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Paola Machado

REPORTAGEM

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Será que posso treinar com dor muscular? Saiba o que é normal e o que não é

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

04/11/2021 04h00

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Nos primeiros dias após mudar o treino, uma dúvida comum dos alunos é se ele deve treinar mesmo com dor muscular ou se o ideal seria ficar em casa e pular a atividade física.

Ao retornar à prática de um exercício físico ou iniciar um novo treino é muito comum se sentir mais fatigado ou até mesmo sentir leves dores musculares, isso porque o corpo demanda um tempo de resposta ao novo estímulo.

O profissional de educação física Rodrigo Kenzo explica que em treinos de adaptação é comum que os alunos sintam a dor muscular tardia, mas eles devem estar atentos ao que é esperado e o que não é desejável que se sinta para que seja um treino saudável.

A dor muscular tardia é caracterizada como uma dor tolerável que surge nos músculos dias após o treino, com pico geralmente após 48 horas e com tendência à diminuição após 72 horas da realização do exercício. Ela surge em decorrência de um processo inflamatório que faz parte do processo de adaptação neuromuscular de ganho muscular.

No entanto, apesar de normal ou comum, essa mesma dor pode, sim, levar à falta de controle neuromuscular, diminuição da força e piora da percepção do corpo no espaço e, por isso, se você não deseja se lesionar é importante alguns cuidados antes de se animar e continuar a treinar dia após dia!

O corpo precisa de tempo para recuperar e é isso que garante os benefícios tão esperados do treino muscular. É durante o tempo de recuperação que seus tecidos se recuperam e se adaptam.

Estudos relatam um tempo entre 24 a 72 horas para essa recuperação. Vale reforçar também que o tempo de recuperação pode variar de acordo com cada indivíduo e de acordo com o tipo de treino e estímulo gerado. E por isso, vale o bom senso! Caso a dor limite os seus movimentos, o ideal é repousar para que o corpo restabeleça os tecidos.

Insistir em treinar nessas condições sem dar tempo ao seu corpo não trará benefícios, além de interromper o processo natural de recuperação, predispondo a lesões ligamentares e articulares.

A recuperação não necessariamente representa repouso, é possível se acelerar a recuperação através de estratégias como o recovery, técnicas de liberação miofascial e até mesmo se movimentando!

O movimento pode, sim, ser um aliado à recuperação do corpo através de exercícios de baixa intensidade. Vale investir em exercícios de alongamento muscular e de aquecimento que aumentam a circulação local e facilitam o processo de remoção de metabólitos envolvidos na inflamação.

Um erro comum acontece principalmente em pessoas que treinam sem orientação profissional. A pessoa sem saber acaba fazendo o mesmo exercício todos os dias ou fazendo exercícios diferentes, mas que trabalham os mesmos grupos musculares, o que gera muito estímulo muscular e pouco tempo de recuperação ao corpo.

No caso da academia, você pode treinar, mas com o cuidado de alternar os grupos musculares que estão sendo trabalhados, gerando estímulos distintos e demandas em músculos diferentes que permitem a recuperação dos músculos trabalhados no dia anterior.

Por isso, reforço a importância de sempre treinar sob orientação, focar em periodização e planejamento e evitar realizar o mesmo treino todos os dias. O profissional de saúde saberá orientar a frequência do treino e o tempo necessário para restauração da condição física antes de um novo estímulo, reduzindo de forma importante o risco de lesões, prevenindo uma condição de overreaching ou de overtraining.

Lembre-se que prevenir é melhor que remediar. Uma lesão pode afastar você dos treinos antes mesmo de você conseguir criar uma rotina de treinamento. Não adianta forçar seu organismo, respeite o treino do seu personal, ele é o profissional apto a prescrever o intervalo entre séries e o volume de treino. Durma e se alimente adequadamente.

Observe os sinais do seu corpo, caso haja dor limitante ou persistente, interrompa seus treinos e procure orientação médica para avaliar se o seu quadro seria de uma lesão mais severa.

Colaboração Rodrigo Kenzo, personal trainer gestor na Clínica La Posture e Renata Luri, fisioterapeuta, doutora em ciências da saúde pela Unifesp e sócia da Clínica La Posture

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