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Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ciclo menstrual modifica efetivamente o desempenho na atividade física?

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Imagem: iStock

Paola Machado e Raphael Carvalho

Colunista de VivaBem

30/06/2022 04h00

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Não vou dizer que é fácil, mas vivemos em um ciclo de constantes mudanças diárias, principalmente de humor. Tem dias que acordamos querendo abraçar o mundo, no outro dia bate uma tristeza que não sabemos o motivo, no outro estamos indispostas, no outro queremos brigar com todos... Sem falar em todos os desconfortos que de mês em mês as mulheres passam: cólicas, indisposição, cansaço, TPM.

O ciclo menstrual varia de acordo com o organismo da mulher e é dividido em algumas fases, são elas: fase folicular (menstruação, 1º ao 5º dia*), fase folicular (pós-menstrual, 6º ao 12º dia*), fase ovulatória (13º ao 15º dia*), fase luteínica (16º ao 28º dia*).

*Existem mulheres com ciclos curtos que duram cerca de 20 dias e outras com ciclos longos que duram cerca de 45 dias. A média padronizada é de 28 dias, em que os hormônios gonadotrópicos da glândula hipófise anterior fazem com que novos folículos comecem a crescer nos ovários, quando um dos folículos se torna "maduro", o que costuma ocorrer no 14º dia do ciclo. Durante o crescimento dos folículos é secretado o estrogênio.

Durante o ciclo menstrual, as mulheres estão expostas a variações contínuas nas concentrações dos hormônios estrogênio, progesterona, hormônio folículo estimulante e hormônio luteinizante. A mulher passa por mudanças hormonais e, por causa disso, algumas atletas apresentam uma variação considerável do desempenho em certas fases do ciclo. Essas alterações podem influenciar no desempenho de forma positiva ou negativa, o que varia conforme individualidade de cada atleta —e há mulheres que não sofrem variação alguma.

As alterações dos níveis de estrogênio e progesterona ao longo do ciclo menstrual exercem efeitos em diversos aspectos fisiológicos, incluindo o cérebro, o metabolismo e o sistema músculo-esquelético.

Importante destacar, que o estrogênio é um hormônio com uma suposta função anabólica, em que exerceria efeito sobre a atividade de proliferação e diferenciação das células satélites (células que estão ligadas à regeneração muscular e ao aumento da massa muscular), na liberação do hormônio do crescimento (GH) e fator de crescimento semelhante à insulina-1, enquanto a progesterona tem sido relacionada a vias catabólicas.

Dadas essas diferenças nas funções desses hormônios, especula-se que o desempenho muscular pode variar com as mudanças hormonais durante as diferentes fases do ciclo menstrual, e isso impactaria em prejuízo na força e potência muscular, o que reduziria a capacidade de trabalho e o tempo sob tensão em determinado período do treinamento resistido, e, dessa maneira, impactaria de maneira negativa no desempenho físico e até mesmo na hipertrofia muscular.

Para investigar se isso ocorre, pesquisadores colocaram mulheres treinadas com menstruação regular e normal para fazer o treinamento resistido (musculação) durante três diferentes fases do ciclo menstrual (fase folicular precoce, fase folicular tardia e fase lútea), pois essas fases representam os principais eventos que ocorrem durante o ciclo menstrual.

Os resultados do estudo mostraram que não houve variações sistemáticas na força, velocidade e potência muscular em todas as fases do ciclo menstrual

Outra pesquisa com mulheres fisicamente ativas mostrou que o treinamento resistido durante 12 semanas, em que dependendo da fase do ciclo menstrual (fase folicular ou lútea) cada participante treinava com um determinado braço, promoveu aumento da hipertrofia e força muscular de maneira semelhante.

Portanto, parece que as variações hormonais durante o ciclo menstrual não impactam na resposta de força e hipertrofia muscular.

Claro que as mudanças hormonais durante as diferentes fases do ciclo menstrual podem trazer alterações de humor e até mesmo de disposição, e isso deve ser, sim, levado em consideração para prescrição do treinamento

Mas parece que não há variações efetivas na capacidade de se produzir força, velocidade e potência muscular em todas as fases do ciclo menstrual, e nem mesmo as adaptações fisiológicas advindas do treinamento serão comprometidas.

*Com colaboração de Raphael Carvalho, doutor e mestre em ciências pela USP (Universidade de São Paulo)

Referências:

Romero-Moraleda B et al. The Influence of the Menstrual Cycle on Muscle Strength and Power Performance. J Hum Kinet. 2019 Aug; 68: 123-133.

Sakamaki-Sunaga M et al. Effects of Menstrual Phase-Dependent Resistance Training Frequency on Muscular Hypertrophy and Strength. J Strength Cond Res. 2016 Jun;30(6):1727-34.