Topo

Blog da Lúcia Helena

Ainda não será o fim: respostas sinceras sobre a sua vida após a vacina

iStock
Imagem: iStock

Colunista do UOL

17/12/2020 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

"Ah, quando essa vacina chegar, a gente vai..." Quem nunca se virou para a família ou os amigos e soltou uma desta? Ainda mais agora, final de ano, quando suspiramos de saudade uns dos outros. A lista de compromissos marcados desde agora só aumenta. Eu mesma já garanti minha presença em uma dúzia de reencontros e prometi de pés juntos oferecer outros tantos almoços, jantares, passeios e horas felizes após a picadinha. Ai, ai... Não que seja tudo mentira. Apenas é uma verdade que irá demorar um pouco mais para acontecer.

A vacinação, de fato, é o único caminho para a gente voltar a ter isso tudo. Mas digamos que a realidade caminha a passos mais lentos do que os dos nossos sonhos. Sinceridade? Vacina não é o equivalente à alforria da máscara, nem representa um passaporte para você viajar para um país das maravilhas onde não há a ameaça da covid. Muito menos dá direito a ingresso no festival de rock ou a convite para a festa cheia. Enfim, vacina não é um liberou-geral. Ao menos, do dia para a noite.

Atenção, por favor: a ilusão de que a injeção fará a proeza de derrotar o novo coronavírus num piscar de olhos pode ser, para a sua saúde e a das pessoas à sua volta, tão perigosa quanto a fantasia descabida de que podemos passar bem sem o imunizante, como se o Sars-CoV 2 não fosse lá grande coisa — subestimar esse inimigo, aliás, é um equívoco que só pode ser sustentado pela ignorância em estado bruto ou pelo esgotamento delirante.

Na semana passada, publiquei aqui respostas para as principais dúvidas sobre as vacinas que estão chegando para combater a pandemia. Mas, desta vez, as perguntas são sobre o que deverá acontecer quando iniciarmos a tão esperada vacinação.

1. Imaginando que eu tome uma vacina segura e eficiente, seja ela qual for, quanto tempo será preciso esperar depois da picada para o meu organismo desenvolver imunidade?

Não imagine que a mágica acontece de imediato. Você ainda ficará por um tempo quase tão desprotegido quanto antes de receber a injeção. "Existem vacinas que, se a gente espera quinze dias após a primeira dose, 50% das pessoas que a tomaram já terão desenvolvido alguma proteção, enquanto a outra metade, nada", explica Luís Fernando Aranha, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo "No entanto, se eu aguardo trinta dias e examino todo mundo de novo, vou ver que a proteção aparece em 90% das pessoas. Ou seja, o número sobe, porque o sistema imune precisa mesmo de um tempo, que é variável, para preparar as suas defesas."

A médica Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, ensina que habitualmente são calculadas duas semanas de espera após a última dose prescrita. "'É quando você pode já ter uma quantidade de anticorpos suficiente para se considerar protegido", diz ela. "Portanto, se tenho uma vacina que eu tomo agora e devo receber um reforço três semanas depois, feitas as contas eu poderia me achar uma pessoa mais protegida apenas cinco semanas após a primeira dose", dá o exemplo.

É bem verdade que, com as novas tecnologias empregadas no desenvolvimento de vacinas contra a covid-19, essa história até poderá mudar. Segundo a doutora Rosana, os estudos de fase 3 da vacina da Pfizer, por exemplo, apontam que os pacientes já apresentam imunidade apenas uma semana depois da injeção, praticamente em prazo recorde. Pode ser.

Por segurança, porém, dê um prazo maior, fazendo o cálculo clássico de somar uma quinzena à data da última dose de reforço. E mesmo assim não fique tirando onda de que já está totalmente blindado. Porque nenhuma vacina protege todo mundo da mesma maneira.

2. Como saber se a vacina que eu tomei "pegou" ou "não pegou"?

Pois é, sempre pode acontecer de você ser um daqueles indivíduos menos sortudos que não desenvolvem proteção após a vacina. "Se quiser mesmo ter alguma noção disso, você poderá fazer um teste de sorologia para checar os anticorpos. Só que espere, no mínimo, um mês após ter se vacinado", opina o doutor Luís Fernando Aranha.

Repare bem: isso daria apenas uma vaga noção mesmo. Primeiro, porque os anticorpos — os quais são feito mísseis teleguiados atrás dos vírus que estão soltos, no meio do caminho entre uma célula infectada e outra — não parecem ser a tática mais importante do nosso organismo para vencer o novo coronavírus.

Contra esse inimigo, nosso sistema de defesa se vale muito mais da chamada imunidade celular, ou seja, de uma de suas células, o linfócito T, atacando diretamente outra célula qualquer que esteja infectada, em uma espécie de corpo a corpo. "E, quando sugiro a sorologia, é porque a produção de anticorpos poderia ser uma pista de que essa imunidade celular também estaria acontecendo", afirma o médico.

Rosana Richtmann, porém, não acha que essa seja uma pista tão confiável e, no seu lugar, não faria a sorologia com esse fim. "Primeiro, porque os testes sorológicos que temos hoje no mercado não necessariamente flagram a resposta de anticorpos para o coronavírus", diz ela. "Os exames usados nos estudos das vacinas foram outros, bem mais específicos para enxergar a reação do organismo ao Sars-CoV 2. Só que eles não são feitos de rotina nos laboratórios."

Existem pessoas que até têm anticorpos, mas que, na hora do vamos-ver, sucumbem, porque talvez não tenham formado proteção em quantidade suficiente para barrar o vírus. Acontece.

Já outras, inclusive aquelas que tiveram a covid-19 pra valer, às vezes não apresentam muitos anticorpos, mas adquiriram uma bela imunidade celular, que não pode ser confirmada em exames corriqueiros. Portanto, o resultado do teste sorológico nas mãos está longe de ser a resposta que você gostaria ou precisaria ouvir.

3. Se eu já me vacinei, por que devo continuar de máscara?

"Como, na vida real, fora do universo dos ensaios clínicos, a gente não sabe apontar quem são as pessoas que vão responder bem à vacina ou não, na prática continuam valendo as normas não só sobre o uso de máscara, mas sobre higienizar as mãos com frequência e manter o distanciamento mínimo de 1,5 metro de outras pessoas", vai logo dizendo a doutora Karen Mirna Loro Morejón, infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e coordenadora do Serviço de Controle de Infecções do Hospital da Unimed, na mesma cidade do interior paulista.

Em média, as vacinas que estão chegando contra a covid-19 têm de 70% a 80% de eficácia, umas mais e outras menos. Isso significa que, em cada 100 vacinados, vinte ou trinta pessoas continuarão desprotegidas. A não ser que queiram se arriscar — e, pior, arriscar a vida dos outros, caso contraiam o vírus —, elas devem seguir a vida com aqueles cuidados de sempre para frear a propagação da covid-19.

"Só quando a cobertura vacinal for alta, com 80% ou mais da população vacinada, é que poderemos tirar a máscara", deixa claro Rosana Richtmann. "Por isso que, se a gente quer mesmo arrancá-la, é tão fundamental que as pessoas não se recusem a vacinação. Quanto mais depressa elas forem vacinadas, mais rápido nos livraremos da máscara e de tudo."

4. Posso ficar protegido depois de vacinado, não ter a doença e, ainda assim, transmitir a covid-19?

"O primeiro ponto para responder esta pergunta: lembre-se que, a rigor, podem existir pessoas achando que não tiveram a covid-19 depois de vacinadas, mas que na verdade ficaram, isso sim, entre aquela minoria que infelizmente não desenvolveu proteção. E que, como tantos outros casos que a gente vê por aí, tiveram uma infecção assintomática, transmitindo o vírus sem saber dessa condição", informa Luís Fernando Aranha, do hospital Albert Einstein.

Tem mais: existem vacinas que realmente conseguem fazer o que os médicos chamam de esterilizar o carreador. Isto é, elas não só protegem contra determinada doença como evitam que o sujeito saia infectando outras pessoas. Outras vacinas, porém, só fazem a primeira parte do serviço.

A doutora Rosana Richtmann dá o exemplo dos imunizantes contra a bactéria pneumococo, que provoca pneumonia e meningite, sendo uma das maiores causas de mortes em adultos — nas crianças, ela causa de otite até a inflamação nas meninges que revestem o cérebro.

"Contra a pneumococo, eu tenho uma vacina que é chamada de conjugada. Ela evita que a pessoa manifeste a infecção e, mais do que isso, que o neto, contaminado, deixe a avó doente depois de abraçá-la", ilustra a médica. "Mas há outra vacina, conhecida como polissacarídea, capaz de evitar que a pessoa tenha as doenças provocadas pelo pneumococo, mas sem impedir que ela seja uma carreadora, passando essa bactéria adiante. Ou seja, duas vacinas contra a mesmíssima infecção podem ter efeitos diferentes nesse sentido, dependendo da sua tecnologia."

E, no caso, como seriam as vacinas contra a covid-19? Ninguém sabe ainda. "O objetivo principal no desenvolvimento dos imunizantes contra a covid-19 não foi nem sequer impedir a doença em si, mas evitar suas formas graves, aquelas que exigem internação, que deixam o paciente precisando de ventilação mecânica na UTI e que podem levar à morte", diz a doutora Rosana. "E, felizmente, isso parece ter sido alcançado por todas as vacinas que estão na fase 3 de estudos." Vamos reconhecer: é um alívio espetacular.

Só em um segundo momento, já com a poeira da pandemia baixando e existindo um número enorme de pessoas vacinadas, é que os cientistas irão entender se elas deixaram de transmitir o novo coronavírus ou não.

Portanto, esta é mais uma explicação de por que quem se imunizar deverá continuar de máscara e tomando todos os outros cuidados: salvar a própria pele não necessariamente significará poupar a vida dos outros. Ao menos até a maior parte estar vacinada, sem dar brecha para o Sars-CoV 2

5. Pensando em 2021, podemos esperar para o ano que vem um maior relaxamento das normas de distanciamento social graças à vacinação?

"Nesse sentido, teremos um novo ano muito parecido com 2020", sentencia Luís Fernando Aranha. "Devemos relaxar mais essas normas só em 2022, com um número grande de pessoas vacinadas e entendendo mais sobre a eficácia dos imunizantes", prevê.

Rosana Richtmann complementa que, por mais bem desenhado que seja um plano de vacinação — tomara! — e mesmo imaginando que a gente tenha uma estrutura adequada para aplicar as doses necessárias em todo mundo, isto é, sem faltar profissionais de saúde, seringas, redes de refrigeração para manter o medicamento em ordem e que tais, não teremos quantidade de vacina, em si, para imunizar 80% ou mais da população de um mês para outro. Não se iluda. Não será tão rápido.

"Por isso, o primeiro semestre de 2021 deve ser muito parecido com o que vimos ao longo de 2020", diz ela. "Mas, se todas as pessoas nos grupos prioritários correrem para tomar a vacina nesses primeiros meses, no segundo semestre já sentiremos algum alívio, observando progressivamente uma queda no número de casos graves." Ufa!

A infectologista alerta que, para isso, é fundamental que facilitem o acesso à imunização, o que significa muito mais do que ter um posto perto de cada um de nós. É, por exemplo, não inventarem a obrigação de assinarmos termos de consentimento que, nas minhas palavras, são sem pé, nem cabeça.

Ora, se as vacinas oferecem ou não oferecem proteção para todo mundo é uma coisa — algo que ainda vamos descobrir. Se elas são seguras ou não é outra completamente diferente. E isso todas as opções aprovadas são. Não faz sentido você ainda ter de assinar qualquer documento. Só serve para assustar à toa. Não merecemos.

Para Rosana Richtmann, 2021 será um ano de virada. Também boto fé nisso. "E, quanto maior o número de pessoas vacinadas, mais rápido voltaremos a nos abraçar", lembra. Não vejo a hora. E você?

6. Mas pelo menos poderemos beijar nossos pais, tios e avós idosos com tranquilidade, depois que eles forem vacinados, já que estão no grupo prioritário?

Mais uma dose de sinceridade, correndo o risco da redundância: paciência, continue dedicando extremo cuidado às pessoas mais velhas, mesmo que elas tomem a tal injeção. "Volto a bater na tecla de que ainda não sabemos se as vacinas funcionarão para todo mundo da mesma maneira", insiste Luís Fernando Aranha.

Algumas vacinas, é fato, provocam uma resposta menor em idosos, embora sejam por ironia super necessárias para eles. Exemplo clássico é a da gripe, feita com a tecnologia mais antiga de todas, a que usa vírus inativado, similar à da CoronaVac. Crianças e adolescentes com um sistema imunológico tinindo formam anticorpos que é uma belezura depois de receberem o medicamento. Mas esses anticorpos não terminam assim tão numerosos em indivíduos com mais de 65, 70, 80 anos que se vacinaram contra o vírus influenza.

A boa notícia vêm de estudos realizados até o momento sobre as vacinas contra a covid-19 que usam novas tecnologias, aquelas capazes de criar uma resposta em nosso corpo soprando nos ouvidos do sistema imunológico como seria a genética do novo coronavírus. É o que faz, por exemplo, a vacina da Pfizer. "Os resultados em idosos têm sido surpreendentemente fantásticos", comenta a doutora Rosana.

Segundo ela, se isso for confirmado, talvez no futuro as autoridades em saúde priorizem esse tipo de vacina para os mais velhos e para outros grupos que, até então, tinham maior dificuldade para criar uma imunidade adequada.

De qualquer forma, bom a gente manter a calma, já antecipando as caraminholas na cabeça de quem é idoso ou que tem gente idosa e querida na família: a vacinação, qualquer que seja o imunizante usado em seu caso, poderá evitar os quadros graves. Só por isso já compensará à beça. Não tire da mente o exemplo da vacina contra a gripe que, obtida por meio de uma tecnologia mais antiga e sem gerar tantos anticorpos nos idosos, ainda assim evita muitas mortes entre eles.

7. Quem já teve a covid-19 deve tomar a vacina da mesma maneira?

A resposta é um sonoro sim. "Cá entre nós, não sabemos muito sobre a qualidade da proteção de quem teve a doença, muito menos sobre a sua duração", diz a doutora Rosana. "Além do mais, tem muita gente que teve a covid-19 e que nunca soube disso, porque foi assintomático, e que irá tomar a vacina de boa. Não existe problema algum nisso."

Em relação à duração da proteção, a infectologista Karen Morejón compara mais uma vez a situação com a da vacina da gripe: "A imunidade que formamos, mesmo quando ficamos gripados, não dura para sempre".

E existe ainda, como a doutora Rosana citou, a questão da qualidade da imunidade— nem sempre a doença pra valer é melhor do que a vacina contra ela nesse quesito. "Se eu tive catapora na infância, a minha imunidade provavelmente é maior do que a sua, que tomou a vacina contra varicela, outro nome dessa doença", explica.

Isso porque, de acordo com a infectologista, nas infecções sistêmicas a proteção natural, ou seja, aquela que o organismo cria ao enfrentar o verdadeiro inimigo, tende a ser sempre maior do que a proteção após uma vacina.

Entender o conceito de infecções sistêmicas é fácil: são aquelas disseminadas pelo corpo inteiro. Ninguém tem as bolhinhas da catapora só nos braços ou só no rosto — elas pipocam da cabeça aos pés. Claro, pode ser uma imagem quase simplista, mas serve para você entender a diferença em relação ao HPV, que, quando provoca lesões, faz isso em áreas específicas do corpo, como nos genitais. "Em casos assim, de infecções mais localizadas, as vacinas geralmente saem ganhando. Quem é vacinado forma uma proteção melhor do que quem pegou a doença."

8. Há quem diga que a queda do número de brasileiros que pretendem tomar a vacina, apontada pela pesquisa recente do Datafolha, teria sido um reflexo do fim do medo, com a ideia equivocada de que a ameaça do novo coronavírus acabou. Sendo assim, quando começar a vacinação pelo país, será que parte da população não poderá viver nessa ilusão perigosa de vez, sair de casa sem o menor cuidado e, daí, o cenário da pandemia até piorar?

"Infelizmente, é o que esperamos que possa ocorrer em um primeiro momento, caso a campanha de vacinação não aconteça paralelamente a uma campanha de informação", lamenta dizer Luís Fernando Aranha. Esse, sim, será o pior efeito adverso das vacinas contra a covid-19: o caos fomentado por falas e atitudes irresponsáveis.

"Nosso maior receio é de que as pessoas vacinadas relaxem nas medidas conhecidas de prevenção", concorda Karen Morejón. Lembrando: o risco de entornar o caldo também crescerá se quem convive com indivíduos que já foram imunizados der folga, achando que aquele parente ou amigo não sofrerá mais ameaça alguma de ser infectado. Quando, espero ter ficado claro, não é bem assim.

9. E se quem tomou a vacina tiver alguma reação tempos depois, como ficará?

"Importantíssimo que todos falem a mesma língua, sem discursos antagônicos espalhando insegurança", desabafa a doutora Rosana Richtmann. E o discurso mais correto é o seguinte: pode acontecer alguma coisa estranha aqui ou acolá? Até pode. Nesse aspecto, toda e qualquer vacina é colocada à prova na fase 4 — é quando ela cai na vida real.

"Mas as pessoas precisam dormir sossegadas sabendo que, em primeiro lugar, na maioria das vezes a fase 4, quando uma vacina é aplicada em uma população enorme, reflete o que foi visto nas etapas anteriores, que atestam inclusive a segurança do imunizante", tranquiliza a médica. "E, se aparecer um problema ou outro, provavelmente será algo isolado e estaremos todos de olho, como sempre acontece com qualquer vacina. Os relatos serão analisados, estudados, acompanhados. E todo mundo, nesse sentido, estará bem amparado."

Como observa a infectologista, já tivemos uma overdose de medo em 2020, como o temor pelos parentes, a insegurança no trabalho, o pânico da morte. Não, não precisamos de dose de reforço desses sentimentos. E nem seria necessário: reações adversas de vacinas são raras. E, ainda mais com os olhos do mundo arregalados diante da covid, a vigilância será extrema. Quanto a isso, relaxe.

10. Por fim, a famosa pergunta que não quer se calar na boca dos que ainda duvidam da ciência: se vamos continuar de máscaras e tudo mais, se nada vai mudar do dia para noite, se não funcionará para todos, por que raios eu teria que me vacinar?!

"O primeiro benefício da vacina é muito mais coletivo do que individual. Quanto maior o número de pessoas vacinadas, menor a chance que o vírus tem de circular", aponta o infectologista Luís Fernando Aranha, do Einstein. Então, o amaldiçoado Sars-CoV 2 começará a bater cada vez mais com o nariz na porta. "A preocupação com o coletivo é que deve nortear nossas ações em uma pandemia", reforça a doutora Karen, do HC de Ribeirão Preto.

Outro motivo, já citado aqui e sublinhado pelo doutor Aranha: "Se quisermos pensar em benefício individual, as pessoas, mesmo adoecendo, tendem a ter quadros mais leves uma vez que foram vacinadas". Isso significa viver, algo que tem uma dimensão muito maior do que a de um pedaço de pano no rosto, tão necessário e com o qual algumas pessoas têm tanta implicância.

Por falar em viver, fecho com o que escutei da doutora Rosana Richtmann, relatando sua experiência no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, por onde passam voluntários dos testes de vacinas. "Metade toma o medicamento verdadeiro e outra metade recebe placebo, ou seja, uma medicação falsa. E mesmo sem saber se, por sorteio, caiu em um grupo ou em outro, todo mundo transparece um olhar de alívio logo depois da agulhada."

Essa sensação, a de fazer o que está ao seu alcance para se proteger ou proteger os seus, depois dos estragos que o Sars-CoV 2 fez à nossa saúde mental por tabela, não deixa de ser parte da cura. Ainda mais sabendo — diferentemente de um voluntário — que a sua vacina será de verdade, testada e aprovada. Melhor promessa de ano novo, impossível.