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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Falta de libido e dificuldade de ejacular: covid pode piorar vida sexual

coronavírus, covid - iStock
coronavírus, covid Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

28/07/2022 04h00

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Piora do desejo sexual e dificuldades de ejaculação estão entre os sintomas mais comuns das pessoas que enfrentam covid longa, de acordo com estudo publicado na revista Nature nesta semana.

Segundo o trabalho, os sintomas persistentes afetam cerca de 10% das pessoas e prevalecem mesmo 12 semanas após a infecção.

O estudo vem se juntar a uma série de pesquisas e observações clínicas anteriores em relação aos impactos possíveis do novo coronavírus na vida sexual de homens e mulheres. O comprometimento vascular e neurológico provocado pelo vírus e pela resposta imunológica dos pacientes pode aumentar a ocorrência de disfunção erétil, por exemplo.

Pode existir também um maior risco de infertilidade masculina por um quadro de inflamação nos testículos, de acordo com uma série de estudos, alguns deles, inclusive, realizados aqui ano Brasil.

Até quadros de priapismo —ereção prolongada que pode levar até à perda de vitalidade de tecidos do pênis e causar disfunção erétil— também foram descritos após a infecção, possivelmente por isquemia (falta de irrigação sanguínea) provocada por hipercoagulação.

Além das causas físicas (que ficam bastante claras no caso da covid), é bom lembrar que no campo da sexualidade, os aspectos psicológicos têm um peso importante. Assim, questões de saúde mental geradas pela infecção podem também impactar as respostas sexuais.

Queda de cabelo e espirros

Claro que os impactos da covid longa ou síndrome pós-covid não ficam restritos apenas à esfera sexual. De acordo com o estudo publicado na Nature, os cinco sintomas mais comuns da covid longa, além da piora da libido e das dificuldades de ejaculação, são espirros, perda de olfato e queda de cabelo. Outras dificuldades que podem aparecer nas semanas ou meses depois da infecção incluem falta de ar, falhas de memória, fadiga, dor no peito, rouquidão e febre.

O estudo confirma o que pacientes têm relatado para familiares e médicos nos últimos dois anos. Os principais sintomas estão no campo das dificuldades respiratórias, cognitivas e impactos na saúde mental. Os pesquisadores avaliaram dados de 2,5 milhões de britânicos (quase 500 mil infectados pela coronavírus) entre janeiro de 2020 e abril de 2021.

Uma gama muito maior de alterações (62 no total) foi identificada, e elas aparecem de forma muito mais frequente entre as pessoas que enfrentaram a infecção e não foram hospitalizadas do que em quem não teve covid. Alucinações, amnésia e dificuldades de coordenação motora também foram alterações encontradas.

Grupos mais vulneráveis

De acordo com o trabalho, os grupos mais vulneráveis para a síndrome pós-covid são mulheres, jovens, negros e pessoas de outras minorias étnicas. Populações mais pobres, os fumantes e pessoas com sobrepeso e obesidade também tendem a apresentar sintomas mais persistentes.

A importância de identificar e conhecer essa ampla variação de sintomas é poder oferecer precocemente as melhores alternativas de acompanhamento para quem está enfrentando as alterações.

E é sempre bom lembrar que as dificuldades sexuais ainda são uma questão muito sensível no campo da saúde, já que muita gente ainda considera o tema como tabu e tem resistência em buscar ajuda. Sem conhecer as queixas, é mais difícil para os identificar o problema e oferecer tratamento. Talvez o recado que fica para os profissionais da saúde é que esses sintomas precisam ser mais ativamente investigados.