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Paola Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

"A culpa da minha barriga é da genética": não é bem assim; entenda por quê

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

17/03/2021 04h00

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"Minha genética é ruim e na minha família todos têm gordura na região da barriga".

Estudos apontam que a distribuição de gordura no corpo tem, sim, grande influência determinada pela genética. Mas nada de síndrome de Gabriela nesse quesito, acreditando que isso irá definir para sempre seu shape e sua saúde.

A boa notícia da ciência é que estudos comprovam que a gordura localizada no abdome responde positivamente a mudanças em hábitos comportamentais e estratégias para perda de gordura corporal da mesma forma que é influenciada pela genética.

Isso é, acredite, todos nós temos potencial de ter uma barriga tanquinho, mas cada um de nós terá que fazer um esforço diferente para atingir esse objetivo!

Já abordei com vocês que de um ponto de vista estético o músculo do abdome só não aparece quando há acúmulo de tecido adiposo —vulgo, a capinha de gordura— portanto, é de extrema importância a redução da gordura na região para mostrar a definição do seu "tanquinho".

Nesse texto de hoje iremos abordar o tema para além da questão visual e salientar o impacto negativo da concentração de gordura nessa região.

A concentração pode ser maior de gordura superficial, a subcutânea, ou de gordura visceral, aquela mais profunda ao redor dos órgãos internos, altamente inflamatória e que se relaciona à doenças crônicas, como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, e até à mortalidade.

E atenção, ao contrário do que muitos podem pensar, essa gordura pode estar presente inclusive em pessoas consideradas falsas magras.

Hábitos alimentares influenciam ainda mais esse estado inflamatório de forma crônica dentro do corpo, aumentando os riscos do desenvolvimento de doenças. Um estudo recente aponta que o consumo de bebida açucarada, carne vermelha, processados e carboidratos refinados aumenta o risco de desenvolver doenças cardiovasculares se comparado ao consumo de alimentos que combatem a inflamação crônica.

Além do papel da nutrição no desenvolvimento de doenças, vale ressaltar que há estudos apontando o papel da sua dieta ajudando ou prejudicando o tratamento e prevenção de dores no corpo. Isso é, médicos e fisioterapeutas têm cada vez mais evidências de que é preciso uma mudança no estilo de vida de forma ampla para se tratar de forma eficaz as dores crônicas.

Passo a passo do que fazer:

  1. Tenha uma dieta saudável, incorporando proteínas magras, frutas, vegetais e grãos inteiros. O nutricionista é fundamental para mais orientações sobre o tema.

  2. Faça atividade física orientada! O exercício físico é capaz de estimular a liberação de citocinas anti-inflamatórias, ou seja, substâncias capazes de reequilibrar o perfil inflamatório, reduzir o percentual de gordura abdominal, aumentar o percentual de massa muscular e, consequentemente, o metabolismo. Consulte um profissional de educação física e fisioterapeuta.

  3. Durma bem. A redução persistente da duração do sono pode levar ao aumento de risco de problemas crônicos, como doenças cardiovasculares e síndromes metabólicas. Já falei sobre o tema e dei dicas práticas.

  4. Menos estresse! O estresse se relaciona com a liberação do hormônio cortisol, ligado ao ganho de peso abdominal. A respiração é uma boa maneira de controlá-lo.

Sabemos que mudanças de hábitos, em especial na alimentação e na inserção de exercícios, bem como no tratamento de dores que são crônicas, dependem de vários fatores e há vieses que dificultam as mudanças de forma efetiva.

Qualquer mudança exige paciência, esforço e uma dose de motivação para você se manter em "tratamento". Caso tenha dificuldades em começar algum tipo de mudança, faça aos poucos, foque nessa mudança como um remédio para tratar seu corpo.

Invista em sua saúde e procure sempre por diferentes profissionais de saúde para maior respaldo na mudança do seu estilo de vida.

*Colaboração de Rodrigo Kenzo Kawabata, profissional de educação física, sócio do Personal La Posture; Juliana Satake, fisioterapeuta sócia da Clínica La Posture; e Renata Luri, doutorada pela Griffith University

Referências:

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