Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Além de vacinas, precisamos de um plano de imunização para as crianças

Ontem (4), o Ministério da Saúde fez uma audiência pública sobre a vacinação de crianças contra a covid-19. Para quem acompanha há anos as inúmeras campanhas de vacinação no Brasil, foi triste ter de ver especialistas e sociedades médicas defendendo a necessidade de uma vacina já aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pelas principais agências reguladoras internacionais, em meio ao aumento de casos da doença em quase todos os países.
Nunca houve consulta pública a respeito de uma vacina na história do Brasil, conhecido internacionalmente por ter uma das maiores coberturas vacinais do mundo. No entanto, a população deu seu recado: o brasileiro apoia e deseja vacinar as crianças. A maioria votou, inclusive, contra a necessidade de prescrição médica para a faixa etária dos 5 aos 11 anos, bandeira defendida pelo próprio presidente da República.
Embora o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tenha prometido que as doses pediátricas da vacina da Pfizer, única aprovada até o momento pela Anvisa para uso nessa faixa etária, chegarão ao país na segunda quinzena de janeiro deste ano, ainda não há informações sobre quando a vacinação de crianças deve começar no país.
O governo pediu um prazo maior para fornecer detalhes sobre a vacinação. Em 20 de dezembro, a AGU (Agência Geral da União) encaminhou ao ministro do STF Ricardo Lewandowski o pedido para que o prazo fosse ampliado. O ministro estendeu a data limite até 5 de janeiro, quando o governo deve fornecer um plano de imunização de crianças entre 5 e 11 anos.
Tanto a consulta pública quando as manifestações de membros do governo, incluindo o presidente e o ministro da Saúde, geram dúvidas acerca da segurança e da necessidade da vacinação e adiam seu início. Os Estados Unidos, que já aplicaram mais de 8,5 milhões de doses em crianças de 5 a 11 anos sem nenhuma morte associada à vacina, segundo o CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças), e vários países europeus, entre eles Portugal, Espanha, França, Dinamarca e Alemanha, já vacinam as crianças.
Enquanto isso, os países veem os casos de covid-19 subirem vertiginosamente: no dia 3 de janeiro, houve mais de 2 milhões de casos novos da doença no mundo, segundo dados do Our World in Data.
Algumas evidências científicas sugerem que a variante ômicron do coronavírus oferece menos risco de causar complicações, contudo, entre 21 e 27 de dezembro de 2021, a média de hospitalizações diárias de crianças nos Estados Unidos subiu 58%, chegando a 334 internações por dia (dados do CDC), a maioria não vacinada.
No Brasil, uma criança de 5 a 11 anos morreu a cada 2 dias por causa da covid-19, segundo a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19, que presta consultoria ao Ministério da Saúde. Ainda assim, evitar a morte de crianças não é o único objetivo da vacina: ela também previne contra internações, covid longa e transmissões para pessoas mais vulneráveis.
Os dados epidemiológicos mostram que a ômicron é altamente transmissível, portanto mesmo que cause quadros menos graves, o número de internações deve subir no Brasil. A conta é simples: temos pouco mais de 67% da população vacinada com duas doses, se houver muitos infectados, o vírus ainda vai encontrar muitos vulneráveis, embora em número menor do que na última onda.
A ômicron escapa mais à vacina, mas ainda assim, as vacinas disponíveis reduzem o risco de complicações. De acordo com o FDA, três doses das vacinas aumentam a proteção contra desfechos graves, principalmente diante da ômicron.
Frente a esse cenário, é urgente, portanto, que o Ministério da Saúde organize e divulgue um plano de vacinação para as crianças de 5 a 11 anos o mais rápido possível, para que a campanha comece antes da volta às aulas. Mais: deve encarar a vacinação desse grupo como prioridade.
Não há nenhum motivo para que o governo deixe de fazer isso, a menos que lhe falte vontade política.
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