Topo

Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como o exercício ajuda a minimizar os sintomas de TDAH

iStock
Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

24/05/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O TDAH —ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade— é uma condição de saúde mental na qual as pessoas podem ter dificuldade em prestar atenção, controlar comportamentos impulsivos e as emoções, concluir tarefas e ser hiperativas. É causado por um desequilíbrio de neurotransmissores (mensageiros químicos) no cérebro, principalmente dopamina, e tem um componente genético significativo, embora também possa ser provocado por fatores ambientais, parto prematuro, baixo peso ao nascer, lesões cerebrais e uso de álcool ou tabaco durante a gestação.

Os métodos tradicionais de tratamento incluem medicamentos e gerenciamento de comportamento, embora abordagens mais progressivas incluam modificações na dieta e nos exercícios. Pesquisas estão descobrindo que obter condicionamento físico regular pode melhorar a capacidade de pensamento e melhorar os sintomas do TDAH.

Como já falei várias vezes, o exercício não é bom apenas para perder gordura e tonificar os músculos. Também ajuda a manter a saúde cerebral. Quando você se exercita, seu cérebro libera substâncias químicas chamadas neurotransmissores, incluindo dopamina, que auxiliam na atenção e no pensamento. Isso é positivo para pessoas com TDAH, que geralmente têm níveis de dopamina alterados.

Efeitos positivos que o treino pode trazer para quem tem o transtorno

- Promove a liberação de dopamina O neurotransmissor é responsável pelas sensações de prazer e recompensa. Em pessoas com TDAH, os níveis de dopamina no cérebro tendem a ser ligeiramente mais baixos do que os da população em geral —acredita-se que isso aconteça devido à forma como a dopamina é processada no cérebro em pessoas com TDAH. Muitos medicamentos estimulantes prescritos para pessoas com o transtorno buscam aumentar os níveis de dopamina, como forma de melhorar o foco e reduzir os sintomas. Entretanto, uma maneira confiável de aumentar os níveis de dopamina no cérebro é por meio de exercícios regulares, pois permanecer fisicamente ativo pode ter efeitos semelhantes aos dos medicamentos estimulantes.

- Melhora da função cognitiva, que é um grupo de habilidades controladas pelo lobo frontal do cérebro, incluindo prestar atenção, gerenciar o tempo, organização e planejamento, realizar várias tarefas ao mesmo tempo, lembrar-se de detalhes —em pessoas com TDAH, essas funções são frequentemente prejudicadas. Um estudo com 115 adultos, sendo 61 deles com diagnóstico de TDAH na infância, observou funções cognitivas significativamente prejudicadas entre aqueles com TDAH. Um outro estudo com 206 estudantes universitários encontrou uma ligação entre a quantidade total de exercícios diários realizados e seus níveis de função cognitiva. Tanto em crianças quanto em adultos com TDAH, o exercício regular pode ser um método de tratamento não medicamentoso promissor para melhorar a função cognitiva, que é um dos principais grupos de habilidades afetados pela doença.

- Altera a sinalização do BDNF O fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) é uma molécula chave no cérebro, que afeta o aprendizado e a memória. Alguns estudos apontam que o BDNF pode desempenhar um papel na causa do TDAH. Dentre as complicações potenciais da disfunção do BDNF estão depressão, Parkinson e doença de Huntington, sendo que a prática do exercício físico regular pode ajudar a normalizar o BNDF. Foi o que mostrou uma revisão que descobriu que o exercício aeróbico aumentou significativamente as concentrações de BDNF —entretanto, mais estudos são necessários para comprovar isso.

- Melhora o comportamento e atenção Em crianças, principalmente, o exercício é uma alternativa positiva para liberar a energia reprimida. Pesquisas apontam que a atividade física traz vários benefícios para crianças com TDAH, incluindo comportamentos menos agressivos, melhora na ansiedade e depressão, melhora dos problemas sociais e atenção, além de auxiliar no controle de peso, reduzindo o risco de comorbidades associadas ao excesso de peso (como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, colesterol alto, problemas articulares e ósseos e até alguns tipos de cânceres).

Quanto fazer?

É recomendada a prática de, pelo menos, 150 minutos de exercícios de intensidade moderada por semana, resultando em cerca de 30 minutos de condicionamento físico por dia, cinco dias por semana. Se optar por exercícios aeróbicos mais intensos —como correr ou fazer aulas de ciclismo indoor— 75 minutos de treinamento por semana já são suficientes.

A maioria dos estudos de adultos com TDAH utiliza protocolos de exercícios aeróbicos. Mas, provavelmente (e como já sabemos pela vasta literatura dos diversos benefícios), é ainda mais benéfico incluir uma combinação de treinamento aeróbico e de resistência para maximizar os benefícios gerais à saúde. Exemplos de exercícios incluem caminhada, corrida, ciclismo/spinning, transport, artes marciais, HIIT e combinação de treinos aeróbicos com musculação.

Para jovens com TDAH, o exercício intencional é menos importante do que a quantidade total de atividade física que realiza todos os dias. O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) recomenda que crianças de 6 anos ou mais (com ou sem TDAH) realizem pelo menos uma hora de atividade física por dia para manter um peso saudável e promover o desenvolvimento adequado. Algumas das atividades sugeridas são andar de bicicleta, praticar esportes como basquete, futebol, tênis e vôlei, brincar de pega-pega, pular corda, amarelinha etc.

Enfim, não importa o tipo de exercício que você faz. Realize o treino que você ama, mas faça! Tente variar sua rotina de exercícios. Dessa forma, você não perderá o interesse ou o foco no meio dos treinos. Você pode até mudar os exercícios no meio da rotina, contanto que tenha uma frequência para colher os resultados e benefícios do seu treino. E, se não está motivado, procure amigos para lhe acompanhar, estabeleça metas atingíveis e vá aos poucos.

Referências:

CDC. How much physical activity do children need? Disponível em: https://www.cdc.gov/physicalactivity/basics/children/index.htm

Schroeder, E. C., Franke, W. D., Sharp, R. L., & Lee, D. C. (2019). Comparative effectiveness of aerobic, resistance, and combined training on cardiovascular disease risk factors: A randomized controlled trial. PloS one, 14(1), e0210292. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0210292

Rassovsky Y, Alfassi T. Attention Improves During Physical Exercise in Individuals With ADHD. Front Psychol. 2019;9:2747. Published 2019 Jan 9. doi:10.3389/fpsyg.2018.02747

Mehren, Aylin et al. "Physical exercise in attention deficit hyperactivity disorder - evidence and implications for the treatment of borderline personality disorder." Borderline personality disorder and emotion dysregulation vol. 7 1. 6 Jan. 2020, doi:10.1186/s40479-019-0115-2

Silva, Alessandro P et al. "Measurement of the effect of physical exercise on the concentration of individuals with ADHD." PloS one vol. 10,3 e0122119. 24 Mar. 2015, doi:10.1371/journal.pone.0122119

Zang, Yu. "Impact of physical exercise on children with attention deficit hyperactivity disorders: Evidence through a meta-analysis." Medicine vol. 98,46 (2019): e17980. doi:10.1097/MD.0000000000017980

Dinoff, Adam et al. "The Effect of Exercise Training on Resting Concentrations of Peripheral Brain-Derived Neurotrophic Factor (BDNF): A Meta-Analysis." PloS one vol. 11,9 e0163037. 22 Sep. 2016, doi:10.1371/journal.pone.0163037

Miranda, Magdalena et al. "Brain-Derived Neurotrophic Factor: A Key Molecule for Memory in the Healthy and the Pathological Brain." Frontiers in cellular neuroscience vol. 13 363. 7 Aug. 2019, doi:10.3389/fncel.2019.00363

Lu B, Nagappan G, Lu Y. BDNF and synaptic plasticity, cognitive function, and dysfunction. Handb Exp Pharmacol. 2014;220:223-50. doi: 10.1007/978-3-642-45106-5_9. PMID: 24668475.

Wang, Liang-Jen et al. "Peripheral Brain-Derived Neurotrophic Factor and Contactin-1 Levels in Patients with Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder." Journal of clinical medicine vol. 8,9 1366. 2 Sep. 2019, doi:10.3390/jcm8091366

Gold, Mark S et al. "Low dopamine function in attention deficit/hyperactivity disorder: should genotyping signify early diagnosis in children?." Postgraduate medicine vol. 126,1 (2014): 153-77. doi:10.3810/pgm.2014.01.2735

Bélanger, Stacey A et al. "ADHD in children and youth: Part 1-Etiology, diagnosis, and comorbidity." Paediatrics & child health vol. 23,7 (2018): 447-453. doi:10.1093/pch/pxy109

Faraone, Stephen V, and Henrik Larsson. "Genetics of attention deficit hyperactivity disorder." Molecular psychiatry vol. 24,4 (2019): 562-575. doi:10.1038/s41380-018-0070-0

Murman, Daniel L. "The Impact of Age on Cognition." Seminars in hearing vol. 36,3 (2015): 111-21. doi:10.1055/s-0035-1555115

Lin, Tzu-Wei et al. "Physical Exercise Enhances Neuroplasticity and Delays Alzheimer's Disease." Brain plasticity (Amsterdam, Netherlands) vol. 4,1 95-110. 12 Dec. 2018, doi:10.3233/BPL-180073

Basso, Julia C, and Wendy A Suzuki. "The Effects of Acute Exercise on Mood, Cognition, Neurophysiology, and Neurochemical Pathways: A Review." Brain plasticity (Amsterdam, Netherlands) vol. 2,2 127-152. 28 Mar. 2017, doi:10.3233/BPL-160040

Gold, Mark S et al. "Low dopamine function in attention deficit/hyperactivity disorder: should genotyping signify early diagnosis in children?." Postgraduate medicine vol. 126,1 (2014): 153-77. doi:10.3810/pgm.2014.01.2735

Salas-Gomez, Diana et al. "Physical Activity Is Associated With Better Executive Function in University Students." Frontiers in human neuroscience vol. 14 11. 18 Feb. 2020, doi:10.3389/fnhum.2020.00011

Miranda, Magdalena et al. "Brain-Derived Neurotrophic Factor: A Key Molecule for Memory in the Healthy and the Pathological Brain." Frontiers in cellular neuroscience vol. 13 363. 7 Aug. 2019, doi:10.3389/fncel.2019.00363

Roselló, Belén et al. "Empirical examination of executive functioning, ADHD associated behaviors, and functional impairments in adults with persistent ADHD, remittent ADHD, and without ADHD." BMC psychiatry vol. 20,1 134. 24 Mar. 2020, doi:10.1186/s12888-020-02542-y

El Ghamry, R., El-Sheikh, M., Abdel Meguid, M. et al. Plasma brain-derived neurotrophic factor (BDNF) in Egyptian children with attention deficit hyperactivity disorder. Middle East Curr Psychiatry 28, 22 (2021). https://doi.org/10.1186/s43045-021-00099-4

Brown, Kelly A et al. "Pharmacologic management of attention deficit hyperactivity disorder in children and adolescents: a review for practitioners." Translational pediatrics vol. 7,1 (2018): 36-47. doi:10.21037/tp.2017.08.02

Marques, Adilson et al. "Bidirectional Association between Physical Activity and Dopamine Across Adulthood-A Systematic Review." Brain sciences vol. 11,7 829. 23 Jun. 2021, doi:10.3390/brainsci11070829

Yuan, Peng, and Naftali Raz. "Prefrontal cortex and executive functions in healthy adults: a meta-analysis of structural neuroimaging studies." Neuroscience and biobehavioral reviews vol. 42 (2014): 180-92. doi:10.1016/j.neubiorev.2014.02.005

Hovde, Moriah J et al. "Model systems for analysis of dopamine transporter function and regulation." Neurochemistry international vol. 123 (2019): 13-21. doi:10.1016/j.neuint.2018.08.015

WebMed. Adult ADHD and Exercise. Disponível em: https://www.webmd.com/add-adhd/adult-adhd-and-exercise