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Gustavo Cabral

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Faz sentido os governadores diminuírem o intervalo entre doses de vacina?

Dado Ruvic/Reuters
Imagem: Dado Ruvic/Reuters

Colunista do UOL

12/07/2021 10h08

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Talvez um dos maiores problemas no controle dessa pandemia provocada pela covid-19 tenha sido a falta de comunicação entre os poderes, assim como a (falta de) sintonia de informações passadas para a sociedade.

Seguindo isso, surge essa forte tentativa dos governos estaduais de tentarem diminuir o intervalo da segunda dose, em especial da AstraZeneca, que até o momento está sendo recomendada pelo Ministério da Saúde para ser aplicada 12 semanas após a primeira dose.

Com isso, surgem perguntas do tipo: Por que os governadores querem agir fora das orientações do Ministério da Saúde e do PNI (Programa Nacional de Imunização)?

Vamos discutir essas questões.

Primeiramente, é importante falar que sim, o PNI brasileiro é considerado um dos mais eficientes do mundo e toda a vacinação nacional deve ser feita através de suas orientações. Porém, com o atual governo federal, até o PNI, que faz parte do que temos de melhor, tem sido mal aplicado.

Um exemplo factível foi o que disse a ex-coordenadora geral do PNI, Francieli Fantinato, na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado, que deixou o cargo porque as diretrizes da vacinação estavam seguindo ações mais de politização do que técnica.

Além disso, ainda mais grave, ela falou que enquanto esteve na coordenação do PNI não teve "nem vacinas nem uma campanha publicitária". Dessa forma, a tendência é que, realmente, o que temos de melhor não seja levado para população.

Dessa forma, abre ainda mais possibilidades de que ações sejam feitas para tentar controlar a pandemia, sem seguir as orientações do Ministério da Saúde, por exemplo a possibilidade de encurtar o tempo de aplicação da segunda dose.

Isso, inclusive, seria uma ação que segue as orientações da bula da vacina AstraZeneca, pois esta vacina pode ser aplicada no intervalo de quatro a 12 semanas, ou seja, se algum governo estadual decidir aplicar antes do tempo máximo que está sendo orientado, isso não afetaria a eficácia da vacina.

Além disso, tem surgido o crescente medo da nova variante do coronavírus, a variante delta, que foi primeiramente identificada na Índia, e que já está circulando aqui no Brasil.

E, como temos repetido, para que a vacina tenha a eficácia desejada, precisamos que a população seja vacinada com as duas doses (com exceção da vacina da Janssen que precisa apenas uma dose), para que tenhamos uma imunização completa.

Dessa forma, com a falta de comunicação entre os poderes e o desespero dos estados em entrar numa terceira onda da pandemia, surgem essas ações para tentar vacinar o máximo possível de pessoas com as duas doses.

Embora isso possa gerar um desequilíbrio no PNI, pois essas ações podem causar ainda mais falta de vacina para aqueles grupos que estão esperando para receber a primeira dose.

Por outro lado, se quisermos acelerar a imunização completa no Brasil, temos que levar em consideração essa questão de antecipar a segunda dose. Ou seja, a situação é complexa e, por isso, tem gerado diversas discussões entre nós, especialistas da área de saúde pública e vacinação.

Cabe ressaltar para a populacao que, apesar do número de vacinados estar crescendo consideravelmente, o que realmente temos que levar em consideração é a porcentagem de imunizados completamente, que atualmente estamos numa média de 14%, ou seja, para chegarmos aos tão desejados 70% da população imunizada é preciso que exista vacinação em massa e de forma rápida, além de um diálogo para chegar na melhor estratégia de ações entre o Ministério da Saúde e os governos estaduais.

Precisamos também que o presidente da República não atrapalhe com suas declarações que só fazem gerar uma verdadeira desorientação social.

Volto a falar, as ações dos governadores de antecipar a segunda dose da AstraZeneca são ações com embasamento científico.

Mas, além disso, precisamos unir o conhecimento científico com a harmonização social para obtermos o que mais queremos, que é o controle dessa pandemia.

Sendo assim, os estados precisam urgentemente sentar com o Ministério da Saúde e decidir juntos o melhor a fazer, levando em consideração o que temos.

Por exemplo, temos vacinas para antecipar as imunizações? Temos vacinas para acelerar a imunização com a primeira dose e garantir a segunda?

Enfim, temos mesmo que estar de olhos abertos para não entrarmos numa terceira onda e causar ainda mais prejuízo humano, financeiro e educacional para a população que não aguenta mais tudo isso.