Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Você sente culpa quando está bem?
Como lidar com as próprias emoções num momento como esse em que vivemos? As oscilações de humor são comuns e, por vezes, frequentes. Entre angústias, humor deprimido, ansiedade e preocupações acerca do futuro, podemos negar a nós o direito de ficar bem com conquistas pessoais, relacionamentos saudáveis e pequenas alegrias do dia a dia. A vida é maior do que a pandemia. Sem essa perspectiva talvez caíssemos num poço sem alçapão.
Os discursos nas redes às vezes parecem oscilar entre uma "good vibes" desconectada da realidade e um pessimismo hiperconectado com os problemas ao redor. Será que conseguimos traçar uma outra linha na lida com nossas emoções que não caía nem num polo e nem no outro?
Uma pista de cuidado importante vem da sabedoria ancestral dos quilombos. Os quilombos, surgidos da revolta e da fuga, não acabaram imediatamente com o sistema colonial-escravocrata. Mas fundaram, no seio da colonização, um território livre das engrenagens de opressão e violência. Quilombo é território de reconexão com a terra, com a vida em sua potência de germinação de outros modos de viver.
Crie seu espaço de aquilombamento, seu território de reconexão com as forças da vida, sua linha de fuga do mal-estar permanente que nos assola. Há um verso da música "Alegria e lamento", da Daniela Mercury, que diz assim: "A dor que pariu Salvador, pariu o samba". Não há aqui negação da dor, o que há é o reconhecimento dela e, ao mesmo tempo, a recusa a se submeter a ela por inteiro. Dessa recusa, poderemos ver/fazer brotar o inédito em nós.
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