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Paola Machado

Por que às vezes o músculo treme após nos exercitarmos?

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Colunista do UOL

18/12/2020 08h05

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Após um treino mais intenso, é normal sentir-se trêmulo ou mesmo sentir o que chamamos de espasmos musculares, ou seja, aqueles "tremeliques" ou "saltitos" que os músculos dão durante ou pós-treino. Na maioria das vezes, é natural que isso ocorra não sendo nada muito preocupante, porém devemos ficar atentos por quanto tempo esses tremores persistem, pois pode ser algum sinal.

As fibras musculares trabalham o dia todo auxiliando na movimentação do nosso corpo. Estudos sugerem que, quando esses músculos começam a tremer durante o exercício, pode ser por diversos fatores —desde fadiga até desidratação.

Uma pesquisa que rastreou os músculos instáveis até a exaustão ou fadiga, particularmente em exercícios que dependem da contração muscular rápida, mostrou que esses músculos são "mais inteligentes" do que parecem, dividindo a carga de trabalho entre as fibras, isto é, enquanto alguns trabalham, outros descansam, e, assim, se revezam. Mas, à medida que eles são desafiados, essa "troca de trabalho" pode ficar um pouco irregular, fazendo com que os músculos percam seu movimento constante, surgindo os sinais de tremores.

Outro fator pode ser a resistência muscular, pois se as fibras não se recuperaram completamente após o treino, os músculos são forçados a trabalhar mais do que o normal para acompanhar. Além disso, temos a desidratação, que faz com que os eletrólitos se desequilibrem e, dessa forma, o tecido conjuntivo tem problemas para realizar seu trabalho de forma efetiva —incluindo a transmissão de sinais do cérebro para as fibras musculares. Com uma mensagem distorcida sobre quando contrair, a sequência de disparo pode ficar alterada/desordenada.

Como notaram, existem várias causas possíveis para os tremores após o exercício, sendo que, na maioria dos casos, o tremor pós-treino não é sério, porém se você notar agitação prolongada, dificuldade ao respirar, tontura, vômitos ou desmaios, procure ajuda médica.

  • Fadiga muscular: A fadiga pode ser definida como o conjunto de manifestações produzidas por trabalho ou exercício prolongado, tendo como consequência a diminuição da capacidade funcional de manter ou continuar o rendimento esperado. A fadiga é também definida como uma falha para manter uma força requerida ou esperada. Além disso, a fadiga é um dos sintomas mais incapacitantes, tendo caráter multifatorial, podendo ser dividida em dois componentes: fadiga periférica (física) e fadiga central (mental). No aspecto fisiológico, a fadiga física seria explicada por deficiências na liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, deficiência na síntese ou liberação de acetilcolina ou defeitos nos filamentos contráteis. Esses fatores levariam a uma menor produção de força e uma recuperação mais lenta, que seriam causadas por problemas na ativação elétrica do músculo e defeito no acoplamento excitação-contração ou no processo contrátil. Dessa forma a fadiga pode causar tremores ou espasmos. Outros sinais de fadiga muscular incluem fraqueza, dor, baixos níveis de energia. Se você tem fadiga muscular, geralmente significa que você trabalhou seus músculos ao máximo. É por isso que você tem mais probabilidade de desenvolver fadiga se tiver se desafiado com um treino mais difícil. Mas, às vezes, pode significar que você se esforçou demais. Se você estiver com dor ou não conseguir terminar o treino, tente reduzir a intensidade do seu exercício.
  • Posições isométricas: Tremores podem acontecer quando você mantém um músculo em uma posição por muito tempo. Você pode ter experimentado isso ao fazer pranchas ou um treino de barra. Isso se deve à atividade das unidades motoras. Algumas unidades motoras em seus músculos são usadas apenas para alguns movimentos e, quando você mantém o corpo em isometria, as unidades motoras dos músculos são ativadas para fornecer mais força. Isso pode resultar em tremores. Normalmente, você sentirá tremores nos músculos que estão sendo trabalhados.
  • Hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue): Seus músculos utilizam glicose como combustível e, quando você realiza exercícios, seus níveis de glicose podem se esgotar, especialmente se você se exercitar em um ritmo vigoroso ou por um longo período de tempo. Isso pode levar a um baixo nível de açúcar no sangue, também conhecido como hipoglicemia. Sem combustível suficiente, seus músculos podem começar a tremer e você também pode experimentar fadiga, fome, dor de cabeça, tontura, confusão, irritabilidade, fraqueza e taquicardia.
  • Desidratação: Manter-se hidratado é importante para manter os níveis de eletrólitos equilibrados. Os eletrólitos controlam a função de seus nervos e músculos. No entanto, dependendo da atividade física e também do nível de hidratação, você pode suar muito e perder água. O mesmo acontece se você se exercitar ao ar livre em um dia quente, pois, se você suar muito e ficar desidratado, poderá sentir espasmos musculares e cãibras. Outros sintomas de desidratação podem incluir fadiga, sede, urina escura, micção reduzida, dor de cabeça, tontura, fraqueza e confusão.
  • Alta ingestão de cafeína: Algumas pessoas --como eu -- gostam de beber café, ingerir bebidas esportivas com cafeína ou mesmo suplementos pré-treino/termogênico com cafeína. Essas bebidas que contêm cafeína podem ajudá-lo a ter disposição no treino, porém o consumo excessivo pode causar tremores afetando suas mãos ou outras partes do corpo. A ingestão excessiva de cafeína também pode causar taquicardia, tontura, insônia, náusea, diarreia e pressão arterial elevada.

Para prevenir os tremores pós-treino realize a recuperação e repouso de forma efetiva, se alimente de forma saudável (com fontes de proteínas e carboidratos), hidrate-se e realize alongamentos como treinos. Além do mais:

  1. Desafie-se gradualmente. Aumente a duração ou intensidade do seu treino aos poucos.
  2. Não esqueça de se alimentar antes e após o treino.
  3. Limite a ingestão de cafeína. Se você é sensível à cafeína, reduza ou evite antes do exercício.
  4. Aqueça e desaqueça. Antes do exercício, aqueça-se para preparar os músculos para o movimento e não pare o exercício abruptamente, desaqueça com calma.
  5. Hidrate antes, durante e após o exercício. Ingerir líquidos ao longo do dia pode ajudar a reduzir o risco de desidratação. Aumente a ingestão de líquidos se você fizer exercícios ao ar livre em climas quentes ou se fizer exercícios intensos.

Se sentir dor ou estiver com tonturas ou náuseas, suspenda o treino. Fique atento se os espasmos estiverem comprometendo seu desempenho. Não fique sem ingerir líquidos e evite exercícios de alta intensidade se estiver sem comer há muitas horas.

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