Topo

Gustavo Cabral

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estudo avalia relação entre síndrome de Guillain-Barré e vacina da Pfizer

iStock
Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

06/09/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Algo que aprendi nessa pandemia é que uma forma de combater "fake news" é antecipar as explicações sobre fatos que possam ser usados para causar temor e, consequentemente, dificultar o controle da covid-19.

Sei que o tema que vou abordar aqui pode ser usado para fins "destrutivos" por negacionistas e pessoas que são contra as vacinas. Porém, não podemos deixar de trazer informações importantes para a população, até para evitar que essas informações sejam manipuladas pelos grupos "destrutivos" que citei acima.

Hoje vou falar de estudo feito em Israel, país referência no trabalho de vacinação contra a covid-19, mas que deixou de levar em consideração algumas precauções, assim como aconteceu (e acontece) em outros países. Por exemplo, o Ministério da Saúde de Israel e suas diretrizes nacionais de imunização não fala nada sobre o fato de que pessoas que tiveram a Síndrome de Guillain-Barré precisam ter certa precaução ou até são contraindicadas a receber a vacina contra a covid-19. Algo feito pelo estudo que vou discutir aqui.

Antes, quero ressaltar que, como já expliquei, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez um alerta sobre casos raros de síndrome de Guillain-Barré pós-vacinação com a AstraZeneca, Janssen e CoronaVac. Mas, por ser um efeito raríssimo, o órgão manteve a recomendação de continuar a vacinação no Brasil, pois os benefícios que os imunizantes oferecem são imensamente maiores do que os casos adversos graves.

Porém, algo que não aconteceu em Israel —nem aqui no Brasil— foi orientar pacientes com diagnostico prévio de Síndrome de Guillain-Barré sobre em que casos eles devem ou não tomar vacina, para reduzir o risco de que ocorra a reincidência dessa síndrome. Digo isso pois o objetivo do estudo em Israel foi justamente estabelecer as taxas de recidiva de Síndrome de Guillain-Barré em pessoas com a condição e que receberam a vacina da Pfizer-BioNTech.

O estudo foi realizado de forma descritiva e retrospectiva, numa área que o serviço de saúde atende a mais de 2,5 milhões de pessoas, representando um quarto da população israelense. O banco de dados inclui extensos diagnósticos clínicos e hospitalares, e dados dos prontuários médicos foram obtidos para a identificação dos pacientes com diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré.

Com isso, foram identificados 702 casos de pessoas que tiveram Síndrome de Guillain-Barré entre 2000 e 2020. Destes pacientes, 579 receberam ao menos uma dose de vacina e 539 receberam a duas doses.

Quarenta e oito dos 579 pacientes foram atendidos em um hospital. Vinte e quatro haviam visitado o departamento de emergência e foram liberados após menos de 24 horas, por questões não neurológicas, e os outros precisaram de internação por uma variedade de condições.

Apenas cinco foram encaminhados ao hospital por motivos neurológicos. Desse, dois pacientes tiveram parestesia (sensação de dormência ou formigamento de alguma parte do corpo), um paciente teve vários meses de duração de tremor e um paciente foi avaliado para uma convulsão. Mas, todos foram liberados do pronto-socorro sem mais observação médica. O quinto paciente tinha histórico de Síndrome de Guillain-Barré previamente diagnosticada e foi devidamente tratado, sem apresentar sintomas neurológicos residuais.

Mas, vale ressaltar que o paciente apresentou fraqueza progressiva nas pernas e parestesia, que começou logo após receber a primeira dose da vacina e durou várias semanas. Vários dias após a administração da segunda dose da vacina, o paciente foi internado no hospital. O quadro clínico e as evidências, com diagnósticos específicos, foram sugestivas para a Síndrome de Guillain-Barré.

O artigo reforça que esse foi o primeiro estudo a avaliar a segurança do uso da vacina com tecnologia mRNA contra covid-19 em pessoas com Síndrome de Guillain-Barré. E que, dos 702 pacientes, apenas um necessitou de atendimento médico de curta duração por recidiva da síndrome, o que representa um risco mínimo, porém que vale uma atenção para que não tenhamos problemas em nenhuma pessoa que seja vacinada, mantendo assim, o que a vacina oferece de melhor, eficácia para controlar doenças infecto contagiosas, e segurança social.