Topo

Paola Machado

Por que o metabolismo reduz conforme envelhecemos?

iStock
Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

09/10/2020 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Você provavelmente já ouviu —ou sentiu na pele— pessoas dizendo que após os 30 fica mais difícil emagrecer e o corpo muda, pois o metabolismo fica mais lento.

O que de fato acontece é que, com a idade, há diversas mudanças fisiológicas, hormonais e de composição corporal associadas a diversos fatores que podem, sim, fazer com que, quando você ganhe peso, fique cada vez mais difícil de perder. E, muitas vezes, mantendo os mesmos hábitos de sempre, é normal que essas mudanças façam com que alguém ganhe 1 kg —ou mais— por ano.

Calma! Não entre em desespero por causa desse processo natural. O que sempre reforço é que tudo tem jeito quando você se move para solucionar. Existe, sim, uma curva totalmente natural, esperada e fisiológica, porém ela não pode extrapolar para níveis patológicos, ok?

O que você precisa saber é que seu metabolismo consiste em um conjunto de processos e reações que auxiliam o seu corpo a permanecer vivo —isto é, um conjunto de reações bioquímicas que controla a síntese e a degradação de substâncias no nosso organismo. Além do mais, quanto mais rápido for seu metabolismo, mais energia você precisará.

Dessa forma, a velocidade do seu metabolismo é influenciada por alguns fatores, sendo os principais:

  • Taxa metabólica de repouso (TMB): quantidade mínima de energia que o seu corpo precisa para sobreviver enquanto você estiver parado;
  • Efeito térmico dos alimentos (ETA): energia que o organismo gasta para digerir e absorver o alimento, variando de acordo com a composição da dieta, sendo, geralmente, 10% das calorias diárias utilizadas;
  • Exercício (treino): que gera um gasto calórico durante a atividade e depois, para recuperação do organismo;
  • Termogênese de atividades sem exercício (NEAT): gasto energético em atividades do dia a dia ou em pequenos movimentos;
  • Outros fatores: idade, estatura, musculatura, hormônios, patologias e até o uso de medicamentos podem influenciar no seu metabolismo.

A redução metabólica com a idade acontece por algumas razões. Tirando a razão metabólica, vamos entender um pouco a questão emocional e da "rotulação" da idade. Muita gente é idosa, mas não está idosa. Como muita gente não é idosa, mas está idosa.

Para entenderem melhor, vou contar uma história. Uma vez recebi uma paciente de 42 anos que, por alguns problemas de saúde e pelo tipo de trabalho, teve que se aposentar e não podia mais trabalhar. Quando comecei a questionar sobre sua rotina, ela simplesmente disse: "Não vou ao trabalho, não encontro pessoas, sento na minha poltrona às 08h, levanto às 10h, vou para cama um pouco, volto para a poltrona, assisto TV e volto para cama". Sim, essa é uma história real. Mesmo fisicamente ela tendo condições de se movimentar, psicologicamente ela assumiu um rótulo de uma vida do que era estar aposentada —na visão dela.

E isso acontece com muita gente. Aquela visão do "envelheci e agora compro uma poltrona" tem que ser melhorada. Por isso você é ou está idoso? Se você é, você tem condições de se movimentar ou tem limitações? Se está tudo bem, por que você não pode continuar se movimentando?

O que precisa ficar claro é que os rótulos estão em qualquer lugar. Esses dias falei para minha mãe que passou da hora de ela treinar musculação e ela arregalou os olhos: "Musculação? É para jovem filha!" Eu disse: "Você que pensa. Agora precisa tanto quanto ou até mais que antes!!!" E ela se matriculou na academia...

Por conta de uma visão rotulada do treinamento, as pessoas costumam "inverter" totalmente a curva, ou seja, quando mais precisam do treinamento de musculação, mais ficam sentados. Quando mais precisam de musculatura, mais deixam ela para o lado.

As pesquisas apontam claramente a redução do metabolismo com a idade. Tem a parte fisiológica e esperada? Claro que tem, mas também tem a sua parte. Do que você pode fazer e do quanto a sua saúde ocupa um lugar importante na sua vida. Deve ficar claro que algumas razões para isso incluem menos atividade, redução de musculatura e envelhecimento de seus componentes internos.

Exercício é essencial

Os níveis de atividade podem afetar significativamente a velocidade de seu metabolismo. Na verdade, o exercício físico como as atividades de vida diárias podem compor cerca de 10% a 30% da energia utilizada diariamente. Para pessoas muito ativas, esse número pode chegar a 50%. Entretanto, quando trata-se de adultos entrando na terceira idade, eles tendem a ser menos ativos, utilizando cada vez menos energia.

Pesquisas mostram que 25% dos americanos com idade entre 50 e 65 anos não se exercitam fora do trabalho e, acima de 75 anos, aumenta para mais de 33%, sendo que os idosos gastam cerca de 29% menos calorias por meio de atividades diárias.

Por isso, a melhor sugestão é se movimente e faça musculação. Um estudo com 65 pessoas saudáveis com idade entre 50 e 72 anos mostrou que os exercícios regulares de resistência evitam que o metabolismo reduza muito com a idade.

Para vocês terem uma ideia, o adulto perde cerca de 3% a 8% dos músculos durante cada década após os 30 anos. Quando atinge os 80 anos, você tem aproximadamente 30% menos músculos do que quando tinha 20 anos —levando a quadros de sarcopenia, que já descrevi aqui nessa semana.

Um estudo com 959 pessoas mostrou que pessoas com 70 anos tinham 9 kg a menos de massa muscular e metabolismo de repouso 11% mais lento do que pessoas com 40 anos. Dentre os fatores que afetam isso estão o nível e tipo de exercício, consumo reduzido de proteínas e mudanças hormonais. Por isso, a prática de musculação e uma boa alimentação são ferramentes muito importantes para evitar uma grande redução do metabolismo conforme envelhecemos.

Outro ponto é que a energia gasta em repouso (TMB) é determinada por um conjunto de reações, e componentes celulares as impulsionam, como as bombas de sódio-potássio e as mitocôndrias.

As bombas de sódio-potássio ajudam a gerar impulsos nervosos e contrações musculares e cardíacas, enquanto as mitocôndrias criam energia para as células. Pesquisas mostram que ambos os componentes perdem eficiência com a idade e, portanto, desaceleram o metabolismo.

Um estudo comparou a taxa das bombas de sódio-potássio entre 27 homens mais jovens e 25 homens mais velhos, sendo que as bombas foram 18% mais lentas em adultos mais velhos, resultando no gasto de 101 calorias a menos por dia. Os pesquisadores descobriram que os adultos mais velhos tinham 20% menos mitocôndrias. Além disso, suas mitocôndrias eram quase 50% menos eficientes no uso de oxigênio para criar energia.

Por isso, não deixe de procurar orientação nutricional, esportiva e médica para que ajuste o seu treino, de acordo com suas necessidades (principalmente musculares), seu aporte de nutrientes (dando uma atenção às proteínas e analisando, com um médico, se há mudanças hormonais e/ou fisiológicas que podem contribuir ainda mais para esse processo.

Referências:

- Cruz-Jentoft AJ, Baeyens JP, Bauer JM, Boirie Y, Cederholm T, Landi F et al. Sarcopenia: European consensus on de?nition and diagnosis: Report of the European Working Group on. Sarcopenia in Older People. Age Ageing. 2010;39(4):412-23.

- Manini TM. Energy expenditure and aging. Ageing Res Rev. 2010;9(1):1-11. doi:10.1016/j.arr.2009.08.002

- Shimokata H, Kuzuya F. [Aging, basal metabolic rate, and nutrition]. Nihon Ronen Igakkai Zasshi. 1993 Jul;30(7):572-6. Japanese. doi: 10.3143/geriatrics.30.572. PMID: 8361073.

- Sin-Jin M, Long-Jiang Y. Oxidative Stress, Molecular In?amammation and Sarcopenia. Int J Mol Sci. 2010;11(4):1509-26.

- Lührmann PM, Bender R, Edelmann-Schäfer B, Neuhäuser-Berthold M. Longitudinal changes in energy expenditure in an elderly German population: a 12-year follow-up. Eur J Clin Nutr. 2009 Aug;63(8):986-92. doi: 10.1038/ejcn.2009.1. Epub 2009 Feb 4. PMID: 19190667.

- von Loeffelholz C, Birkenfeld A. The Role of Non-exercise Activity Thermogenesis in Human Obesity. [Updated 2018 Apr 9]. In: Feingold KR, Anawalt B, Boyce A, et al., editors. Endotext [Internet]. South Dartmouth (MA): MDText.com, Inc.; 2000-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279077/

- CDC. Physical Inactivity Among Adults Aged 50 Years and Older — United States, 2014. https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/65/wr/mm6536a3.htm

- Rom O, Kaisari S, Aizenbud D, Reznick AZ. Lifestyle and Sarcopenia - Etiology, Prevention, and Treatment. RMMJ. 2012;3(4):1-12.

- Harris AM, Lanningham-Foster LM, McCrady SK, Levine JA. Nonexercise movement in elderly compared with young people. Am J Physiol Endocrinol Metab. 2007 Apr;292(4):E1207-12. doi: 10.1152/ajpendo.00509.2006. PMID: 17401138.

- Van Pelt RE, Jones PP, Davy KP, Desouza CA, Tanaka H, Davy BM, Seals DR. Regular exercise and the age-related decline in resting metabolic rate in women. J Clin Endocrinol Metab. 1997 Oct;82(10):3208-12. doi: 10.1210/jcem.82.10.4268. PMID: 9329340.

- Martinez, Bruno & Camelier, Fernanda & Camelier, Aquiles. (2014). SARCOPENIA EM IDOSOS: UM ESTUDO DE REVISÃO. Revista Pesquisa em Fisioterapia. 4. 62. 10.17267/2238-2704rpf.v4i1.349.

- English KL, Paddon-Jones D. Protecting muscle mass and function in older adults during bed rest. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2010;13(1):34-39. doi:10.1097/MCO.0b013e328333aa66

- TANG, J. E.; PHILLIPS, S. M. Maximizing muscle protein anabolism: the role of protein quality. Current opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care, v. 12, n. 1, p. 66-71, 2009.

- Frontera WR, Hughes VA, Fielding RA, Fiatarone MA, Evans WJ, Roubenoff R. Aging of skeletal muscle: a 12-yr longitudinal study. J Appl Physiol (1985). 2000 Apr;88(4):1321-6. doi: 10.1152/jappl.2000.88.4.1321. PMID: 10749826.

- Lemon, P.W.R. Beyond the Zone: Protein Needs of Active Individuals. Journal of the American College of Nutrition, Vol. 19, No. 5, 513S-521S, 2000.

- Rolland Y, Czerwinski S, Abellan Van Kan G, et al. Sarcopenia: its assessment, etiology, pathogenesis, consequences and future perspectives. J Nutr Health Aging. 2008;12(7):433-450. doi:10.1007/BF02982704

- Zurlo F, Larson K, Bogardus C, Ravussin E. Skeletal muscle metabolism is a major determinant of resting energy expenditure. J Clin Invest. 1990;86(5):1423-1427. doi:10.1172/JCI114857

- Moore D.R., M.J. Robinson, J.L. Fry, J.E. Tang, E.I. Glover, S.B. Wilkinson, T. Prior, M.A. Tarnopolsky, and S.M. Phillips (2009). Ingested protein dose response of muscle and albumin protein synthesis after resistance exercise in young men. Am. J. Clin. Nutr. 89:161-168.

- Walston JD. Sarcopenia in older adults. Curr Opin Rheumatol. 2012;24(6):623-627. doi:10.1097/BOR.0b013e328358d59b

- Roubenoff R, Rall LC, Veldhuis JD, Kehayias JJ, Rosen C, Nicolson M, Lundgren N, Reichlin S. The relationship between growth hormone kinetics and sarcopenia in postmenopausal women: the role of fat mass and leptin. J Clin Endocrinol Metab. 1998 May;83(5):1502-6. doi: 10.1210/jcem.83.5.4809. PMID: 9589646

- Larsen FJ, Schiffer TA, Sahlin K, Ekblom B, Weitzberg E, Lundberg JO. Mitochondrial oxygen affinity predicts basal metabolic rate in humans. FASEB J. 2011 Aug;25(8):2843-52. doi: 10.1096/fj.11-182139. Epub 2011 May 16. PMID: 21576503.

- Poehlman ET, Toth MJ, Webb GD. Sodium-potassium pump activity contributes to the age-related decline in resting metabolic rate. J Clin Endocrinol Metab. 1993 Apr;76(4):1054-7. doi: 10.1210/jcem.76.4.8386182. PMID: 8386182.

- Philips, S. Protein requirement and supplementation in strength sports. Nutrition 2004;20:689-95.

- Clausen MJ, Poulsen H. Sodium/Potassium homeostasis in the cell. Met Ions Life Sci. 2013;12:41-67. doi: 10.1007/978-94-007-5561-1_3. PMID: 23595670.

- Bertram R, Gram Pedersen M, Luciani DS, Sherman A. A simplified model for mitochondrial ATP production. J Theor Biol. 2006 Dec 21;243(4):575-86. doi: 10.1016/j.jtbi.2006.07.019. Epub 2006 Jul 25. PMID: 16945388.

- Conley KE, Jubrias SA, Esselman PC. Oxidative capacity and ageing in human muscle [published correction appears in J Physiol 2001 Jun 15;533 Pt 3:921]. J Physiol. 2000;526 Pt 1(Pt 1):203-210. doi:10.1111/j.1469-7793.2000.t01-1-00203.x

- Philips, S. M. Resistance exercise: good for more than Just Grandma and Granpa´s muscles. Appl Physio Nutr Metab. Vol. 32. p.1198-1205. 2007.

- Frisard MI, Broussard A, Davies SS, et al. Aging, resting metabolic rate, and oxidative damage: results from the Louisiana Healthy Aging Study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2007;62(7):752-759. doi:10.1093/gerona/62.7.752

- Rizzo MR, Mari D, Barbieri M, Ragno E, Grella R, Provenzano R, Villa I, Esposito K, Giugliano D, Paolisso G. Resting metabolic rate and respiratory quotient in human longevity. J Clin Endocrinol Metab. 2005 Jan;90(1):409-13. doi: 10.1210/jc.2004-0390. Epub 2004 Oct 13. PMID: 15483081.