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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Inchaços no corpo: quando e onde eles indicam problemas no coração

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

27/02/2022 04h00

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Uma torção, reações alérgicas, queimaduras, medicamentos, gravidez, infecções, lesões ou inflamações, esses são alguns dos desencadeadores dos inchaços ou edemas pelo corpo. Ao sofrermos uma queda, por exemplo, rapidamente ou em pouco tempo notamos o local afetado aumentar de tamanho.

No entanto, quando recorrente ou de forma contínua, o inchaço pode surgir em razão de doenças e outras complicações, como problemas no fígado (entre eles a cirrose), nos rins (a exemplo da síndrome nefrótica) e no sistema cardiovascular, especialmente a insuficiência cardíaca, também conhecida como insuficiência cardíaca congestiva.

Em circunstâncias como essas é possível que o edema se desenvolva tão gradual e lentamente que muitos não percebam até que se agrave. Às vezes um local incha, gera até uma sensação de aperto, mas a pessoa não entende exatamente o que é. Dependendo da causa, outros sintomas podem se manifestar em paralelo. Entre os mais comuns podemos mencionar a falta de ar e as dores locais.

De modo geral, os edemas ocorrem quando pequenos vasos sanguíneos vazam fluido nos tecidos ao seu redor, que incham devido ao excesso de líquido. Quando isso ocorre, é possível que afete uma pequena área ou o corpo inteiro.

A maior incidência dos inchaços, em particular os recorrentes, acontece, entretanto, nos membros inferiores: pés, pernas e tornozelos. Se eles aumentam de tamanho com frequência e permanecem assim por dias, é preciso investigar o que está acontecendo.

"Sinto meus pés incharem frequentemente"

O aumento do volume dos pés, pernas e tornozelos sem uma razão específica, como passar muito tempo em pé ou por um tombo com lesão, pode chamar a atenção para a necessidade de uma avaliação do tamanho do fígado e do baço, bem como cardiológica.

Também em relação aos membros inferiores é importante identificar se a alteração está ocorrendo de forma uni ou bilateral, ou seja, em apenas um ou em ambos os lados. Quando o sintoma surge unilateralmente, partimos para investigar problemas na circulação venosa, isto é, do sangue que já circulou pelo corpo e retorna ao coração.

Nessas situações, as consequências podem ser crônicas, acarretando em varizes (ou veias varicosas) ou agudas, com uma trombose venosa e flebites (inflamação dos vasos), circunstâncias associadas ao risco de embolia pulmonar. É afastada a possibilidade de o edema estar relacionado à insuficiência cardíaca. Entretanto, se os inchaços aparecem bilateralmente é preciso considerar a possibilidade de envolvimento do coração, que pode estar com sua dinâmica comprometida.

Vale lembrar que alterações da circulação nos membros inferiores também são notadas com dores e coceira frequentes, sensação de queimação e cansaço, mudanças na coloração destas áreas, inicialmente avermelhadas que, com agravamento do caso, passam para uma tonalidade azul ou arroxeada. Isso porque a má circulação do sangue pode evoluir para uma isquemia —ou a presença inadequada do fluxo de oxigênio e sangue em determinada região do organismo.

Inchaços e o coração

Os pés e tornozelos se localizam na periferia do sistema circulatório, assim são os que mais sofrem com qualquer alteração ou obstrução na corrente sanguínea. Quando ambos os lados incham, apontam indícios da existência de anormalidades no sistema cardiovascular, em especial de uma insuficiência cardíaca.

A explicação é que, no quadro de insuficiência, o coração, mais especificamente o músculo cardíaco, não tem força para bombear o sangue com a pressão necessária para atender às necessidades do corpo. Ele ainda desempenha tal função, mas não de forma suficiente. Com o órgão mais fraco e incapaz de bombear o sangue venoso adequadamente, ocorre a retenção do líquido nas extremidades, que então ficam inchadas.

Em alguns casos notamos ainda um aparente acúmulo de líquidos na área abdominal, aumentando a circunferência. Além dos edemas, os sintomas de insuficiência cardíaca incluem dispneia (falta de ar ou dificuldade de respirar), tosse crônica, chiado, náusea, falta de apetite, frequência cardíaca alta e confusão ou pensamento prejudicado. O aumento do edema pode indicar o agravamento da insuficiência cardíaca.

Ainda sobre a complicação, vale destacar que com a função de bombeamento do coração comprometida pode faltar oxigênio e nutrientes para órgãos onde houve acúmulo de sangue, prejudicando e reduzindo a capacidade destes para trabalhar adequadamente. Ou seja, além dos membros inferiores, é possível ocorrer, por conta da insuficiência, inchaços em outras regiões do corpo.

E o que gera a insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca é uma doença crônica. Uma de suas causas mais comuns é a doença arterial coronariana (DAC), quadro em que há um bloqueio ou a redução da circulação de sangue no coração devido ao acúmulo de placas de gordura nas artérias coronárias, responsáveis por irrigar o órgão. Uma evolução da DAC leva ao infarto agudo do miocárdio.

Também podem gerar a insuficiência: alterações congênitas ou adquiridas nas válvulas cardíacas, níveis de pressão arterial não controlados, inflamações do músculo cardíaco, danos ou disfunções nos ventrículos, doença de Chagas, entre outros. Diante da insuficiência cardíaca se abre um leque para a possibilidade de várias complicações no coração ou até no pulmão, caso de uma embolia pulmonar, por exemplo.

O que fazer?

Para tratar os inchaços, especialmente relacionados a circulação, é preciso, em primeiro lugar, ter o diagnóstico de sua causa. Sem o tratamento necessário, o edema pode deixar o local cada vez mais dolorido, rígido, gerar dificuldade de locomoção, pele esticada ou com prurido, úlceras de pele, cicatrizes e alterações da circulação sanguínea. Isso sem falar das complicações mais graves mencionadas acima.

Portanto, se o inchaço durar mais que um dia e for acompanhado de dores ou mudanças na cor da pele, ou, ainda, se o volume for tanto que te impeça de usar os sapatos ou caminhar, é importante consultar um especialista. Tabagistas e diabéticos devem ter atenção especial as alterações manifestadas através dos membros inferiores. Estar atento aos sinais e prevenir-se são os melhores caminhos para evitar complicações.

Quando o assunto são os edemas e a circulação sanguínea, devemos reforçar ainda que não é recomendado passar longos períodos do dia sem exercer movimentos. Ao ficarmos horas sentados, a tendência é nosso corpo inchar, especialmente os membros inferiores, como vimos, uma vez que o fluxo até os pés fica reduzido. A posição faz as veias dilatarem e exercerem mais pressão para bombear o sangue. Nesses casos, o retorno do líquido dos pés ao coração é mais difícil.

A recomendação, portanto, é levantar de tempos em tempos e dedicar alguns minutos do dia para um exercício simples, mas que ajuda na circulação. Basta movimentar o pé como fazemos ao pisar no acelerador de um carro. Outras dicas são: sempre que possível intercalar o sentar e o andar; deixar as pernas levantadas ao fim do dia pelo tempo mínimo de 15 minutos e manter a prática regular de atividades físicas.