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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A cada hora, 44 adolescentes brasileiras se tornam mães; como mudar isso?

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

29/01/2022 04h00

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Um em cada 7 bebês brasileiros nascidos em 2020 tinha mãe adolescente, segundo dados publicados na última semana pelo Sinasc (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos) do SUS (Sistema Único de Saúde). Apesar da tendência de queda observada nos últimos anos, esse número ainda é preocupante.

No próximo dia 01 de fevereiro começa a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, que busca orientar e conscientizar a sociedade sobre um tema que ainda exige uma série de ações mais consistentes.

Em 2019, foram quase 420 mil nascimentos de filhos de mães adolescentes (14,7% do total dos partos). Em 2020, foram 380.780 (14% dos partos), e quase 18 mil deles em garotas de 10 a 14 anos. Ainda de acordo com o Sinasc, 1043 adolescentes se tornam mães no Brasil a cada dia, 44 delas a cada hora.

Gestação como projeto de vida

Apesar da maior circulação de informações sobre prevenção à gravidez na internet, a questão da gestação na adolescência segue em patamares elevados. Parte do problema está ligada a questões econômicas e sociais, que fazem com que muitas garotas enxerguem na maternidade precoce um projeto de vida em detrimento de um investimento mais prolongado em educação e futuro profissional.

Alguns trabalhos acadêmicos sugerem que pequenos incrementos na renda familiar tendem a produzir uma queda progressiva nos casos de gestação na adolescência.

Países que conseguiram melhores resultados nesse campo investiram em políticas que focam em programas de educação sexual permanentes e de qualidade nas escolas, distribuição ampla e facilitada de métodos contraceptivos e condições para que as garotas possam investir em seu projeto de vida.

Sem projeto nas escolas

No Brasil dos últimos anos, por conta da polarização política que se estendeu para pautas de comportamento e sexualidade e, também, pelo avanço de setores mais conservadores em posições estratégicas de decisão sobre esses temas, houve uma descontinuidade de grandes programas públicos de educação sexual. Na ausência dessa discussão nas escolas, os jovens correram para as redes sociais para se "formar" e informar.

Se, de um lado há uma democratização no acesso a informações, corre-se o risco de que esse aprendizado aconteça dentro de bolhas que não dialogam com a ciência ou que perpetuam fatos e dados imprecisos. Falta, muitas vezes, tempo e oportunidade para a formação de um senso crítico nos jovens que os ajude a avaliar o que está sendo visto e ouvido nas redes e a tomar as melhores decisões.

E a família?

Para uma jovem que muitas vezes busca informação rápida e imediata pode haver dúvidas, confusões e sofrimento. Por mais que as garotas de hoje estejam mais empoderadas, o machismo estrutural ainda dificulta que elas coloquem o seu ponto de vista para os garotos, que ainda podem estar mais impermeáveis à discussão sobre cuidados no sexo e prevenção de gravidez. As meninas mais novas, de 10 a 14 anos, que respondem a quase 5% dos partos em adolescentes, talvez necessitem de ainda mais suporte para lidar com essas pressões.

O papel de conversar com as jovens sobre gravidez acaba restrito às discussões nas redes sociais e nas famílias. Boa parte delas avançou, evoluiu e consegue hoje falar com mais tranquilidade sobre o tema com filhos e filhas. Mas muitas famílias ainda preferem o silêncio ao diálogo e, nesse caso, criam um vácuo de comunicação que pode acabar deixando as garotas mais vulneráveis.

Para um ano que começa e que promete mudanças, que tal essa conversa voltar a ganhar mais espaço em casa e nas escolas? Quem sabe em 10 anos a gente não comemore uma redução de mais de 50% nas taxas de partos na adolescência, como fez o Reino Unido na última década! Já seria um começo. Faça sua parte!