Topo

Paola Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O que você precisa saber para preparar o corpo para o parto normal

iStock
Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

26/07/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Independentemente de você desejar ter um parto normal ou cesárea, é essencial que prepare seu corpo para o momento do nascimento do bebê. Mulheres que se planejam com antecedência para o parto têm uma experiência mais satisfatória, recebem menos intervenções durante o trabalho de parto e têm menos risco de terem lacerações —e quando as têm são menores, gerando menos complicações.

O primeiro passo para se preparar é conhecer, estudar e conversar com sua equipe do parto. O quanto antes você começar a entender como funciona a fisiologia do nascimento, mais facilmente irá digerir todas as informações e encontrará as ferramentas necessárias para lidar com situações indesejadas ou inesperadas.

A seguir, irei pincelar algumas informações para você entender como o seu corpo se adapta ao nascimento do bebê, para que servem as contrações do útero, como fazer o manejo das dores e por que é importante levar tanto tempo (geralmente de 10 à 24h) para parir.

Vamos falar da vagina...

Falando sobre o mecanismo do parto, sabia que o canal da vagina tem a capacidade de se distender três vezes mais que o habitual? Se olhar seu canal vaginal no espelhinho, você desacreditaria que sairia uma cabeça por lá, não é mesmo?! Mas, graças aos hormônios que inundam seu corpo na hora do parto, o corpo, literalmente, se abre para permitir que seu filho nasça!

Contrações de Braxton-Hicks

Resumidamente, sabia que seu útero, assim como qualquer músculo do corpo, precisa treinar para ser forte? Por volta das 30 a 32 semanas de gestação, começam as contrações de treinamento (contrações de Braxton-Hicks). Elas preparam seu corpo para que, na hora do parto, seu músculo esteja forte para expulsar o bebê da barriga. Lembre-se que sem contrações boas e vigorosas não há como a criança nascer. Graças às contrações é que seu colo do útero se dilata, dando finalmente passagem para o nascimento.

Dor do parto

A dor do parto, novamente repito, não é para você sofrer. As contrações são necessárias para que seu filho nasça, contudo as contrações precisam ser intensas e muito vigorosas, pois caso contrário não há nascimento. E essa vigorosidade, dependendo da tolerância da pessoa, se traduz em uma dor que se intensifica significativamente quando não há manejo da ansiedade, compreensão da sua importância, ausência de uma equipe que ajude a lidar com o processo do nascimento, ausência de um companheiro(a) ao seu lado e da compreensão do processo todo.

A dor é manejável. Graças à evolução da ciência há recursos medicamentosos (anestesia, analgesia) e infinitos recursos não medicamentosos —massagem, acupuntura, exercícios, meditação, técnicas de respiração, aproximação da intimidade do companheiro, vocalização, fortalecimento dos cinco sentidos ou dos 12 sentidos, bolsa térmica, chuveiro, banheira, recursos fisioterápicos de analgesia. Portanto, a dor do parto normal não deve ser motivo para escolher outras opções de nascimento.

Tempo de parto

O parto completo dura, em média, de 10 a 24 horas —você pode se assustar achando que é muito tempo, mas pense que isso ocorre porque seu corpo não deseja causar tanto sofrimento a você. Pelo contrário, seu corpo entende que se começasse com uma contração muito intensa você não toleraria bem, por isso, há um início com contrações mais leves e espaçadas e, conforme seu corpo se adapta, as contrações aumentam.

Além disso, se seu filho nascesse muito rapidamente, poderia causar lacerações no seu períneo. Afinal, o períneo também precisa de tempo para se adaptar para a saída do bebê.

Hoje em dia, queremos que tudo na vida seja rápido e indolor, mas os processos naturais são mais lentos e nos ensinam que precisamos ter paciência e tolerância —e que não temos controle na vida!

Já entendi meu corpo e as mudanças no parto. Quais ações práticas para evitar uma laceração?

Saiba que a lesão do períneo está entre um dos principais traumatismos do parto? A probabilidade de laceração perineal mais severa em mães de primeira viagem pode variar de menos de 1% para mais de 40%. Quando há assistência com episiotomia (corte realizado pelo médico), a probabilidade de laceração pode ser superior a 50% em mulheres de alto risco.

A prevenção dessas lacerações é um dos focos durante o pré-natal, quando se inicia a preparação para o parto. As lacerações podem comprometer a estrutura e a função do assoalho pélvico, que é o controle da micção e evacuação, ou seja, após o parto a mulher pode vir a desenvolver escape de xixi e fezes (as famosas incontinências urinária e fecal). Além disso, um assoalho pélvico fraco pode causar prolapsos dos órgãos pélvicos ("bexiga caída", além de causar queda/descida do intestino e do útero pelo canal vaginal) e dores durante a relação sexual.

Cientificamente está comprovado que mulheres que realizam exercício físico têm menor tempo de trabalho de parto, pois o corpo está mais receptivo às mudanças rápidas do parto.

Vale mencionar que quem realiza atividade física tem menores níveis de cortisol (hormônio do estresse) e maior concentração de serotonina e dopamina (hormônios do bem-estar), logo, realizam o melhor manejo da ansiedade e redução da sensibilidade à dor. O pós-parto também é beneficiado e caracterizado por ser mais rápido e tranquilo nessas mulheres mais ativas!

Estudos mostram que quem realiza atividade física reduz a necessidade de evoluir para um parto cesárea e/ou parto normal instrumentalizado. Para tais resultados positivos, a Escola Americana de Obstetrícia e Ginecologia recomenda atividade física moderada. Já respondi sobre uma dúvida bastante comum das gestantes que iniciam uma atividade física na gestação —se há risco de prematuridade.

Além da atividade física, estudos mostram que a massagem perineal pode ajudar prevenindo esse risco de lacerações. Segundo a fisioterapeuta especializada em obstetrícia Juliana Satake, a massagem realizada na musculatura do assoalho pélvico, isso é, que se localiza ao redor do canal vaginal, a partir de 34 a 35 semanas de gestação e durante o trabalho de parto reduz significativamente a necessidade de intervir com cortes durante o parto e reduz o risco de laceração do períneo.

A profissional reforça que a massagem perineal é simples de ser feita, mas que a orientação do profissional de saúde, a indicação específica e o acompanhamento adequado com informações direcionadas fazem muita diferença, em especial, em uma região que poucas mulheres conhecem e exploram em seu próprio corpo.

Objetivamente falando, para se ter um parto normal tranquilo, busque conversar com a sua equipe do pré-natal, faça os exercícios indicados pelo profissional de saúde e busque atividades e pessoas que a apoiarão. Assim, você confiará no seu corpo, sentirá menos ansiedade e medo. Você não precisa passar pelo processo sozinha, conte com pessoas que fazem bem a você e confie em sua equipe médica —o que inclui todos os profissionais que dão suporte nessa gestação—, assim você ficará bem informada e tranquila para o parto e para aproveitar a chegada de seu filho de forma mais positiva!

*Colaboração Renata Luri, Fisioterapeuta Doutorada pela Unifesp, sócia da Clínica La Posture e Angela May, Fisioterapeuta Especializada em Saúde da Mulher pelo CAISM (UNICAMP) e responsável pelo setor de obstetrícia na Fisioterapia da Mulher na Clínica La Posture

Referências:

Barakat R, Pelaez M, Lopez C, Montejo R, Coteron J. Exercise during pregnancy reduces the rate of cesarean and instrumental deliveries: results of a randomized controlled trial. J Matern Fetal Neonatal Med. 2012; 25(11): 2372-2376.

Beckmann MM, Stock OM. Antenatal perineal massage for reducing perineal trauma. Cochrane Database Syst Rev. 2013; 30(4): CD005123.

Bo K, Fleten C, Nystad W. Effect of antenatal pelvic floor muscle training on labor and birth. Obstet Gynecol. 2009; 113(6):1279-84.

Carroli G, Mignini L. Episiotomy for vaginal birth. Cochrane Database Syst Rev. 2009;(1):CD000081.

Figueiredo GS, Santos TTR, Reis CSC, Mouta RJO, Progianti JM, Vargens OMC. Ocorrência de episiotomia em partos acompanhados por enfermeiros obstetras em ambiente hospitalar. Rev. enferm. UERJ. 2011;19(2):181-5.

FRANCISCO, A.A.; KINJO, M.H.; BOSCO, C.S.; SILVA, R.L.; MENDES, E.P.B.; OLIVEIRA, S.M.J.V. Associação entre trauma perineal e dor em primíparas. Rev. esc. enferm. USP. Brasil, v. 48, n. esp, p. 40-45, Ago. 2014.

Friedman AM, Ananth CV, Prendergast E, D'Alton ME, Wright JD. Variation in and factors associated with use of episiotomy. JAMA.2015;313(2):197-9. https://doi.org/10.1001/jama.2014.14774

Frigo J, Cagol G, Zocche DA, Zanotelli SS, Rodrigues RM, Ascari RA. Episiotomia: (des) conhecimento sobre o procedimento sob a ótica da mulher. BJSCR. 2014 [cited 2017 Jun 16];6(2):5-10.

Geranmayeh M, Rezaei Habibabadi Z, Fallahkish B, Farahani MA, Khakbazan Z, Mehran A. Reducing perineal trauma through perineal massage with vaseline in second stage of labor. Arch Gynecol Obstet. 2012; 285(1):77-81.

MELO, I.; KATS, L.; COUTINHO, I.; AMORIM, M.M.; Seletive episiotomy v.s implementation of a nom episiotomy protocol: a randomized clinical trial. Reproductive Health. Brazil, v. 11, n. 1, p. 66, Aug. 2014.

Moccellin, A. S; Rett, M. T; Driusso, P. Is there any change in the function of the pelvic floor and abdominal muscles of primigravidae in the second and third trimester of pregnancy?. Fisioter Pesqui 2016;23(2):136-41.

Organização Mundial de Saúde, Saúde Materna e Neonatal, Unidade de Maternidade Segura, Saúde Reprodutiva e da Família. Assistência ao parto normal: um guia prático - Relatório de um grupo técnico. Genebra: OMS; 1996.

Oliveira M, Ferreira M, Azevedo MJ, Machado JF. Santos PC Pelvic floor muscle training protocol for stress urinary incontinence in women: A systematic review Rev. Assoc. Med. Bras. São Paulo, 2017 July; 63(7)

PERGIALIOTIS, V.; VLACHOS, D.; PROTOPAPAS, A.; PAPPA, K.; VLACHOS, G. Risk factors for severe perineal lacerations during childbirth. Int J Gynaecol Obstet . Ireland, v.125, n.1, p.6-14, Apr. 2014.