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Larissa Cassiano

Gestar após os 35 anos: médicos devem focar na mulher e não só na idade

SanyaSM/iStock
Imagem: SanyaSM/iStock

Colunista do UOL

08/09/2020 04h00

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Há 100 anos, ter filhos entre 20 e 30 anos era comum para muitas mulheres, mas com o passar do tempo as mulheres ampliaram seu acesso à universidade, mercado de trabalho, mudança de parceiro, procedimentos de reprodução assistida e planeamento familiar com uso de contraceptivos.

Com essas mudanças, a idade média em que a mulher engravida aumentou, mas e quais questões estão envolvidas nesta gestação? É um problema engravidar após os 35 anos?

A gestação de mulheres com mais de 35 anos não é mais uma exceção, e tem se tornado cada dia mais frequente. Para o Ministério da Saúde, mulheres com mais de 35 anos são consideradas gestantes de alto risco, pois são mais vulneráveis a algumas doenças como hipertensão gestacional e diabetes gestacional, por exemplo.

Para a gestante com mais de 35 anos receber o rótulo de gestante idosa, gestação tardia, gravidez com idade avançada e gestante de risco só acentua a sensação dela de que algo pode dar errado, o medo de perder o bebê, ou evoluir com alguma doença.

Através da minha experiência posso dizer que esses rótulos são ineficazes, pois uma gestante com mais de 35 anos, dependendo do seu estado de saúde, pode ter uma gestação mais tranquila do que algumas mulheres mais novas, por isso empatia é justamente o que essas gestantes precisam neste momento.

E quais podem ser as dificuldades reais de uma gestação após os 35 anos?

Considera-se que alguns riscos podem ocorrer porque com o passar dos anos estamos mais propensos a algumas doenças. Como a hipertensão na gestação, que é a doença mais frequente, provavelmente pela alteração vascular que acontece ao longo dos anos.

Depois temos a diabetes gestacional, que pode ocorrer por diversos motivos, entre eles a possibilidade de acúmulo de peso, porém o sobrepeso ou obesidade não é um problema exclusivo para quem tem mais de 35 anos.

Quando uma dessas doenças ocorre, a gestante fica mais exposta a um parto prematuro se elas não forem bem controladas, sendo assim, a prematuridade é um dos outros riscos.

Alterações genéticas também são citadas em alguns artigos em especial a Síndrome de Down e outras alterações genéticas que podem levar ao aborto, o envelhecimento dos óvulos pode aumentar o risco de má formação genética que consequentemente elevam os riscos de abortamento precoce e de repetição.

E como reduzir esses riscos?

A pressão arterial deve ser avaliada em todas as consultas de pré-natal e, se possível antes de engravidar, deve estar controlada, para mulheres com outros fatores de ricos ou história de hipertensão antes da gestação é possível realizar medicações que reduzam esse risco e com bons resultados.

Já para evitar a diabetes gestacional é muito importante que a gestante possua hábitos saudáveis, prática de exercícios físicos e faça o diagnóstico o mais precoce possível, com isso ela conseguirá ter uma gestação tranquila.

Para quem se preocupa com abortos, a realização de fertilização assistida com diagnóstico pré implantação dos embriões, conhecido como PGD, é uma forma de pesquisar os embriões antes da implantação no útero.

Gestar após os 35 anos é só gestar, independe da idade em que isso ocorrer, talvez a mudança de título possa permitir que as mulheres vivenciem a gravidez com muito mais tranquilidade e que os profissionais olhem para elas como um todo, mais atentos, de maneira ampla, focada na mulher e não apenas na idade dela.

Lembrando que os riscos, mesmo que maiores para algumas gestantes, não significam a certeza de um parto com problemas ou um bebê doente, porque em muitas situações ele pode ser controlado.

Além disso, a espera para engravidar pode muitas vezes ser protetora para a mulher e seu bebê, pois ela espera e se prepara para a gravidez de maneira que seu risco se assemelha ou pode até ficar muito menor se comparado a mulheres com idades menores. O importante é que no final mãe e filho possam ir para casa bem.

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Referências:

- Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico. 5. ed. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012.

- SENESI, Lenira Gaede et al. Morbidade e mortalidade neonatais relacionadas à idade materna igual ou superior a 35 anos, segundo a paridade. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [online]. 2004, vol.26, n.6, pp.477-482. ISSN 1806-9339. https://doi.org/10.1590/S0100-72032004000600009.

- Aldrighi JD, Wall ML, Souza SRRK. Vivência de mulheres na gestação em idade tardia. Rev. Gaúcha Enferm. 2018;39:e2017-0112. doi: https://doi.org/10.1590/1983- 1447.2018.2017-0112.

- Alves NCC, Feitosa KMA, Mendes MES, Caminha MFC. Complicações na gestação em mulheres com idade maior ou igual a 35 anos. Rev. Gaúcha Enferm. 2017;38(4):e2017-0042. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983- 1447.2017.04.2017-0042.

- Blanco Pérez I, Miñoso Pérez S, Barroso Gazquez C, Socarras Gámez A, Cué Perdomo E. Estado del programa de diagnóstico prenatal citogenético. Rev. Ciencias Médicas 2015; 19(2): 214-222.