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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Seu mundo parou? Apagão das redes pode revelar muito sobre você!

Facebook, WhatsApp e Instagram ficaram fora do ar na última segunda-feira - Jeremy Bezanger/Unsplash
Facebook, WhatsApp e Instagram ficaram fora do ar na última segunda-feira Imagem: Jeremy Bezanger/Unsplash

Colunista do VivaBem

06/10/2021 04h00

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Email inválido

Como você reagiu a quase sete horas de apagão do seu Instagram, Facebook e WhatsApp? E o que essa sensação pode revelar sobre a forma como você anda se relacionando com as redes sociais?

A última segunda-feira (4) começou preguiçosa e arrastada para alguns, e a 100 km/h para outros, dependendo das necessidades e de como cada um encara o começo da semana nesses tempos ainda pandêmicos.

Eis que, do nada, quando tudo começava a engatar e entrar em um ritmo mais razoável, bem na hora do almoço, "boom", tudo parou de funcionar. Por que minhas mensagens não estão sendo entregues? Ninguém mais fala comigo? Meu "feed' não atualiza? Cadê a DM? Nem o Messenger? É só comigo?

Se você achou que era algo pessoal logo de cara, leituras mais apressadas e superficiais do seu funcionamento psíquico podem apontar alguns traços paranoicos. E a paranoia pode ser uma forma de você se considerar muito especial ou diferente. Mas não era bem esse o caso. Não foi apenas você, foi o mundo que parou!

"Monday Blues" é um termo em inglês que se refere a sensações e emoções negativas que podem aparecer na segunda-feira, na retomada do ritmo semanal de estudo ou trabalho. Muita gente enfrenta! Mas o mundo todo sentir essa tristeza, ao mesmo tempo, deve ter sido um evento único, quase catártico. E catarses são janelas de oportunidades para a gente olhar para dentro e entender o que andamos fazendo, como indivíduos e como sociedade.

"Monday Blues" também remete a um grande sucesso da banda inglesa New Order dos anos 1980. Alguém lembra? Quem nunca encarou uma pista de dança ao som de Blue Monday? "And I thought I was mistaken. And I thought I heard you speak. Tell me how do I feel? Tell me now, how should I feel? Now I stand here waiting". Em livre tradução: "E eu achei que eu estava errado. E eu achei que ouvia você falar. Me diga como eu me sinto? Me diga agora, como eu deveria me sentir? Agora fico aqui esperando.

Vazio existencial

Pois é! Esperando foi a ordem do dia! E enquanto as ações do Facebook iam derretendo, Mark Zuckerberg era substituído no posto de quarto maior milionário do mundo por Bill Gates e milhões de pessoas estavam perdendo trabalhos e oportunidades ao redor do planeta, muita gente ficou sentindo um tremendo vazio existencial.

Não conectar para um ser social como nós, humanos, não é nada fácil. E é claro que fazer conexões hoje passa muito pelas nossas redes sociais. Logo, não era de se estranhar esse mau humor coletivo que tomou conta de todos nós. Mas algumas pessoas ficaram particularmente perdidas, sem rumo, sem saber o que fazer e como aproveitar esse "tempo" inesperado de pausa e suspensão que o tombo global do Facebook nos deu.

Fuga ou luta?

Vi muita gente correndo para o YouTube, Telegram, Twitter e TikTok. Ufa, nem tudo estava perdido. Mas tanto essa busca desesperada por alternativas, principalmente na esfera de lazer e de contatos, como a paralisia generalizada indicam uma importante dependência das plataformas mais tradicionais. Diante de uma situação de perigo, muitos animais ou se "fingem" de mortos ou saem correndo alucinados para achar para onde ir. Foi mais ou menos o que se viu!

Quem somos nós sem Facebook, Instagram e WhatsApp? Como lidamos com nosso cotidiano e com os outros diante dessa ausência? E se fosse para sempre? Essas perguntas ajudam a refletir um pouco mais sobre como a gente depende do Mark para sobreviver. Mostra, também, que talvez a gente precise rever algumas nostalgias dadas como ultrapassadas, como email, SMS, chamadas telefônicas e, pasmem, olho no olho.

Nada contra as modernas tecnologias de interação social e a agilidade que elas trazem para a nossa vida. Mas ficar perdido porque as mensagens não chegam e porque os "feeds" e "stories" dos nossos contatos não atualizam não deixa de apontar para uma certa falta de alternativa. Aposto que muita gente até sentiu uma certa dose de abstinência durante essas sete horas.

Quem conseguiu aproveitar a brecha do destino, desacelerou seu dia, ligou e bateu papo com os amigos e colegas, leu um bom livro ou conseguiu focar no trabalho ou nos estudos durante o apagão merece nosso respeito. Talvez sejam pessoas mais flexíveis, que se adaptam mais rapidamente e conseguem surfar melhor pelos imprevistos? Quem sabe, no futuro, não devêssemos todos aprender a lidar melhor com esse tipo de eventualidade, já que certamente novos cataclismos tecnológicos dessa magnitude podem aparecer no horizonte. Você acha que se saiu bem?