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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Hipertensão é doença mais frequente na gestação, e prevenção é essencial

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Colunista do UOL

23/03/2021 04h00

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Talvez você não saiba, mas durante a gestação a hipertensão é a doença mais frequente e pode se manifestar de formas diferentes. Conhecer e prevenir é extremante importante, pois hipertensão na gestação é uma alteração que pode afetar tanto a gestante quanto o feto e hoje, com diversos trabalhos, já sabemos que existem medidas que podem reduzir esse risco consideravelmente.

Separei esse tema ao lado de dois mestres no assunto, porque depois de alguns anos cuidando de gestantes de alto risco pude presenciar diversas situações graves decorrentes de complicações causadas pela hipertensão.

Tanto para profissionais quanto para pacientes é muito importante sempre manter a atenção quanto a sinais de alerta para a doença e para os fatores que aumentam seu risco.

Durante a gestação podemos ter 4 formas diferentes de hipertensão:

Hipertensão arterial crônica: a hipertensão é diagnosticada antes de engravidar ou até a 20ª semana de gestação;
Pré-eclâmpsia: quando a hipertensão arterial se manifesta após a 20ª semana de gestação associada a alterações laboratoriais ou clínicas;
Pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão arterial crônica: esse diagnóstico deve ser quando, após 20 semanas de gestação, ocorre o aparecimento ou piora da proteinúria (uma alteração no exame de urina) ou quando ela se associa a agravamentos do quadro;
Hipertensão gestacional: quadro de hipertensão arterial na gestante que não possuía essa alteração, porém sem alterações clínicas ou laboratoriais.

Diversos detalhes estão ligados a pré-eclâmpsia e para não perder nenhum deles convidei uma das pessoas que mais estuda sobre o tema no país, Henri Augusto Korkes, ginecologista, obstetra, mestre e doutor pelo Departamento de Obstetrícia da EPM-Unifesp com doutorado sanduíche em pré-eclâmpsia pela Harvard Medical School.

"As síndromes hipertensivas na gestação, particularmente a pré-eclâmpsia, representam grande risco para a saúde das gestantes e de seus bebês. Felizmente, nos dias de hoje, existem formas de prevenção utilizadas em pacientes de risco, reduzindo assim as chances de aparecimento das maiores complicações.

Podemos apontar 4 grandes alicerces em relação as síndromes hipertensivas na gestação, conhecidos como 'Regra dos 4 Ps': Prevenção, Precocidade no diagnóstico, Parto oportuno e Puerpério seguro.

Em relação a prevenção, há anos são conhecidos os efeitos benéficos do uso do AAS (ácido acetilsalicílico) e da suplementação do cálcio em gestantes de risco para o desenvolvimento da pré-eclâmpsia. No entanto, ainda vemos uma grande dificuldade por parte da equipe assistente na identificação das mulheres que devem utilizar tais compostos.

São fatores de riscos conhecidos: pacientes obesas, com hipertensão arterial crônica, gestações gemelares, história prévia de hipertensão em outra gestação, idade materna acima de 40 anos, doenças renais já conhecidas, entre outros.

A aferição da pressão arterial com técnica adequada é imprescindível. Níveis pressóricos acima de 140 ou 90 mmHg em dois momentos distintos com intervalo de 4 horas, fazem o diagnóstico da hipertensão arterial na gestação, levando o médico a solicitar exames para diagnóstico da pré-eclâmpsia e suas complicações.

São conhecidos sinais relacionados a pré-eclâmpsia: ganho de peso acima de 1 kg na semana, inchaço (edema) em mãos e face, além de sintomas como dor de cabeça (cefaleia), mal-estar geral, sintomas oculares como embaçamento visual e pontos brilhantes.

O melhor momento do parto dependerá das condições maternas e fetais, não devendo a gestante com pré-eclâmpsia exceder as 37 semanas de gestação.

Muito importante salientar que a via de parto é de indicação obstétrica, de preferência por via vaginal. No período de puerpério (pós-parto), a vigilância materna aumenta. As pacientes podem apresentar diversas complicações mesmos após o parto, como piora da pressão com crise hipertensiva, cardiomiopatia peri parto, edema agudo de pulmão e até eclâmpsia.

Assim, o momento de alta não deve ser precoce, frequentemente excedendo 72 horas. O retorno ao obstetra pré-natalista deverá ser no máximo em 7 dias após a alta, para nova avaliação e identificação de possíveis complicações.

Por fim, as pacientes que apresentarem pré-eclâmpsia devem ser orientadas sobre possíveis riscos futuros em suas vidas, como doenças cardiovasculares e renais."

Além disso, durante o pré-natal o ultrassom é um exame extremamente importante e para elucidar melhor o tema Renata Lopes Ribeiro, ginecologista, obstetra, mestre em ciências pelo HC-FMUSP e especialista em gestação de alto risco e medicina fetal, traz muitos dados importantes sobre o tema.

"A ultrassonografia no pré-natal desempenha papel fundamental, como uma ferramenta para o obstetra que pode mudar o desfecho da gestação.

O ultrassom morfológico de 1º trimestre, caso seja realizado em conjunto com análise bioquímica, além de fazer o rastreamento de malformações e síndromes, nos dá a informação valiosa do risco de a paciente ter pré- eclâmpsia e restrição de crescimento fetal (que é uma complicação obstétrica possível nas hipertensas).

Na ultrassonografia morfológica de 2º trimestre avalia-se a formação e o crescimento do bebê. A Dopplervelocimetria é uma ferramenta que mostra o fluxo de sangue do compartimento materno e fetal e se as trocas entre mamãe e bebê estão normais.

No 3º trimestre, o exame de ultrassom tem dois objetivos principais: avaliar a curva de crescimento fetal e o bem-estar do bebê. Essas informações são importantes especialmente nas pacientes hipertensas, porque a restrição de crescimento (o bebê crescer abaixo da curva esperada) é uma complicação obstétrica mais comum nas pacientes que têm hipertensão arterial.

A vigilância do bem-estar do bebê realizada pela Dopplervelocimetria e pelo perfil biofísico fetal (exame de ultrassom associado à cardiotocografia) permite uma condução segura da gestação e auxilia o obstetra na importante decisão do melhor momento do parto."Sabendo identificar os fatores de risco, iniciando o pré-natal precocemente e observando as alterações é possível que o pré-natal e o parto ocorram da melhor maneira possível.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para: dralarissacassiano@uol.com.br.

Referências:

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6. Brown MA, Magee LA, Kenny LC, Karumanchi SA, McCarthy FP, Saito S, et al. Hypertensive Disorders of Pregnancy: ISSHP Classification, Diagnosis, and Management Recommendations for International Practice. Hypertens (Dallas, Tex 1979). 2018;72:24-43.

7. Korkes HA, Padovani T, Mendonça GA, Borges E. Atualizações em Obstetrícia. Clinica Obstétrica da PUC-SP. 1st ed. São Paulo: EDUC; 2020.