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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que sociedades médicas pedem regulamentação de 'chip da beleza'?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

29/03/2023 04h00

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No dia 24 de março de 2023, seis sociedades médicas elaboraram um documento encaminhado ao Conselho Federal de Medicina, visando pedir atenção para que o uso de hormônios esteroides anabolizantes para fins estéticos (chip da beleza) e de performance seja regulamentado.

A carta foi produzida pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte), FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia), Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).

O uso de hormônios vem sendo discutido amplamente há muito tempo e é necessária atenção urgente, em função do número crescente de complicações a partir do uso indevido. Parte do crescimento é fruto da divulgação intensiva que se observou nas redes sociais, muitas vezes associada à ideia de medicamentos seguros, com poucos efeitos colaterais e muitos benefícios estéticos.

Os hormônios são prescritos para diversas formas, entre elas implantes subcutâneos conhecidos como "chip da beleza", que é produzido através do hormônio chamado gestrinona, indicado para aumento da libido, emagrecimento, endometriose, contracepção, aumento de massa muscular, disposição física, entre outras possibilidades.

Embora usado com frequência entre profissionais, na literatura médica não existem estudos de segurança sobre o uso de gestrinona da forma que tem sido feita. A partir dessas informações, no final de 2021, a Febrasgo e a SBEM criaram a primeira carta não recomendando uso desses implantes.

Os hormônios são substâncias químicas mensageiras produzidas pelas glândulas para controlar a função de diversos órgãos. Considerando e sabendo o quanto alguns hormônios podem trazer alterações que impactam todo corpo, é muito importante que a utilização deles tenha base e apoio científico.

Como na maioria das vezes as prescrições desses hormônios são feitas de forma personalizada, existe um risco de dose acima do necessário. Porém mesmo com exames de sangue não é possível estimar a real necessidade, deixando essa dosagem totalmente a critério de quem prescreve e sem um amparo de doses padronizadas ou bulas para que o próprio paciente possa consultar possíveis efeitos colaterais. No Brasil, parte desses hormônios não possui registro sanitário válido pela Anvisa.

O novo posicionamento dessas entidades médicas é uma oportunidade para que órgãos superiores regulamentem o uso, a dose, os especialistas que podem prescrever, entre outras possibilidades que podem favorecer e assegurar a saúde de toda sociedade. Sabemos que apenas contraindicar já não é uma medida efetiva, é necessário de forma clara, com base em evidências e conversas com especialistas compreender como seguir de forma segura e regulamentada.

Referências: https://www.endocrino.org.br/wp-content/uploads/2023/03/Carta-Conjunta-das-06-Sociedades-Me%CC%81dicas-ao-CFM-.pdf

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