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Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Proteína vegetal ou animal: qual a melhor escolha? Resposta não é simples

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

13/05/2022 04h00

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Certamente você já ouviu falar sobre a "segunda-feira sem carne", e tenho certeza de que pensa a respeito, mas fica na dúvida se esta é realmente a melhor escolha a ser tomada quando o assunto é nutrição. Você busca informações adicionais, coloca todas na balança, mesmo assim ainda não sabe o que fazer? Se você se encaixa nesta situação, este texto vai te ajudar a esclarecer estes questionamentos.

Devemos começar falando sobre os benefícios nutricionais das proteínas, assunto amplamente difundido em vários meios de comunicação e tema indispensável nas universidades e centros de pesquisa; os alimentos que são as nossas fontes de proteína podem ser de origem animal, como as carnes (bovina, suína, pescados, aves), ovos, leite e derivados ou de origem vegetal (principalmente leguminosas como lentilha, feijões, grão-de-bico).

Os alimentos ditos como proteicos fornecem aminoácidos que são de fato os nutrientes essenciais para diversas funções desempenhadas em nosso organismo. Durante toda a nossa vida necessitamos destes nutrientes para crescer, restaurar ou manter a nossa imunidade, renovar tecidos como pele, cabelo entre outras funções. Logo, fica evidente porque estes alimentos são tão importantes e devem compor a nossa alimentação cotidiana.

Nos dias atuais, muito se ouve falar sobre a retirada dos alimentos de origem animal da nossa dieta, sendo esta atitude justificada por princípios ético, ambiental e nutricional, sendo este último o centro da nossa discussão.

A adoção de uma dieta livre de proteína animal é discutida por muitos como uma opção saudável para a saúde cardiovascular, por exemplo, uma vez que se espera a redução no consumo de alimentos que contenham muita gordura saturada e colesterol associada a um aumento no consumo de frutas, verduras e legumes, tendo como consequência o aumento na presença de fibras alimentares e compostos funcionais.

No entanto, o ponto central é se podemos manter uma alimentação predominantemente vegetariana e ainda assim garantirmos as funções desempenhadas pelas proteínas, já mencionadas no início do texto.

De acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), se o indivíduo atinge suas necessidades calóricas diárias com alimentos baseados em grãos, automaticamente a sua cota proteica com todos os aminoácidos essenciais será atingida e desta forma as funções relacionadas a este nutriente poderão ser mantidas ou restauradas. Estudos populacionais mostram que a dieta vegetariana (inclusive a vegana) excede a necessidade de aminoácidos essenciais.

No entanto, em estudo realizado por V. Hevia-Larraín et al. (2021), considerou-se que a síntese ou produção de proteínas musculares depende da disponibilidade dos aminoácidos presentes na dieta, principalmente o aminoácido leucina, que está relacionado a fonte alimentar da proteína.

Para saberem mais, os pesquisadores selecionaram dois grupos de adultos jovens (onívoros e veganos) praticantes de treino de resistência que embora tivessem fontes alimentares proteicas diferentes, necessitavam consumir a mesma recomendação diária (1,6 gramas/kg de peso); o consumo diário deveria acontecer na forma de grãos integrais adicionados a suplemento proteico a base de whey protein isolado (grupo onívoro) ou soja (grupo vegano) pelo prazo de 12 semanas, associado ao treino resistido.

Ao final do estudo, o grupo de voluntários que consumiu a proteína animal obteve maior resposta anabólica ou de "formação" da massa muscular, principalmente pela diferente composição de aminoácidos.

Para embasar o seu achado, uma das hipóteses descritas foi que, em se tratando de proteína de origem vegetal, a presença de alguns fatores conhecidos como antinutricionais (que diminuem o aproveitamento de determinados nutrientes), poderia ser um dos motivos pelos quais a suplementação de origem vegetal não obteve resultados semelhantes aos obtidos por pessoas que consumiam a suplementação de origem animal, como o whey protein isolado.

A questão aqui é, se temos como, do ponto de vista prático, manejar esta condição? A resposta é sim.

Considerando a digestibilidade de um alimento ou a sua capacidade em ser absorvido e assimilado, estudo realizado por Ghavidel e Prakash (2007) demonstrou que feijão, lentilha e grão-de-bico consumidos em sua forma germinada apresentavam aumento na digestibilidade de seus aminoácidos, garantindo maior absorção e aproveitamento pelo corpo; quando deixados de molho, o resultado também era bastante positivo.

Em estudo realizado pela Sociedade Italiana de Nutrição Humana e publicado em 2017, foi evidenciado que as proteínas de origem vegetal em sua forma concentrada podem apresentar alta digestibilidade, com taxa de aproveitamento superior a 95% (semelhante as de fonte animal).

Porém, quando o assunto era a análise dos alimentos como cereais integrais e as leguminosas em si, a digestibilidade da proteína contida nestes alimentos poderia permanecer em torno de 80% a 90%, isto porque a soja, por exemplo, é uma fonte concentrada de um fator antinutricional conhecido como inibidor de tripsina; já a ervilha e produtos processados de soja contém níveis consideravelmente mais baixos deste fator, elevando desta forma o aproveitamento de sua proteína.

A informação positiva é que ao cozinharmos estes alimentos conseguimos modificar esta característica, adormecendo estes inibidores de tripsina e consequentemente garantindo maior valor proteico ao alimento.

De forma geral, podemos confirmar que é possível atingirmos adequado balanço de proteínas com uma alimentação vegetal, porém é necessário o acompanhamento de um profissional nutricionista para que sejam avaliados parâmetros clínicos e bioquímicos, bem como as reais necessidades pessoais e uma possível utilização de suplementação nutricional.

Saiba que para a maior parte das pessoas, é possível colher os benefícios de uma alimentação vegetariana.

*Colaboração Samantha Rhein, nutricionista e doutora pela Unifesp

Referências:

- https://www.svb.org.br;

- R.A. Ghavidel, J. Prakash / LWT 40 (2007) 1292-1299;

- Position Paper on Vegetarian Diets from the Working Group of the Italian Society of Human Nutrition. Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Diseases, 2017.

- Position of the American Dietetic Association and Dietitians of Canada: Vegetarian diets. J Am Diet Assoc. 2003;103: 748-765.

- V. Hevia-Larraín et al. HighProtein PlantBased Diet Versus a ProteinMatched Omnivorous Diet to Support Resistance Training Adaptations: A Comparison Between Habitual Vegans and Omnivores. Sports Medicine, February 2021.