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Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O seu períneo também se cansa; entenda a fadiga nessa região

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

23/06/2021 04h00

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Certamente você já teve a sensação de fadiga no corpo e dor muscular tardia após um exercício mais intenso, principalmente quando está sedentário ou quando a intensidade e frequência de treino mudam. Saiba que a fadiga pode acometer desde seu quadríceps e bíceps até seus músculos do assoalho pélvico.

É isso mesmo. Assim como qualquer outro músculo, com o períneo não é diferente, ele também pode entrar em fadiga por não ser frequentemente treinado.

Como saber se meu períneo está fadigado?

Ao contrário do que você pode imaginar, os músculos do períneo não ficam doloridos como outros músculos do corpo. Mas dependendo da frequência e da quantidade de exercícios específicos realizados, eles podem, sim, perder a força de contração e o controle motor.

E o sinal de alerta pode acontecer nesse momento, já que outros músculos como glúteos, adutores e abdutores de quadril (bumbum, interno e lateral de quadril) passam a contrair e entram em ação, dando a falsa impressão de que há o super fortalecimento do períneo, quando na realidade não há.

Por isso, fique atento se está realmente realizando corretamente os exercícios específicos para seu assoalho pélvico.

Como não me enganar ao exercitar o períneo

Se os músculos entrarem em fadiga significa que você se esforçou demais e há a necessidade deles se recuperarem e se adequarem antes de dar continuidade.

Lembre-se que os músculos do períneo são pequenos e não há como compará-los com o quadríceps ou mesmo com os exercícios que fazemos com o glúteo na academia.

Um outro sinal que pode ocorrer é a sensação de queimação. Mas cuidado: observe se essa sensação é frequente e se ela ocorre após os exercícios.

Caso contrário, procure sempre um especialista para avaliar e orientar os seus exercícios. Exercícios realizados de forma incorreta por falta de força adequada e sem respeitar o ritmo do corpo predispõem a infecções e hipertrofia muscular.

Falando em infecções

A geração mais velha pode ter usado mais essa prática: "Enquanto faz o xixi, segura e solta, segura e solta —isso ajuda a fortalecer o períneo".

O problema é que usar essa prática enquanto se faz xixi aumenta a chance de infecção urinária. Imagine a cena: o xixi literalmente ao invés de sair de forma natural, é forçado a fazer o caminho inverso e há o risco de permanecer resíduos da urina que irão predispor a infecções urinárias.

Apenas saiba que não se deve fazer isso! Você até pode pensar no movimento como uma analogia e se imaginar contraindo enquanto faz seus exercícios para mais consciência corporal mas nunca o faça durante o xixi, hein?!

Sempre qualquer exercício para essa região deve ser feito sob supervisão —principalmente porque há casos que não se indica fortalecer, e, sim, relaxar o períneo.

Por que eu faria exercícios de força para o períneo?

Os músculos do períneo são importantes para as mulheres, pois são os responsáveis por suportar todo o peso dos órgãos formando um assoalho de sustentação, por isso ele também é chamado de assoalho pélvico.

Esses músculos são os responsáveis pela continência urinária, fecal e pela função sexual. Agora, imagine o quanto ele é sobrecarregado ao longo da vida. O peso abdominal principalmente durante a gestação e também em mulheres com sobrepeso aumentam ainda mais a sua sobrecarga.

O fato é que não enxergamos a falta de força e condicionamento do períneo como em outros músculos do corpo, e por isso negligenciamos essa musculatura.

No geral, pouco se fala sobre vagina, períneo, saúde da mulher —seja por tabu ou por falta de informação mesmo. As mulheres pouco pensam em fortalecer essa região como um preventivo e, geralmente, as atenções se voltam apenas quando a mulher já está acometida por alguma disfunção, isso é, quando os músculos já não cumprem seu papel como em casos de incontinência urinária, incontinência fecal, flacidez (flatos vaginais) ou dor na região perineal.

Antes de iniciar o fortalecimento é preciso avaliar?

Os músculos do períneo possuem dois tipos de fibras musculares, uma que mantém o tônus muscular de sustentação e outra de contração. É preciso saber qual tipo de fibra fortalecer.

Juliana Satake, fisioterapeuta pela Unifesp e especialista em saúde da mulher pela Unicamp, explica: "O erro comum é que muitas mulheres iniciam o fortalecimento sem o conhecimento dos músculos que devem trabalhar. Quando há aumento de tônus muscular causado por tensão excessiva (trauma ou rigidez), apesar de estarem aparentemente no máximo de sua capacidade contrátil, os músculos podem não ter força suficiente para resistir a uma carga mínima —por exemplo, na tosse, espirro ou até ao rir. Nestes casos, trabalhar o fortalecimento das forças de contração rápida, que aumentam a atividade de contração e não trabalhar com exercícios de resistência que aumentam o endurance."

O exame físico é realizado por fisioterapeutas especialistas na área de saúde da mulher, e é importante avaliar o grau de contração muscular, percepção do tônus, controle, coordenação, força e resistência.

Apesar de serem aparentemente simples, os exercícios precisam ser feitos sob acompanhamento, para que se possa avaliar se a mulher apresenta uma fraqueza perineal ou uma rigidez, já que em cada caso as técnicas são realizadas de forma distinta.

Como disse anteriormente, em casos de fraqueza, o trabalho será de fato o de fortalecer, já em casos de rigidez, aí o trabalho será o de relaxar a musculatura.

Além disso, existem situações em que será necessário inserir o tratamento com os dois tipos de exercícios. Lembre-se que cuidar do períneo não tem a ver apenas com sexualidade e pompoarismo —como tem sido associado a imagem dos exercícios para períneo e, sim, com a saúde feminina de forma geral, englobando toda a qualidade de vida dessa mulher que pode ou não ser sexualmente ativa.

Todas as mulheres deveriam ter acesso à informação para poderem se cuidar melhor, e esse conhecimento pode ser um primeiro passo para buscar tratamento adequado.

*Colaboração Renata Luri, fisioterapeuta doutora pela Unifesp da Clínica La Posture e Angela May, fisioterapeuta especializada em saúde da mulher da Clínica La Posture.

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