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Lucas Veiga

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A violência policial é uma violência à saúde mental das pessoas negras

31.jul.2023 | Guarujá (SP) | Movimentação de policiais militares na Vila Baiana, onde suspeito foi morto por policiais - Danilo Verpa/Folhapress
31.jul.2023 | Guarujá (SP) | Movimentação de policiais militares na Vila Baiana, onde suspeito foi morto por policiais Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Colunista do UOL

09/08/2023 04h00

Na última semana, operações policiais em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia resultaram em 45 mortos. Não é a primeira vez que presenciamos chacinas produzidas pelo Estado com a justificativa de estar combatendo o tráfico de drogas e, infelizmente, não será a última.

Vivemos num país que foi erguido por meio da desumanização de pessoas negras e que perpetua essa história a cada violência racial praticada contra essa população. A circulação pela cidade, em especial nas grandes capitais do país, é constantemente entremeada por vivências cotidianas de racismo que vão desde olhares de medo ou desaprovação, perseguições por seguranças de estabelecimentos comerciais, até a violência policial tão presente nas comunidades.

Os efeitos desses episódios na saúde mental das pessoas negras são muito nocivos, podendo desencadear quadros de depressão, ansiedade, transtorno do estresse pós-traumático, entre outros.

Se uma pessoa é violentada nos seus direitos e na sua dignidade simplesmente por ter a cor da pele que tem, ter os traços que tem, a pessoa pode internalizar essa violência que está sendo projetada sobre ela e desenvolver um quadro de negação a si mesma, baixa autoestima e insegurança.

Em se tratando da violência policial especificamente, o psiquiatra Frantz Fanon diz que cabe à polícia "levar violência para as casas e para os cérebros" das pessoas negras com o fim de mantê-las reféns à ordem vigente que as oprime. A violência policial é uma violência também à saúde mental das pessoas que vivem nos territórios periféricos. O medo de que a qualquer momento sua vida e a das pessoas que você ama estarão em risco produz uma sensação de ansiedade constante, que se desdobra em insônia, alterações no apetite e até mesmo intensifica casos de hipertensão.

A justificativa usada pela polícia de que estaria tentando combater o tráfico de drogas já não pode mais ser sustentada, até porque já faz anos que essa justificativa vem sendo usada, pessoas negras sendo assassinadas e o tráfico, que não começa e não termina nas comunidades, segue seu fluxo.

É fundamental que pessoas que tenham passado por experiências de violência racial e policial consigam falar dessa situação com outras pessoas, denunciar, dar palavra para os sentimentos, angústias e preocupações. É uma ferramenta de cuidado importante que as comunidades já lançam mão por meio de iniciativas coletivas de comunicação como jornais e redes sociais da própria comunidade. Além disso, receber atendimento por parte de profissionais de saúde mental da rede do território pode ser muito importante no acolhimento a quadros clínicos mais delicados.