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Paola Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Hipoxemia: quais as causas e os sinais do baixo nível de oxigênio no sangue

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Colunista do VivaBem

02/03/2021 04h00

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As células do nosso corpo precisam de oxigênio —que chegam até elas pelo fluxo sanguíneo— para viver e realizar seu trabalho adequadamente. Entretanto, em uma condição chamada hipoxemia, o nível de oxigênio circulante pode cair abaixo dos valores considerados normais —condições mais leves ou mais graves.

Ela pode ser causada por diversas condições, incluindo asma, pneumonia, anemia, problemas cardíacos, enfisema, bronquite, apneia e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Hipoxia é diferente de hipoxemia

Recentemente, escutamos falar bastante da hipoxia, que pode ocorrer em pessoas com covid-19. Enquanto a hipoxia se refere a baixos níveis de oxigênio nos tecidos do corpo, a hipoxemia se refere a baixos níveis de oxigênio no sangue. Os dois problemas podem, às vezes, ocorrer juntos.

Geralmente, a presença de hipoxemia sugere hipoxia. Isso faz sentido porque, se os níveis de oxigênio estiverem baixos no sangue, os tecidos do corpo provavelmente também não estão recebendo oxigênio suficiente.

Tipos de hipoxemia

Há vários tipos diferentes de hipoxemia e o tipo depende do mecanismo pelo qual os níveis de oxigênio no sangue são reduzidos.

- Razão ventilação/ perfusão (V/Q) incompatível Este é o tipo mais comum de hipoxemia. A ventilação se refere ao suprimento de oxigênio nos pulmões (entrada e saída de ar nos pulmões), enquanto a perfusão se refere ao suprimento de sangue aos pulmões —mecanismo que bombeia sangue nos pulmões. A ventilação e a perfusão são medidas em uma razão, chamada de razão V/Q. Normalmente, há um pequeno grau de incompatibilidade nesta proporção, no entanto, se a incompatibilidade se tornar muito grande —os pulmões estão recebendo oxigênio suficiente, mas não há fluxo sanguíneo suficiente (razão aumentada); ou há fluxo sanguíneo para os pulmões, mas não há oxigênio suficiente (razão diminuída)—, pode ocorrer problemas.

- Shuntagem/shunt pulmonar (derivação) O shunt pulmonar é um desequilíbrio entre a perfusão sanguínea e a ventilação, acarretando uma alteração nas trocas gasosas, tão importantes para nosso organismo O efeito shunt acontece quando essa relação está desequilibrada e a perfusão excede a ventilação, causando hipoxemia, que é a insuficiência de oxigênio no sangue.

- Difusão comprometida Quando o oxigênio entra nos pulmões, ele preenche os alvéolos, que têm minúsculos vasos sanguíneos —capilares. O oxigênio se difunde dos alvéolos para o sangue, que corre através dos capilares. Nesse tipo de hipoxemia, a difusão do oxigênio na corrente sanguínea é prejudicada.

- Hipoventilação Ocorre quando a ventilação é inadequada para realizar a troca de gases nos pulmões. Isso pode resultar em níveis mais elevados de dióxido de carbono no sangue e níveis mais baixos de oxigênio. Aqui também pode ocorrer a hipoxia, quando os tecidos não recebem ou não podem utilizar o oxigênio em quantidade suficiente para suas atividades metabólicas normais.

- Baixa disponibilidade de oxigênio ambiente Esse tipo de hipoxemia geralmente ocorre em altitudes mais elevadas. O oxigênio disponível no ar diminui com o aumento da altitude.

- Hipoxemia arterial induzida pelo exercício (HIE) De acordo com McArdle, "para atletas de endurance, o sistema pulmonar fica atrás de suas excepcionais adaptações cardiovasculares e musculares aeróbicas ao treinamento. O potencial para uma possível desigualdade na ventilação alveolar em relação ao fluxo sanguíneo dos capilares pulmonares (razão V/Q) durante o exercício de alta intensidade pode comprometer a saturação arterial e a capacidade de transportar oxigênio. Esse tipo de hipoxemia é variável, ocorrendo, às vezes, com níveis de exercício apenas a 40% do VO2máx. (volume de oxigênio máximo). Alguns atletas não conseguem aeração completa do sangue nos capilares durante o exercício de alta intensidade, nessa situação, a desnaturação arterial torna-se mais evidente a medida que a duração do exercício progride".

Neste último, as possíveis causas funcionais para a dessaturação arterial incluem "desigualdade na razão V/Q dentro dos pulmões, derivação ou shuntagem, incapacidade de alcançar o equilíbrio capilar entre pressão do oxigênio alveolar e a pressão de oxigênio no sangue que perfunde os capilares pulmonares".

Sinais de hipoxemia

Um dos sintomas mais comuns de falta de oxigênio no sangue é a falta de ar. Outros sintomas incluem dor de cabeça, tontura, respiração rápida, ansiedade e batimento cardíaco lento, mesmo em pessoas que são muito saudáveis. A pele, lábios e unhas também podem ficar azulados.

Pessoas com problemas médicos, como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e insuficiência cardíaca também podem sentir dor no peito, confusão e fala arrastada quando têm um episódio de hipoxemia.

Se sentir falta de ar sem motivo aparente, consulte um médico. Uma das maneiras para a detecção do problema é a oximetria, exame que mede a saturação de oxigênio no sangue —feita com que é aquele sensor que colocamos no dedo (foto no início do texto).

Em indivíduos normais, essa saturação varia de 95% a 100%. Em condições leves, como gripes ou resfriados, a saturação pode ficar entre 90% e os 95%. Saturação com valores inferiores a 90% pode indicar redução da oferta de oxigênio no corpo pela presença de alguma doença mais grave. Dentre outras avaliações estão as análises clínicas, teste de gasometria arterial e de função pulmonar para tratamento adequado.

Cuidados para diminuir o risco de problemas

Se você tem tendência a ter falta de ar devido à hipoxemia, é importante tomar medidas para diminuir o risco.

  • Se você fuma, procure parar de fumar. Se você tiver qualquer doença pulmonar ou dificuldade para respirar, não deve fumar.
  • Evite o fumo passivo. Quando seus pulmões estão comprometidos, apenas estar perto da fumaça pode causar danos. Mantenha-se distante de pessoas que fumam.
  • Inserir na rotina exercícios de respiração profunda.
  • Manter uma alimentação saudável, a fim de aportar a quantidade suficiente de nutrientes para organismo e controlar o peso.
  • Beber água frequentemente.
  • Realizar exercícios* leves para melhorar o condicionamento cardiorespiratório.

*Vale lembrar que a prática esportiva deve ser avaliada e liberada por um médico, já que o exercício é um componente essencial da reabilitação pulmonar e está associado à melhora da função e a outros resultados importantes em pessoas com doença pulmonar crônica. Entretanto, estudos mostram que um subconjunto de pacientes em reabilitação pulmonar apresenta hipoxemia que pode ocorrer ou piorar com o exercício.

Referências:

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