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Jairo Bouer

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Sofrimento emocional de universitários exige atenção

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

16/06/2021 04h00

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O suicídio de três estudantes na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP (Universidade de São Paulo) nos últimos dois meses traz novamente à tona um tema importante: como anda a saúde mental dos universitários brasileiros quase um ano e meio depois do início da pandemia?

A nova realidade, distante das salas de aula, com contatos sociais mais restritos, muitas vezes afastados dos familiares, tendo que se adaptar a uma rotina de exceções, com pressões vindas de todos os lados, fez muitos estudantes sofrerem mais com suas emoções.

Não que a saúde mental já não fosse um grande problema no país antes do novo coronavírus aportar por aqui, principalmente entre os mais jovens. O Brasil já vinha sendo apontado por diversas pesquisas internacionais como um dos detentores dos maiores índices de transtornos de ansiedade e depressão no mundo.

A pandemia pode ter agudizado a situação, de acordo com uma série de estudos realizados por aqui no último ano. Para outros, ela não interferiu diretamente no aumento desses transtornos, mas já encontrou um país adoecido, em que 20% a 25% da população enfrentam alguma dificuldade nesse campo.

Os alunos da USP (e de outras universidades públicas e privadas no país) estão enfrentando uma série de estressores nessa sua atual jornada acadêmica. Além das dificuldades econômicas e sociais que muitos estudantes vivem (agravadas pela pandemia), questões como racismo e homofobia continuam mal trabalhadas em muitos campi Brasil afora.

As novas jornadas de aulas 100% digitais, além de alterar a forma como eles acumulam conhecimento, acabou provocando um afastamento das suas redes de interações com colegas e professores.

Isolamento, solidão, sobrecarga de estudo e de tarefas em casa e cobranças acadêmicas por desempenho e resultados podem estar acrescentando um peso extra nessa equação. Se não é possível ainda bater o martelo na relação entre pandemia e ansiedade e depressão, com certeza há um campo fértil para o surgimento de um grande sofrimento psíquico para muita gente.

Também ainda há pouco estudos conclusivos ligando a pandemia com aumento do risco de suicídio, mas os três casos da USP acendem um alerta importante. Nos EUA, por exemplo, no ano passado (em plena pandemia) houve uma queda de 6% do número de suicídios em relação ao ano anterior, a redução mais importante dos últimos 40 anos.

Para os especialistas, esse fenômeno de diminuição de suicídios pode acontecer em momentos históricos de tragédias, com grande número de mortes e intensa mobilização social. Na dor de uma nação poderia haver alguma mensagem de suporte para quem está sofrendo. Talvez a maior atenção com a saúde mental das pessoas, que ganhou foco na pandemia, também tenha disponibilizado mais redes de apoio e ajuda nos EUA.

Já no atual cenário no Brasil, com o desamparo social que muitos estudantes vivem, fica clara a importância de estar atento à saúde mental dos alunos, talvez ainda mais à distância. Monitorar como eles estão se sentindo, disponibilizar serviços de suporte em saúde mental e criar redes de conexão com outros alunos e professores pode ser muito importante.

Em uma experiência de estudo recente que tive no Reino Unido, além dos supervisores e orientadores das teses, sempre existe a figura de um tutor. Um professor que tem como atribuição olhar o bem-estar e a saúde mental de um grupo de alunos durante a jornada acadêmica deles.

Além de um suporte social e econômico para os alunos que necessitam, perceber que existe alguém (um tutor ou um grupo de ajuda) que está responsável por saber como você está se sentindo pode fazer toda a diferença.

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como as oferecidas pelo CVV (cvv.org.br/) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.

O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.