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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você não tem orgasmo ou não chega ao orgasmo com penetração vaginal?

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

23/02/2022 04h00

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Na pesquisa realizada pelo ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade) da USP (Universidade de São Paulo), 55,6% das mulheres brasileiras relatou que não costuma atingir o orgasmo em suas relações e as causas levantadas por elas foram: 67% com dificuldade para se excitar e 59,7% com dor na relação.

Cada indivíduo possui sua própria bagagem sexual e uma forma diferente de se conectar com sua parceria sexual, porém muitas vezes esse encontro, como em qualquer outro da vida, pode não ocorrer exatamente como se deseja, pois nem sempre acontece um entrosamento natural entre os desejos do casal. Para que o desejo possa ser expresso ao outro, em primeiro lugar ele precisa ser conhecido e reconhecido pela própria pessoa.

Algumas pessoas relatam que nunca tiveram um orgasmo na vida, também é comum que algumas pessoas relatem que a libido é baixa, por crenças de que exista alguma alteração hormonal ou algo responsável por toda resposta sexual, ainda que essa "baixa libido" tenha sido sempre baixa, ignorando possíveis alterações ou que grande parte da nossa referência sexual vem de filmes eróticos ou pornôs que retratam muitas vezes relações heterossexuais, editadas, com genitais que parecem perfeitos.

A ideia do desejo e orgasmo fica intimamente relacionada com a falta de informação sexual, por uma ideia de que para se alcançar o orgasmo socialmente divulgado é necessário ter penetração, desconsiderando que muitas pessoas não chegam ao orgasmo com penetração vaginal, sem que isso signifique uma patologia ou qualquer tipo de alteração.

O orgasmo consiste em contrações reflexas de determinados músculos genitais. Mas o orgasmo é um só, seja por estimulação do clitóris, da vulva, da pele, com penetração vaginal ou anal, ou por diversos caminhos para um único destino. O conhecimento deste caminho pode ser a chave. Algumas pessoas precisarão de mais tempo de estímulos ou estímulos específicos. Conhecimento e conversa podem resolver muitas situações que poderiam ser consideradas patológicas.

Conhecer a própria anatomia e a do outro, saber diferenciar a vulva da vagina, reconhecer e entender que o clitóris é maior que o que se vê, entender que não existem pequenos e grandes lábios, mas, sim, lábios internos e externos, sem a referência de tamanho, pode ser um caminho.

Outro caminho é reconhecer que existem disfunções sexuais femininas, que podem ser caracterizadas por: falta de desejo sexual, excesso, desconforto e/ou dor na relação sexual. Para um diagnóstico são considerados a queixa da pessoa associada com a história clínica e um período mínimo de seis meses de sintomas, sem deixar de considerar que o diagnóstico pode ser alterado se houver outra patologia associada como, por exemplo, a depressão.

O tratamento deve ser direcionado à queixa da pessoa, em alguns casos com abordagem feita por: ginecologista, urologista, terapeuta sexual, fisioterapeuta pélvica, entre outros profissionais que podem auxiliar no processo. Saúde sexual é saúde e não precisa ser considerada como algo secundário da vida das pessoas.

Com conhecimento anatômico, informação, apoio entre parceiros sexuais, compreendendo que o tempo de excitação e a resposta sexual é diferente para cada indivíduo, é possível chegar a uma vida sexual mais tranquila e menos idealizada, afinal de contas, as relações podem ser de múltiplas formas, mas o orgasmo tem uma sensação única.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para dralarissacassiano@uol.com.br.

Referências:

Abdo, Carmita Helena Najjar e Fleury, Heloisa JunqueiraAspectos diagnósticos e terapêuticos das disfunções sexuais femininas. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo) [online]. 2006, v. 33, n. 3.

Diehl, Alessandra Sexualidade : do prazer ao sofrer / Alessandra Diehl, Denise Leite Vieira. ­ 2. ed. ­ Rio de Janeiro : Roca, 2017. 714 p. : il. ; 24 cm.