Topo

Jairo Bouer

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Tóquio 2020: camas de papelão e o convite ao sexo. Como fica a performance?

Reprodução do Twitter @Paulchelimo
Imagem: Reprodução do Twitter @Paulchelimo

Colunista do VivaBem

21/07/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O evento esportivo mais importante do planeta está prestes a começar. Porém, no momento, a principal discussão sobre os Jogos de Tóquio ainda não são os recordes que podem ser quebrados ou os favoritos ao ouro mas, sim, o sexo entre os atletas.

Pois é. Tudo começou na última sexta-feira (9), quando viralizou a notícia de que a organização da Olimpíada teria optado por camas de papelão na Vila Olímpica, em uma tentativa de impedir que os atletas fizessem sexo em seus quartos. Soou estranho logo de cara e, claro, não procedia.

A informação era paradoxal, visto que a própria organização dos jogos já havia afirmado à agência Reuters, ainda em junho, que distribuiria 150 mil camisinhas aos atletas, uma medida que vem sendo adotada de forma sistemática desde os Jogos de Seul, em 1988.

Camisinha para levar para casa, cola?

Em tempos de pandemia, fornecer preservativos poderia soar como uma quebra dos protocolos de segurança de prevenção ao novo coronavírus, o que motivou a organização a adotar o discurso de que as camisinhas não eram destinadas ao uso dos atletas dentro da Vila Olímpica e, sim, para que eles as levassem de volta para suas casas, como forma de ampliar a mensagem de conscientização sobre a prevenção do HIV e da Aids. Convence? Não muito!

Dar camisinhas a atletas olímpicos que, mesmo focados em seus objetivos, estão no auge de seu vigor físico (e possivelmente sexual), pedindo que usem somente quando voltarem para sua casa é quase como dar brigadeiro para crianças (e adultos) em uma festinha de família e pedir que eles só comam depois que estiverem em seus lares

Ainda um detalhe: mesmo que as camas de papelão impedissem o sexo (coisa que o fabricante nega, dado que elas suportariam até 200 kg e algum nível de animação), desde quando uma cama ou a ausência dela foi fator impeditivo para jovens fazerem sexo? Aliás, esse tema foi muito bem colocado pela colunista do UOL Luciana Bugni, em artigo delicioso da última semana.

Sexo e desempenho esportivo

Quando o assunto é sexo em eventos esportivos oficiais, em pleno século 21, não é incomum um discurso paradoxal e sem sentido. As organizações sabem que não adianta negar que ele acontece, mas ao mesmo tempo procuram desviar do tema. Assim, camisinhas são fornecidas mais como uma forma de evitar críticas do que como uma preocupação concreta com as eventuais consequências caso elas não estejam à mão. É mais ou menos a reprodução de um discurso que ainda acontece em bilhões de lares ao redor do mundo.

Vários estudos têm tentado analisar as relações entre atividade sexual e desempenho esportivo. Poucos são conclusivos no sentido de condenar a prática. Alguns até apontam que, na véspera da disputa, o sexo poderia aumentar a liberação de hormônios sexuais, que ajudariam na obtenção de melhores resultados.

Os eventuais riscos para a pior performance poderiam estar muito mais no que pode vir junto com o sexo, como álcool, menos horas de sono ou até uma eventual maratona sexual minutos antes da prova do que no sexo em si. Ou seja, não há nada que condene, a priori, sexo na vida de um atleta em competições esportivas.

Em tempo, segundo a organização de Tóquio 2020 as camas de papelão não seriam nem para evitar sexo, nem como forma de reduzir riscos de transmissão da covid-19 e, sim, uma opção pelo sustentável, já que Tóquio pretende ser a Olimpíada mais ecológica da história e elas seriam 100% recicláveis. Aí sim!