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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Tratamento do câncer: avanços mostrados no Congresso Americano de Oncologia

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Imagem: iStock

Colaboração para o VivaBem

14/06/2021 04h00

O Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica deste ano, realizado entre os dias 4 e 8 de junho, divulgou avanços muito importantes com o uso de novos agentes imunoterápicos, radio-farmácos e terapias biológicas, aumentando as chances de cura em vários tipos de câncer, como o de rim e o de mama localmente avançados.

Ao mesmo tempo, essas novas terapias melhoraram os índices de sobrevida nos tumores de próstata e câncer de cabeça e pescoço. São medicações que vão permitir, por meio de diferentes mecanismos de ação, somar a outros tratamentos, propiciando maiores chances de sucesso e melhor qualidade de vida ao paciente.

Além disso, foram apresentados dois importantes estudos que avaliaram especificamente o papel do rastreamento e da biologia dos tumores prostáticos na população negra.

Câncer de rim

Em pacientes com câncer renal, para os quais, até então, não existia um tratamento pós-operatório eficaz para evitar recorrência após a cirurgia, chamada de nefrectomia, temos agora um novo horizonte. Um estudo comparativo envolvendo 994 pacientes operados e com risco alto para recidiva avaliou um novo agente imunoterápico chamado pembrolizumabe.

Os pacientes foram divididos em dois grupos: um recebeu placebo e outro tomou por um ano essa droga, que inibe proteínas que o tumor usa para ludibriar os linfócitos (nossas células de defesa). Pacientes que receberam imunoterapia pós-operatória apresentaram redução de 32% no risco de progressão de doença ou morte, representando uma nova opção para aumentar as chances de sucesso para estas pessoas.

Câncer de mama

Do mesmo modo, uma droga biológica chamada olaparibe —cuja função é evitar que o tumor reconstitua sua integridade após ser bombardeado por quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia— foi avaliada em estudo comparativo envolvendo 1.836 pacientes com câncer de mama de alto risco para recorrência. Essas mulheres apresentavam uma mutação genética em um dos dois genes (BRCA 1 ou BRCA 2), mais comumente alterados no câncer de mama. As pacientes tratadas com olaparibe por um ano versus placebo, além da cirurgia, hormonioterapia e quimioterapia, apresentaram um risco 43% menor de recidiva da doença ou morte.

Outro estudo de destaque tem como foco pacientes com câncer de próstata metastático para vários órgãos, em especial para os ossos, e que já não obtiveram "sucesso" em tratamentos hormonioterápicos e quimioterápicos. A pesquisa avaliou uma nova forma de tratamento, uma droga radioativa, chamada lutécio, ligada a uma enzima chamada PSMA, específica das células malignas prostáticas. Os pesquisadores avaliaram 831 pacientes e compararam esta nova estratégia com as tradicionais. Os resultados demonstraram que este radio-fármaco reduziu o risco de morte em 38% e de progressão da doença em 60%, representando uma nova opção para estes pacientes.

Ainda no câncer de próstata, destaco uma pesquisa que avaliou o impacto do rastreamento em 4.654 homens negros com a doença, com idade média de 51,8 anos. Entre a população analisada que se submeteu aos exames, houve um risco 39% menor de metástase e 25% inferior de morrer por causa da doença. Neste contexto, uma análise envolvendo 250 pacientes com câncer de próstata localizado (102 negros e 107 brancos) demonstrou que biologicamente os tumores em negros apresentam mais alterações de proteínas que denotam mais agressividade, sugerindo que o tratamento deve ser cada vez mais personalizado.

Câncer de cabeça e pescoço

Há também novidades em tumores de cabeça e pescoço. Um estudo envolvendo 289 pacientes com câncer de nasofaringe metastático para vários órgãos comparou um novo agente imunoterápico chamado toripalimab, cujo papel é inibir proteínas que o tumor usa para ludibriar os linfócitos. Foram utilizados dois tipos de estratégia: a combinação de imunoterapia e quimioterapia, e a quimioterapia isolada. Para os pacientes tratados com o novo agente imunoterápico e quimioterapia houve redução do risco de progressão ou morte em 48%, representando uma nova alternativa.

Todas estas pesquisas vão mudar a prática clínica à medida que se mostram melhores que os tratamentos anteriores. Um segundo passo é fazer com que estes avanços sejam disponíveis para a população, independentemente das questões socioeconômicas e raciais, já que todos merecem ter acesso a estratégias mais poderosas contra o câncer, bem como da melhor prevenção.

*Fernando Maluf é formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é Livre Docente, diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer (IVOC).