Topo

Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Para quem quer emagrecer, é uma boa trocar refrigerante normal pelo zero?

iStock
Imagem: iStock

Colunista do UOL

12/02/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Nos grupos de mudança de hábito que desenvolvi, nos atendimentos individuais na clínica e nas redes sociais, sempre recebo a seguinte pergunta: "Troquei o refrigerante normal pelo zero (ou diet). Tomar regularmente esse tipo de bebida atrapalha o emagrecimento? Faz mal à saúde?".

Não é novidade que os refrigerantes sem açúcar são populares em todo o mundo, especialmente entre as pessoas que desejam reduzir a ingestão de açúcar ou de calorias para perder peso. Mas, apesar de isentas de açúcar e/ou calorias, os efeitos de bebidas dietéticas no organismo ainda precisam de muitos estudos experimentais em humanos.

Basicamente, essas bebidas são uma mistura de água com gás, adoçantes artificiais, corantes artificiais, aromas artificiais e outros aditivos químicos artificiais. Aqui, fiz questão de repetir a palavra artificial só para você ter uma ideia de como qualquer refrigerante é ruim, geralmente sem nenhum nutriente importante à saúde.

Estudos com refrigerantes zero/diet e perda de peso são um tanto quanto escassos e até conflitantes. Como são bebidas que não costumam ter calorias, seria natural presumir que elas auxiliariam na perda de peso. No entanto, pesquisas sugerem que a associação pode não ser tão direta.

Pesquisas observacionais descobriram que uma grande ingestão de adoçantes artificiais, como os presentes nos refrigerantes zero, está associada a um risco maior de obesidade e síndrome metabólica.

Os pesquisadores concluíram que o refrigerante diet/zero pode estimular os hormônios da fome e aumentar o apetite, por alterar os receptores do sabor doce no cérebro e desencadear respostas de dopamina (neurotransmissor associado ao prazer). Explicando de uma forma bem básica, ao sentir o sabor doce do refrigerante zero, o organismo fica esperando uma grande porção de glicose (energia/calorias) e o "prazer" que viriam ao consumir açúcar. Mas, como isso nunca chega, pode gerar respostas no corpo para estimular uma ingestão maior de alimentos doces ou com alto teor calórico, resultando em ganho de peso. No entanto, as evidências disso não são tão consistentes em estudos com humanos.

Outra hipótese para explicar por que em vários estudos o consumo de refrigerante zero foi associado ao ganho de peso é que pessoas que consumem muito refrigerante (normal ou zero) tendem a ter hábitos alimentares ruins e aumento do peso é consequência de uma dieta ruim em geral, não só do refrigerante.

Prejuízos à saúde

Falando só do quanto a ingestão regular de refrigerantes zero pode fazer mal à saúde, o consumo da bebida já foi associado em alguns estudos a um maior risco de ter diabetes e doenças cardíacas, como infarto e hipertensão.

Um estudo com 64.850 mulheres, por exemplo, observou que o consumo de bebidas adoçadas artificialmente estava associado a um risco 21% maior de desenvolver diabetes tipo 2, em comparação a quem não ingere nenhum tipo de refrigerante. No entanto, o aumento no risco de quem tomou o refrigerante zero foi metade do de quem tomou refrigerante normal.

Já uma revisão de quatro estudos incluindo 227.254 pessoas observou que, para cada porção de bebida adoçada artificialmente por dia, há um aumento de 9% no risco de ter pressão alta. Outros estudos encontraram resultados semelhantes.

Como a maioria dos estudos foi observacional, pode ser que a associação pudesse ser explicada de outra forma. É possível que pessoas que já estavam em risco de diabetes e pressão alta, por comerem mal ou estar acima do peso, optaram por beber mais refrigerante diet. Por isso, mais pesquisas experimentais diretas são necessárias para determinar se existe alguma relação causal verdadeira entre refrigerante diet e aumento de açúcar no sangue ou pressão arterial.

E os problemas relacionados à saúde não param por aí. Há pesquisas que associam o consumo de refrigerante a um maior risco de desenvolver doença renal —provavelmente porque o alto teor de fósforo na bebida sobrecarrega os rins— e até com o aumento de 11% no risco de ter parto prematuro e de obesidade infantil.

Vale ou não trocar o refri zero pelo normal?

Como você viu, o consumo regular de refrigerante zero (assim como o normal) faz mal à saúde. A melhor opção, então, seria cortar ou reduzir significativamente a ingestão dessas bebidas —limitar a uma ou duas vezes por mês, por exemplo. No entanto, se pensarmos em uma pessoa que está acima do peso, tem hábitos alimentares ruins e quer mudar o estilo de vida, trocar o refrigerante normal pelo zero pode ser um primeiro passo para reduzir a ingestão calórica e de açúcar e iniciar a mudança.

No entanto, para emagrecer, é preciso que essa troca do refrigerante normal pelo zero venha acompanhada de uma alimentação saudável e também que a pessoa se planeje para, após algum tempo, acabar de vez com o hábito de tomar refrigerante. Pondere sempre o consumo e coloque na balança o que, de fato, vale a pena para sua vida e saúde.

Referências:

Fowler SP, Williams K, Hazuda HP. Diet soda intake is associated with long-term increases in waist circumference in a biethnic cohort of older adults: the San Antonio Longitudinal Study of Aging. J Am Geriatr Soc. 2015 Apr;63(4):708-15. doi: 10.1111/jgs.13376. Epub 2015 Mar 17. PMID: 25780952; PMCID: PMC4498394.

Ferreira-Pêgo C, Babio N, Bes-Rastrollo M, Corella D, Estruch R, Ros E, Fitó M, Serra-Majem L, Arós F, Fiol M, Santos-Lozano JM, Muñoz-Bravo C, Pintó X, Ruiz-Canela M, Salas-Salvadó J; PREDIMED Investigators. Frequent Consumption of Sugar- and Artificially Sweetened Beverages and Natural and Bottled Fruit Juices Is Associated with an Increased Risk of Metabolic Syndrome in a Mediterranean Population at High Cardiovascular Disease Risk. J Nutr. 2016 Aug;146(8):1528-36. doi: 10.3945/jn.116.230367. Epub 2016 Jun 29. PMID: 27358413.

Crichton G, Alkerwi A, Elias M. Diet Soft Drink Consumption is Associated with the Metabolic Syndrome: A Two Sample Comparison. Nutrients. 2015 May 13;7(5):3569-86. doi: 10.3390/nu7053569. PMID: 25984744; PMCID: PMC4446768.

Narain A, Kwok CS, Mamas MA. Soft drink intake and the risk of metabolic syndrome: A systematic review and meta-analysis. Int J Clin Pract. 2017 Feb;71(2). doi: 10.1111/ijcp.12927. Epub 2017 Jan 10. PMID: 28074617.

Renwick AG, Molinary SV. Sweet-taste receptors, low-energy sweeteners, glucose absorption and insulin release. Br J Nutr. 2010 Nov;104(10):1415-20. doi: 10.1017/S0007114510002540. Epub 2010 Jul 12. PMID: 20619074.

Eweis DS, Abed F, Stiban J. Carbon dioxide in carbonated beverages induces ghrelin release and increased food consumption in male rats: Implications on the onset of obesity. Obesity Research & Clinical Practice. Volume 11, Issue 5, 2017, Pages 534-543, ISSN 1871-403X. https://doi.org/10.1016/j.orcp.2017.02.001.

de Ruyter JC, Katan MB, Kuijper LD, Liem DG, Olthof MR. The effect of sugar-free versus sugar-sweetened beverages on satiety, liking and wanting: an 18 month randomized double-blind trial in children. PLoS One. 2013 Oct 22;8(10):e78039. doi: 10.1371/journal.pone.0078039. PMID: 24167595; PMCID: PMC3805601.

Green E, Murphy C. Altered processing of sweet taste in the brain of diet soda drinkers. Physiology & Behavior. Volume 107, Issue 4. 2012. Pages 560-567. ISSN 0031-9384. https://doi.org/10.1016/j.physbeh.2012.05.006.

Yantis MA, Hunter K. Is diet soda a healthy choice? Nursing. 2010 Nov;40(11):67. doi: 10.1097/01.NURSE.0000389036.71877.61. PMID: 20975439.

Hill SE, Prokosch ML, Morin A, Rodeheffer CD. The effect of non-caloric sweeteners on cognition, choice, and post-consumption satisfaction. Appetite. 2014 Dec;83:82-8. doi: 10.1016/j.appet.2014.08.003. Epub 2014 Aug 13. PMID: 25128835.

Pereira MA. Sugar-sweetened and artificially-sweetened beverages in relation to obesity risk. Adv Nutr. 2014 Nov 14;5(6):797-808. doi: 10.3945/an.114.007062. PMID: 25398745; PMCID: PMC4224219.

Fowler SP, Williams K, Resendez RG, Hunt KJ, Hazuda HP, Stern MP. Fueling the obesity epidemic? Artificially sweetened beverage use and long-term weight gain. Obesity (Silver Spring). 2008 Aug;16(8):1894-900. doi: 10.1038/oby.2008.284. Epub 2008 Jun 5. PMID: 18535548.

Imamura F, O'Connor L, Ye Z, Mursu J, Hayashino Y, Bhupathiraju SN, Forouhi NG. Consumption of sugar sweetened beverages, artificially sweetened beverages, and fruit juice and incidence of type 2 diabetes: systematic review, meta-analysis, and estimation of population attributable fraction. BMJ. 2015 Jul 21;351:h3576. doi: 10.1136/bmj.h3576. PMID: 26199070; PMCID: PMC4510779.

Greenwood DC, Threapleton DE, Evans CE, Cleghorn CL, Nykjaer C, Woodhead C, Burley VJ. Association between sugar-sweetened and artificially sweetened soft drinks and type 2 diabetes: systematic review and dose-response meta-analysis of prospective studies. Br J Nutr. 2014 Sep 14;112(5):725-34. doi: 10.1017/S0007114514001329. Epub 2014 Jun 16. PMID: 24932880.

Huang M, Quddus A, Stinson L, Shikany JM, Howard BV, Kutob RM, Lu B, Manson JE, Eaton CB. Artificially sweetened beverages, sugar-sweetened beverages, plain water, and incident diabetes mellitus in postmenopausal women: the prospective Women's Health Initiative observational study. Am J Clin Nutr. 2017 Aug;106(2):614-622. doi: 10.3945/ajcn.116.145391. Epub 2017 Jun 28. PMID: 28659294; PMCID: PMC5525115.

Sakurai M, Nakamura K, Miura K, Takamura T, Yoshita K, Nagasawa SY, Morikawa Y, Ishizaki M, Kido T, Naruse Y, Suwazono Y, Sasaki S, Nakagawa H. Sugar-sweetened beverage and diet soda consumption and the 7-year risk for type 2 diabetes mellitus in middle-aged Japanese men. Eur J Nutr. 2014 Feb;53(1):251-8. doi: 10.1007/s00394-013-0523-9. Epub 2013 Apr 11. PMID: 23575771.

Guy Fagherazzi, Alice Vilier, Daniela Saes Sartorelli, Martin Lajous, Beverley Balkau, Françoise Clavel-Chapelon, Consumption of artificially and sugar-sweetened beverages and incident type 2 diabetes in the Etude Epidémiologique auprès des femmes de la Mutuelle Générale de l'Education Nationale-European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition cohort, The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 97, Issue 3, March 2013, Pages 517-523, https://doi.org/10.3945/ajcn.112.050997

Nettleton JA, Lutsey PL, Wang Y, Lima JA, Michos ED, Jacobs DR Jr. Diet soda intake and risk of incident metabolic syndrome and type 2 diabetes in the Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis (MESA). Diabetes Care. 2009 Apr;32(4):688-94. doi: 10.2337/dc08-1799. Epub 2009 Jan 16. PMID: 19151203; PMCID: PMC2660468.

Kim Y, Je Y. Prospective association of sugar-sweetened and artificially sweetened beverage intake with risk of hypertension. Arch Cardiovasc Dis. 2016 Apr;109(4):242-53. doi: 10.1016/j.acvd.2015.10.005. Epub 2016 Jan 19. PMID: 26869455.

Cheungpasitporn W, Thongprayoon C, Edmonds PJ, Srivali N, Ungprasert P, Kittanamongkolchai W, Erickson SB. Sugar and artificially sweetened soda consumption linked to hypertension: a systematic review and meta-analysis. Clin Exp Hypertens. 2015;37(7):587-93. doi: 10.3109/10641963.2015.1026044. Epub 2015 Jun 26. PMID: 26114357.

Cohen L, Curhan G, Forman J. Association of sweetened beverage intake with incident hypertension. J Gen Intern Med. 2012 Sep;27(9):1127-34. doi: 10.1007/s11606-012-2069-6. Epub 2012 Apr 27. PMID: 22539069; PMCID: PMC3515007.

Rebholz CM, Grams ME, Steffen LM, Crews DC, Anderson CA, Bazzano LA, Coresh J, Appel LJ. Diet Soda Consumption and Risk of Incident End Stage Renal Disease. Clin J Am Soc Nephrol. 2017 Jan 6;12(1):79-86. doi: 10.2215/CJN.03390316. Epub 2016 Oct 26. PMID: 27797893; PMCID: PMC5220651.

Banerjee T, Crews DC, Wesson DE, Tilea A, Saran R, Rios Burrows N, Williams DE, Powe NR; Centers for Disease Control and Prevention Chronic Kidney Disease Surveillance Team. Dietary acid load and chronic kidney disease among adults in the United States. BMC Nephrol. 2014 Aug 24;15:137. doi: 10.1186/1471-2369-15-137. PMID: 25151260; PMCID: PMC4151375.

Karalius VP, Shoham DA. Dietary sugar and artificial sweetener intake and chronic kidney disease: a review. Adv Chronic Kidney Dis. 2013 Mar;20(2):157-64. doi: 10.1053/j.ackd.2012.12.005. PMID: 23439375.

Azad MB, Sharma AK, de Souza RJ, Dolinsky VW, Becker AB, Mandhane PJ, Turvey SE, Subbarao P, Lefebvre DL, Sears MR; Canadian Healthy Infant Longitudinal Development Study Investigators. Association Between Artificially Sweetened Beverage Consumption During Pregnancy and Infant Body Mass Index. JAMA Pediatr. 2016 Jul 1;170(7):662-70. doi: 10.1001/jamapediatrics.2016.0301. PMID: 27159792.

Petherick ES, Goran MI, Wright J. Relationship between artificially sweetened and sugar-sweetened cola beverage consumption during pregnancy and preterm delivery in a multi-ethnic cohort: analysis of the Born in Bradford cohort study. Eur J Clin Nutr. 2014 Mar;68(3):404-7. doi: 10.1038/ejcn.2013.267. Epub 2014 Jan 8. PMID: 24398641.

Halldorsson TI, Strøm M, Petersen SB, Olsen SF. Intake of artificially sweetened soft drinks and risk of preterm delivery: a prospective cohort study in 59,334 Danish pregnant women. Am J Clin Nutr. 2010 Sep;92(3):626-33. doi: 10.3945/ajcn.2009.28968. Epub 2010 Jun 30. PMID: 20592133.

Englund-Ögge L, Brantsæter AL, Haugen M, Sengpiel V, Khatibi A, Myhre R, Myking S, Meltzer HM, Kacerovsky M, Nilsen RM, Jacobsson B. Association between intake of artificially sweetened and sugar-sweetened beverages and preterm delivery: a large prospective cohort study. Am J Clin Nutr. 2012 Sep;96(3):552-9. doi: 10.3945/ajcn.111.031567. Epub 2012 Aug 1. PMID: 22854404; PMCID: PMC3417215.

Ferraro PM, Taylor EN, Gambaro G, Curhan GC. Soda and other beverages and the risk of kidney stones. Clin J Am Soc Nephrol. 2013 Aug;8(8):1389-95. doi: 10.2215/CJN.11661112. Epub 2013 May 15. PMID: 23676355; PMCID: PMC3731916.