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Paola Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Entenda o erro de quem treina e mesmo assim sente o ombro fraco e instável

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

29/06/2021 04h00

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Você sabia que a dor no ombro corresponde a até 27% dos incômodos relatados pela população? Para falarmos sobre sua importância na rotina, basta pensar em quais momentos do dia você precisa movimentar o ombro.

Com certeza, você pensou em momentos que vão desde se trocar pela manhã, lavar os cabelos, cozinhar... Sim, o ombro é uma parte do corpo que usamos para praticamente tudo e a limitação em fazer os seus movimentos atrapalha a rotina de forma considerável, impedindo tarefas simples do dia a dia.

O ombro é uma das articulações mais móveis do corpo humano. Para se ter ideia, é onde 45% dos casos de luxação ocorrem, sendo que há ainda os casos de subluxação, e há quem sinta de forma recorrente que o ombro é instável "solto, frouxo". E, se esse for seu caso, mais um motivo da importância em garantir sua estabilidade.

Pense que para se ter a estabilidade, as estruturas responsáveis pela articulação do ombro como os ligamentos, a cavidade glenoidal, a cápsula articular, a cabeça do úmero devem estar íntegras. Além, é claro, da musculatura em torno do ombro trabalhando sempre de forma harmônica para garantir a segurança da articulação.

Por que sinto o meu ombro "solto e instável" quando movimento?

Já falei que o ombro é considerada a articulação mais instável do corpo humano e, por isso, a musculatura faz sua vez como protetora e estabilizadora.

De forma geral, grande parte das pessoas apresentam essa instabilidade de ombro por enfraquecimento da musculatura que mantém o posicionamento adequado da articulação. Há também quem apresente essa instabilidade por características como frouxidão dos ligamentos, idade e histórico de trauma e lesão em alguma das estruturas do ombro.

Vale também falar sobre quem realiza atividades com movimentação repetitiva —por exemplo, se na rotina você fica continuamente tendo que pegar e sustentar uma caixa acima da linha dos ombros ou até se todos os dias você abre um armário para retirar algo pesado de forma recorrente, você está gerando sobrecargas na articulação que podem, sim, lesionar a longo prazo.

E não é apenas nesses momentos que estamos mais no automático do dia a dia que as lesões podem ocorrer. É bastante comum as lesões ocorrerem com quem treina errado, abusa da carga e realiza movimentos errados sem orientação adequada.

Por isso, como profissional de educação física, reforço a importância de treinar sempre com exercícios prescritos individualmente de acordo com sua necessidade.

Mas não se engane, não é só para quem irá carregar uma caixa ou um peso extra que fica evidente a sobrecarga, já que ela também existe em tarefas consideradas simples e leves como escrever na lousa como no caso dos professores.

Se preciso de força muscular, por que mesmo quem é forte pode sentir o ombro assim?

Primeiro, não podemos confundir a força com o volume e massa muscular —vulgo a aparência de "fortinho". Vimos nesse ano um crossfiteiro do BBB lesionando o ombro ao vivo para todo Brasil.

Cada caso é um caso, mas a cena gerou dúvidas de como ocorre a lesão, se a pessoa é forte (o músculo está aparentemente desenhado) e não houve um trauma para a instabilidade do ombro acontecer.

Vale dizer que temos composições de músculos distintos e antes de se trabalhar a musculatura mais superficial e aparente é preciso focar na musculatura que, de fato, estabiliza o ombro.

Inclusive o excesso de treino em musculaturas de fibras musculares que garantem potência pode ser causador desse desequilíbrio e lesionar. Por isso, o foco é você prevenir essa sensação de instabilidade e qualquer possível lesão.

Veja o que diz o personal trainer Rodrigo Kenzo, da Clínica La Posture: "Podemos prevenir através de um trabalho bem feito em academia mesmo. Os exercícios com foco em estabilização do ombro devem ser os passos iniciais, já que se o ombro não está estável e colocamos uma sobrecarga acima do normal e da demanda possível daquele aluno, pode-se alterar inclusive seu posicionamento anatômico normal. O trabalho pode ser feito em conjunto entre o personal e o fisioterapeuta desse aluno e se tornar ainda mais completo".

Agora, caso você já tenha um caso mais avançado, lembre-se que dores ou até restrição de movimentação do ombro, são sinais claros que você deve procurar por tratamento, já que quanto mais precoce a intervenção médica e fisioterapêutica for feita, melhor o seu prognóstico.

*Colaboração Renata Luri, fisioterapeuta doutorada pela Unifesp e Rodrigo Kenzo, educador físico e gestor do Personal La Posture

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