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Paulo Chaccur

Cardiopatias em crianças com síndrome de Down: entenda esta relação

Crianças com síndrome de Down têm risco de terem malformações cardiovasculares - iStock
Crianças com síndrome de Down têm risco de terem malformações cardiovasculares Imagem: iStock

Colunista do UOL

11/11/2018 04h00

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O diagnóstico da síndrome de Down chega, em grande parte dos casos, ainda na gestação. Os pais, naturalmente, ficam apreensivos com a notícia, diante das particularidades desta condição genética. Para que as crianças ganhem cada vez mais qualidade de vida, algumas predisposições precisam ser bem monitoradas, como as cardiopatias congênitas, que são as anormalidades na estrutura ou função do coração presentes antes mesmo do nascimento.

Mas qual a relação entre as cardiopatias e a síndrome de Down? Imagine que durante a formação do coração ocorre uma interrupção no processo. Essa parada provoca diversas malformações. Uma delas é a não formação das válvulas cardíacas do lado direito e esquerdo, ficando somente uma válvula única. Essa seria a interrupção mais grave no processo de formação do coração.

Esse processo resulta em uma cardiopatia denominada “defeito do septo atrioventricular total” (DSAVT). Nestes casos, os sintomas são mais importantes, impedindo o desenvolvimento normal do bebê. Mas é bom ressaltar que não são todas as crianças que apresentam o quadro com esta gravidade.

De acordo com a intensidade, algumas cardiopatias são consideradas mais simples, ou seja, o processo de evolução do coração pôde continuar. Nesses casos, um problema diferente se manifesta, com abertura ou na parede que separa os ventrículos (cardiopatia de comunicação interventricular) ou na parede entre os átrios (cardiopatia de comunicação interatrial). Em ambos os casos, as válvulas dos lados esquerdo e direto ficam bem formadas.

Formas de tratamento

Para tranquilidade dos pais, não são todas as crianças com síndrome de Down que nascem com as cardiopatias congênitas. Números de um estudo realizado na Dinamarca, nos anos 90, mostravam que até 50% das pessoas com esta condição genética apresentavam anomalias cardíacas.

Quando há síndrome na gestação, o coração do bebê passa a ser monitorado em exames como o ecocardiograma fetal, conhecido como ecofetal, que não possui contraindicações e fará a avaliação minuciosa das estruturas cardíacas do feto.

Quando a cardiopatia congênita é do tipo mais grave, muitos bebês precisam passar pelo procedimento cirúrgico até o sexto mês de vida. Se retardarmos muito a correção por cirurgia, a cardiopatia acaba provocando a chamada hipertensão pulmonar, quando o fluxo muito aumentado de sangue provoca o espessamento das artérias do pulmão.

A partir do primeiro ou segundo mês é que a criança começa a apresentar o que chamamos de insuficiência cardíaca. A quantidade de sangue que vai para o pulmão acaba aumentando progressivamente nestes dois primeiros meses de vida. A pressão pulmonar no padrão fetal, de certa forma, protege o pulmão da criança no nascimento e em seus primeiros dias. Mas quando passa a levar um volume maior de sangue para o pulmão, todo o agravamento da situação vem à tona.

Em alguns casos, bebês com essas cardiopatias chegam ao sexto mês pesando cerca de três quilos apenas. Não ganham peso em função da insuficiência cardíaca, com a dificuldade na alimentação, pelo cansaço e fadiga durante a amamentação, por exemplo. Por esta razão é importante que os pais estejam atentos a estes sinais e façam o controle adequado com especialistas.

Boas chances de recuperação

Após os procedimentos cirúrgicos nas crianças que recebam esta indicação, a recuperação em grande parte dos casos ocorre de forma bastante satisfatória. Para nós, cirurgiões cardiovasculares, existirá sempre uma preocupação quanto ao funcionamento das novas estruturas. Ao se fazer a correção da cardiopatia, dividindo a válvula única em dois componentes, dependeremos muito do desenvolvimento dessa válvula, para que possamos dar uma característica de dois orifícios distintos, com funcionamento normal.

20% a 30% dessas crianças acabam tendo algum vazamento dessas válvulas após a correção. E a criança poderá precisar de uma nova cirurgia, alguns anos depois. Mas a expectativa é que isso não ocorra e estes bebês continuem com bom desenvolvimento, possibilitando a continuidade dos estímulos específicos com equipe multidisciplinar, como fisioterapeutas e fonoaudiólogos.

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