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Paola Machado

REPORTAGEM

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Entenda relação entre falta de proteína e consumo de alimentos calóricos

Proteínas são importantes na produção muscular e também em pele, cabelos, ossos e unhas - iStock
Proteínas são importantes na produção muscular e também em pele, cabelos, ossos e unhas Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

21/11/2022 04h00

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Alimentos processados geralmente incluem muitos ingredientes e aditivos não naturais, como sabores artificiais, açúcares, estabilizantes, emulsificantes e conservantes, que podem ter um efeito prejudicial na barreira intestinal.

Um estudo recente (2021) intitulado "Association of ultra-processed food intake with risk of Inflammatory bowel disease: prospective cohort study", analisando participantes inscritos de 2003 a 2016 (90 tinham doença de Crohn e 377 tinham colite ulcerativa), mostrou que uma maior ingestão de alimentos ultraprocessados está associada a um risco aumentado de DIIs (doenças inflamatórias intestinais).

De acordo com a Revista Obesity, a preferência por esses alimentos industrializados em vez de uma alimentação saudável e rica em proteínas é um dos principais contribuintes para as altas taxas de obesidade no mundo ocidental.

Fast-foods, comida rápida ou comida pronta, e que normalmente vêm associadas a um estilo de vida estressante e corrido, o que não precisa ser verdadeiro, apareceram com a Revolução Industrial e a explosão do trabalho fora de casa (inclusive para as mulheres), quando fomos reduzindo o tempo dedicado a fazer as refeições para obtermos mais produtividade.

Dessa forma, à medida que as pessoas consomem mais fast-food ou alimentos altamente processados e refinados, acabam reduzindo o consumo de fontes saudáveis de proteínas, aumentando o risco de sobrepeso e obesidade —levando a um aumento no risco de diversas doenças crônicas.

Na escalada das doenças, simultaneamente tivemos uma explosão de diabetes, hipertensão, obesidade e câncer, que foram rapidamente associadas a este novo hábito, sendo isto em parte verdadeiro, mas não de forma exclusiva.

Esta relação com as principais causas de morte ocorre porque normalmente os alimentos que comemos nos curtos períodos de refeição são ricos em aditivos, corantes, gorduras saturadas e trans, colesterol e apresentam pouquíssima ou nenhuma presença de fibras, vitaminas e minerais promovendo uma disruptura do equilíbrio orgânico, o que inicia o processo conhecido como doença.

Mais da metade de nossas calorias diárias vêm de alimentos altamente processados. Alimentos não processados ou minimamente processados são encontrados nas frutas e vegetais frescos, carnes cruas e laticínios.

Por outro lado, alimentos altamente processados, como biscoitos, biscoitos, batata-frita e pizza congelada, geralmente contêm altos níveis de adição de açúcar, gordura e sal, e não muito em termos de vitaminas e fibras. Um estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition mostrou que o consumo de alimentos ultraprocessados aumentou de 53,5% das calorias em 2001 a 2002 para 57% no final do estudo, em 2017 a 2018.

Dentre as hipóteses, os pesquisadores sugerem a alavancagem de proteína, em que as pessoas consomem mais gorduras "ruins" e carboidratos simples para satisfazer a demanda ou falta de ingestão de proteína. Como muitas pessoas ainda optam pela facilidade dos alimentos processados e refinados, que são pobres em proteínas, elas acabam consumindo alimentos mais densos em energia (calorias) até satisfazerem sua demanda de proteína.

A importância das proteínas

A proteína é um macronutriente encontrado em muitos alimentos, como carne bovina, frango, peixe, ovo, leite e derivados (queijo, iogurte), nozes, feijão etc. O nutriente é composto de aminoácidos, utilizados pelo organismo na produção muscular e também na pele, nos cabelos, nos ossos, nas unhas.

As proteínas são os blocos de construção, e cada célula do corpo as contém, sendo usadas para reparar ou construir novas células —estima-se que mais de um milhão de formas de proteína sejam necessárias para permitir que o corpo humano funcione.

Além disso, os pesquisadores usaram dados de uma pesquisa transversal de nutrição e atividade física de 2011 a 2012 com 9.341 adultos —idade média de 46 anos— e descobriram que a ingestão média de energia dos participantes foi de 8.671 kJ ou 2.072 calorias, com a porcentagem média de energia proveniente de proteínas sendo de apenas 18,4%, em comparação com 43,5% de carboidratos e 30,9% de gordura, 2,2% de fibra e 4,3% de álcool. Estima-se que as necessidades calóricas para mulheres adultas variam de 1.600 a 2.200 por dia, e para homens 2.000 a 3.000 calorias por dia.

Os pesquisadores determinaram a ingestão de calorias versus o tempo de consumo e descobriram que o padrão correspondia ao previsto pela hipótese de alavancagem da proteína. Os participantes que ingeriram quantidades menores de proteínas na primeira refeição do dia aumentaram sua ingestão geral de alimentos nas refeições subsequentes, enquanto aqueles que receberam a quantidade recomendada de proteína comeram menos durante o resto do dia.

Eles também encontraram uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos na terceira refeição do dia. As pessoas com maior proporção de energia proveniente de proteínas no início do dia tiveram uma ingestão calórica total muito menor durante o restante do dia, enquanto aqueles que consumiram alimentos com baixo teor de proteína no início do dia passaram a aumentar o consumo de calorias, indicando que estavam buscando mais alimentos para compensar a falta de proteína.

A tendência foi observada mesmo que a primeira refeição tivesse sido a menor para ambos os grupos, com menor quantidade de energia e alimentos consumidos, enquanto a última refeição foi a maior.

Outro achado importante foi que os participantes com menor proporção de proteína do que o recomendado na primeira refeição consumiram mais lanches na forma de alimentos calóricos ricos em gorduras saturadas, açúcares, sal ou álcool ao longo do dia e reduziram a ingestão dos cinco grupos de alimentos recomendados —grãos, vegetais e legumes, frutas, laticínios e carnes— na hora das refeições.

Com o estudo fica cada vez mais claro que nosso organismo consome e busca uma quantidade de nutrientes para satisfazer uma meta de proteína. Como há uma redução em grande parte da população na quantidade de proteína da alimentação, é necessário consumir mais alimentos para atingir a meta de proteína, o que efetivamente eleva sua ingestão diária de energia.

E o que precisamos entender é que os seres humanos têm uma forte necessidade por proteínas e se ela for "diluída" com gorduras e carboidratos, ingerimos mais energia para obter a proteína que nosso corpo deseja.

O estudo não estabelece uma quantidade ideal de proteínas, sendo que essa pode variar entre 10% e 35% da quantidade total de calorias consumidas —vale lembrar que é necessário estabelecer essa quantidade de acordo com as necessidades individuais. O que sabemos é que as dietas com alto teor de proteínas, em média, levam a uma melhor saciedade, o que leva a um menor consumo.

Referências:

Academy of nutrition and dietetica. How Many Calories Do Adults Need? Disponível em: https://www.eatright.org/food/nutrition/dietary-guidelines-and-myplate/how-many-calories-do-adults-need

The University of Sidney. Study confirms that processed foods key to rising obesity . Disponível em:https://www.sydney.edu.au/news-opinion/news/2022/11/08/processed-foods-key-to-rising-obesity-study-finds-.html

Filippa Juul, Niyati Parekh, Euridice Martinez-Steele, Carlos Augusto Monteiro, Virginia W Chang, Ultra-processed food consumption among US adults from 2001 to 2018, The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 115, Issue 1, January 2022, Pages 211-221, https://doi.org/10.1093/ajcn/nqab305

Grech, A, Sui, Z, Rangan, A, Simpson, SJ, Coogan, SCP, Raubenheimer, D. Macronutrient (im)balance drives energy intake in an obesogenic food environment: An ecological analysis. Obesity (Silver Spring). 2022; 30( 11): 2156- 2166. doi:10.1002/oby.23578

Simpson, S.J. and Raubenheimer, D. (2005), Obesity: the protein leverage hypothesis. Obesity Reviews, 6: 133-142. https://doi.org/10.1111/j.1467-789X.2005.00178.x