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Gustavo Cabral

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Com variante delta, não é hora de pensar em abandonar máscara no Brasil

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

03/08/2021 04h00

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Com o avanço da vacinação no Brasil e a queda no número de mortos por covid-19, alguns políticos já planejam uma maior flexibilização por aqui. Na semana passada, por exemplo, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, divulgou um plano que prevê, gradualmente, a volta do público vacinado aos estádios e boates, além do fim da obrigatoriedade do uso de máscara em 15 de novembro.

Com a variante delta, isso vai na contramão do que muitos lugares do mundo estão fazendo: o momento é de apertar as medidas de controle da pandemia, não de flexibilizar.

Recentemente, uma nota da CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), dos Estados Unidos, obtida pelo jornal The Washington Post, alertou que as pessoas vacinadas contra a covid-19, quando infectadas pela variante delta do coronavírus, transmitem tanto o vírus quanto pessoas não vacinadas. Isso gerou uma enorme preocupação científica.

Como já expliquei, era esperado que as pessoas imunizadas transmitissem o vírus. Porém, não imaginávamos que chegaríamos ao ponto em que o potencial de transmissão de pessoas vacinadas fosse similar ao de pessoas não vacinadas. Essa nota do CDC jogou um balde de água fria na expectativa de impedir a circulação viral tão cedo.

A capacidade de transmissão da variante delta chegou a ser comparada com a da catapora, por ser extremamente transmissível de pessoa para pessoa, por meio da tosse, de espirros, de gotículas de saliva expelidas ao falar ou por objetos contaminados pelo vírus —ou seja, a delta é muito mais fácil de "passar" do que as outras variantes do coronavírus

Isso não tira a esperança de controlar a pandemia, mas nos obriga a redobrar os cuidados e a sermos mais responsáveis. Nesse momento, o uso de máscara em lugares públicos é inegociável no Brasil. E não só aqui. Alguns lugares que já tinham liberado as máscaras locais ao ar livre, como os Estados Unidos, Israel, Reino Unido e França, mudaram a decisão. Esse passo atrás deve-se ao fato de a circulação dessa nova variante ter aumentado significativamente os casos de covid-19 nesses lugares.

Vacina salva vidas

Um fato importante que vale a pena ressaltar é que em torno 99% das mortes por covid-19 nos EUA são de pessoas não vacinadas. Dessa forma, continuamos obtendo o que buscamos com a vacinação: evitar que as pessoas adoecem de forma grave ou moderada, minimizando assim o sofrimento de uma internação ou morte.

Porém, algo que nos preocupa é que a circulação da variante delta aumente ainda mais. Quanto mais o vírus circula, maior o risco de novas mutações —e pode surgir alguma que consiga escapar das vacinas e se tornar ainda mais letal. Assim, principalmente se abandonarmos as máscaras e relaxarmos nos cuidados agora, o controle da pandemia vai se tornar mais e mais complicado. Por consequência, crescerá o número de mortes e voltarão as ações mais duras, como o fechamento de comércios, perda de empregos, a dificuldade de termos aulas presenciais etc.

Portanto, parece uma grande piada ouvir governantes prometendo flexibilizações para os próximos meses. Falando em piada, não podemos nos esquecer das constantes ações do governo federal (ou governo letal) em propagar informações falsas sobre o uso das máscaras e gerar aglomeração sem a devida proteção, retirando, inclusive a máscara de crianças em meio a tanta gente.

Realmente, tudo isso que ocorre em nosso país poderia ser apenas uma piada de mau gosto. Mas infelizmente não é: essas ações danosas seguem acontecendo.

Não podemos nos deixar enganar por ações que visam só conquistar votos para as próximas eleições. Muitos políticos já demonstraram que buscam, exclusivamente, perpetuarem-se em seus cargos e não dão a menor importância para a saúde da população, deixando de lado as ações de combate à pandemia de forma efetiva —como a formação de um comitê de combate à crise, com especialistas capazes de criar e aplicar projetos eficazes, que poderia ter ajudado o governo federal a conter a pandemia.

Para controlar a pandemia, precisamos ter vacinação em massa, uso da máscara de forma contínua —e sem tempo determinado para retirá-la em público— e distanciamento social. Assim, conseguiremos reduzir a circulação do vírus e evitaremos mais mortes, mais perdas de empregos, mais fome para ainda mais famílias.

A prioridade nesse momento é cuidar da saúde de todos, não de planejar a volta a shows, a estádios de futebol etc. Tudo tem seu tempo e devemos priorizar a vida, com máscara no rosto e vacina no braço!