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Larissa Cassiano

Informar-se o máximo possível permite a mulher escolher como quer dar à luz

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

26/01/2021 04h00

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Quem assiste ao filme "Pieces Of a Woman", na Netflix, vê o relato de um parto com cenas muito bem trabalhadas, que em certos momentos é possível esquecer que se tratava apenas de uma encenação. Ele conta a história de um casal que optou por parto domiciliar programado e minutos após o parto perde sua filha.

Sem dar muitos spoilers, uma reflexão que o filme me despertou foi sobre a imprevisibilidade da vida. A parteira que o casal esperava não pode ir e não encontraram nenhuma causa para a morte da filha. Esse é um ponto que talvez as pessoas pensem muito quando falam sobre parto vaginal e domiciliar, mas esquecem que de maneira geral o parto é um evento em que, mesmo nas melhores maternidades e com a melhor equipe, não é possível assegurar e retirar todos os riscos. Nascer é complexo.

Historicamente, o que surgiu primeiro foi justamente o parto domiciliar programado, ter o parto hospitalar era a exceção. Com o passar dos anos, evolução da medicina e crescimento populacional, os partos passaram a ser mais medicados e assistidos, preferencialmente nos hospitais, para atender mais pacientes com um número menor de profissionais envolvidos. Até que, por volta dos anos 2000, o movimento pela humanização do parto deu luz para a importância de uma assistência com redução das intervenções desnecessárias e protagonismo do parto para a mulher.

Dentro deste movimento, o parto domiciliar programado tem ascendido como uma possibilidade para casais que optam por menos intervenções em um ambiente familiar. Para que o parto domiciliar programado ocorra, a gestante deve ser considerada de baixo risco, realizar seu acompanhamento através do pré-natal com uma equipe pronta a acolher seus anseios e com experiência na assistência domiciliar. Neste período também será possível avaliar se existe alguma alteração que contraindique o parto domiciliar, além de encontrar uma equipe e hospital para o caso de uma urgência com necessidade de remoção.

O atendimento ao parto pode ser feito por médico, obstetriz ou enfermeira obstétrica. No momento do parto, no mínimo dois desses profissionais de saúde devem estar presentes para que a puérpera e o recém-nascido sejam assistidos.

Depois do parto, com a declaração de nascimento feito pelos profissionais que a atenderam, o registro do recém-nascido pode ser feito sem necessidade de procurar avaliação hospitalar, nos locais em que essa assistência já foi bem estabelecida.

Para quem que não deseja um parto nem hospitalar e nem no próprio domicílio, Caroline Iguchi, coordenadora técnica da Casa Angela, centro de parto humanizado na cidade de São Paulo, explica um pouco mais sobre essa possibilidade: "A casa de parto é um ambiente intermediário entre o hospital e o domicílio, pois ao mesmo tempo que oferece liberdade, acolhimento e intimidade, oferece também segurança com equipe e equipamentos necessários para situações de urgência e emergência, além de um hospital pactuado como referência em casos de transferência.

Para ter o parto em uma casa de parto é necessário ter uma gestação de baixo risco, ou seja, mãe e bebê saudáveis com todos os exames realizados dentro da normalidade, estar grávida de um único bebê que deve estar em posição cefálica (de cabeça para baixo) e não pode ter tido uma cesárea na última gestação.

A escolha do local de parto deve ser guiada não só pelas condições clínicas e obstétricas da mãe e do bebê, mas também pelo desejo e preferências da mulher e sua família. Acreditamos que a mulher deve ser apoiada em sua escolha de onde dar à luz e que oferecer opções como hospital, domicílio ou casa de parto para gestantes saudáveis é também garantir o direito a autonomia e liberdade que todo ser humano merece ter".

Fechando esse tema, não poderia deixar de trazer um depoimento sobre parto domiciliar, ele vem da terapeuta Larissa Agostini, mamãe da Luna: "Optei pelo parto domiciliar porque acredito que o ambiente influencia o processo de parir e eu gostaria de estar onde me sentisse o mais segura e tranquila possível, e era na minha casa que me sentia assim.

Queria que meu parto fosse um evento familiar, com o máximo de autonomia e o mínimo de intervenções, resgatando a vivência das minhas avós que tiveram seus 26 filhos em casa e fugindo da experiência hospitalar da geração da minha mãe, marcada por violência obstétrica.

Além disso, a recepção do bebê também me influenciou, não queria que ela passasse por uma série de procedimentos desnecessários que acontecem ao recém-nascido no hospital e que podem esperar ou até mesmo não precisam ser praticados.

Tive um parto fisiológico muito respeitoso e feliz, foi a experiência mais incrível que já vivenciei".

Que mais mulheres possam se informar sobre as vias de parto e locais de nascimento, e que façam a opção munidas de conhecimento e informação, que profissionais pratiquem sua assistência focada em boas práticas baseadas em evidências científicas, sem julgamentos pessoais, que os sistemas de saúde pública e privada permitam que a assistência humanizada seja uma possibilidade para todas.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para: dralarissacassiano@uol.com.br.

Referências:

Manual Técnico/Casas de Parto/ Secretaria da Saúde, Coordenação Saúde da Mulher/ Estratégia Saúde da Família. - 2 ed - São Paulo: SMS, 2016; Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticos de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher/ Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. - Brasília: Ministério da Saúde, 2001; Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. - Brasília: Ministério da Saúde, 2017;
Cursino, Thaís Peloggia; BENINCASA, Miria. Parto domiciliar planejado no Brasil: uma revisão sistemática nacional. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 25, n. 4, p. 1433-1444, Apr. 2020 Parecer Técnico COREN/SC Nº 023/CT/2016, Assunto: Parto Domiciliar Planejado.