maior será a redução da circulação do vírus, o que por sua vez trará a queda da incidência e mortalidade por covid-19.

No meio de um turbilhão de ansiedade, cansaço e novos estudos publicados diariamente, uma pergunta que recebo frequentemente dos pacientes que acompanho é: "E para as pessoas que vivem com HIV? Qual a recomendação de vacinação contra covid-19?".

A primeira e mais importante informação que precisamos conhecer é que até agora todas as vacinas candidatas para o Brasil se mostraram bastante seguras nos ensaios clínicos. Entre pessoas que vivem com HIV, não há motivos para isso ser diferente.

Devemos, sim, ter atenção especial na imunização de pessoas com HIV nos casos em que a vacina contém vírus vivos na sua composição, como as vacinas contra febre amarela ou sarampo. Sobretudo se o indivíduo a ser vacinado está com sua imunidade comprometida pela infecção por HIV, o que chamamos de Aids.

O receio nesses casos é de que o vírus vacinal, que foi enfraquecido em laboratório para que produzisse apenas resposta imune sem causar doença, num contexto de imunodeficiência extrema poderia ser capaz de provocar no indivíduo vacinado febre amarela ou sarampo verdadeiros.

Uma vez que nenhuma vacina contra covid-19, experimental ou aprovada, utiliza o coronavírus vivo, não existe contraindicação formal à vacinação de pessoas que vivem com HIV, independente de como estiver a sua imunidade.

Em todos os mais importantes ensaios clínicos de vacinas contra a covid, como os da Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Butantan, a infecção por HIV não foi considerado um critério de exclusão, e os participantes com esse vírus puderam ser incluídos no estudo desde que estivessem em tratamento antirretroviral com o HIV sob controle.

No estudo da Pfizer, por exemplo, foram incluídos 196 participantes infectados com HIV, no entanto, os dados de eficácia da vacina especificamente nesse subgrupo não foram divulgados ainda.

É consenso entre os especialistas em imunização que existe a probabilidade de a resposta imune induzida pela vacina ser mais fraca e menos protetora entre indivíduos infectados com HIV, principalmente naqueles com Aids. Mas esse tópico ainda precisa ser mais bem compreendido.

Uma eventual resposta imune mais fraca provocada pela vacina não deve, no entanto, ser motivo para deixar de se vacinar alguém. Ao contrário, quanto mais pessoas forem imunizadas numa comunidade, mais protegidas ainda essas pessoas que vivem com HIV estarão.

De acordo com estudos publicados recentemente, a infecção por HIV, quando não associada à Aids, idade mais avançada, obesidade, diabetes ou outras doenças crônicas, não pode ser considerada como um fator de risco isolado para evolução mais grave da covid-19. Assim, cada país do mundo deverá decidir se vai ou não priorizar a vacinação dessa população.

No Reino Unido, que já iniciou a vacinação da sua população em dezembro de 2020, pessoas que vivem com HIV são consideradas prioritárias, e quanto mais comprometida estiver sua imunidade, mais precoce será a vacinação.

No Brasil, até agora nem o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19, do Ministério da Saúde, nem o Plano Estadual de Imunização do estado de São Paulo, fizeram referências à priorização da aplicação das doses em pessoas que vivem com HIV.

Nos próximos dias teremos acesso aos detalhes dos dois planos, mas desde já a recomendação que posso dar é simples: se você puder se vacinar, vacine-se.