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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Perda gestacional e dor: atitudes simples e acolhedoras fazem diferença

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colunista do UOL

09/03/2022 04h00

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Na semana da mulher eu gostaria de falar sobre uma dor vivida por algumas mulheres de uma forma muito complexa, e às vezes solitária, a perda gestacional, seja pela gestação que não evolui, evolui e parou, óbito embrionário, aborto ou óbito fetal, enfim, o filho que por algum motivo não nasceu. Uma vida que não será vivida, a perda de um filho que não foi conhecido, mas amado de formas incalculáveis.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), considera-se aborto a interrupção da gestação que ocorre antes de 20 semanas de gestação ou com feto de até 500 gramas. É considerado espontâneo quando ocorre sem nenhum tipo de medicamento ou intervenção.

Após 20 semanas de gestação não consideramos mais aborto e, sim, parto, mudando a denominação e o seguimento, pois óbitos que ocorrem após esse período precisam de declaração de óbito e sepultamento.

Toda perda que ocorre na gestação, independente do tempo gestacional, carrega vivências e sentimentos diferentes entre cada pessoa que passa por esse momento, mas e por que não falamos sobre essas vidas que não foram plenamente vividas por esses embriões ou fetos e suas famílias?

Quem perde o filho sem conhecê-lo perde também parte dos sonhos, esperanças, desejos, expectativas de um sentimento sem medidas, afinal de contas, qual o tamanho do amor de uma mãe por um filho não apresentado?

Para a pessoa que gesta, além da perda, existe o desafio de lidar com o corpo que se preparou para a gestação, repentinamente vê esse processo sendo interrompido e dependendo da idade gestacional, procedimentos e situações, além de dores sentimentais, também deixam marcas físicas muitas vezes permanentes.

Falar que cerca de 31% de todas as gestações podem evoluir para um abortamento não conforta quem perde um filho, mas talvez possa mostrar que logo cedo a vida nos ensina o quanto ela pode ser imprevisível, e não é porque falamos pouco que o abortamento espontâneo vai desaparecer, pelo contrário, ele vai permanecer acontecendo e causando muitas vezes a angústia de ser um momento sensível que não pode ser tratado ou revertido.

A sociedade precisar falar sobre o tema para compreender e acolher melhor, sabendo que a dor da perda gestacional é sim uma dor, e o luto dessa perda terá fases e momentos diferentes para que cada um consiga elaborar sua perda.

Se você conhece alguém que está passando por este momento, que tal substituir algumas frases:

  • "Ano que vê você engravida de novo" por "Sinto muito pela sua perda";
  • "Que bom que foi no início da gestação" por "Imagino que você já amava o bebê e o que pode estar sentindo com essa perda";
  • "Não fique assim, logo vai passar" por "Espero que fique bem, da melhor maneira possível".

Atitudes simples e acolhedoras, sem colocar na balança a dor do outro, podem fazer toda diferença.

Quem perde uma gestação perde os sonhos de um amor que não poderá ser vivido e não precisa além de tudo se preocupar se está sentindo mais ou menos essa dor.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para dralarissacassiano@uol.com.br.

Referências:

Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Aborto: classificação, diagnóstico e conduta. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, nº 1/ Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério).