O marketing das pipocas: gourmet só no preço

Os rótulos da "Mais Pura" estão cheios de alegações: artesanal, vegano, sem origem animal, sem glúten, sem lactose, não transgênico, sem ingredientes alergênicos.

Tais atributos, porém, se aplicam a qualquer pipoca feita em casa com óleo vegetal e milho não transgênico. Pipocas, por natureza, não são animais nem costumam ter alergênicos, ou seja, essas características não são uma exclusividade da versão industrializada. A propósito, será que faz sentido chamar de artesanal um alimento industrializado?

Os sabores doces da marca contêm três tipos de açúcar: demerara, glicose de milho e açúcar mascavo, resultando em 22 g de açúcar por pacote (50 g) — praticamente a metade do peso do produto. Ou seja, a pipoca é "puro" açúcar.

A marca "Da Magrinha" também traz várias promessas, a começar por um selo "sem lupas de alto teor", que remete a vantagens nutricionais. Mas basta olhar a lista de ingredientes para encontrar o açúcar e o amido em destaque (como em qualquer pipoca doce). A tabela nutricional confirma a predominância dos carboidratos: são 54 g no pacote de 90 g, embora o site não especifique o teor de açúcares, que é obrigatório nos rótulos.

A embalagem ainda diz que o produto é "sem grãos refinados", algo que nem faz sentido, afinal, porque uma pipoca teria isso? Esse exemplo demonstra que não ter lupas no rótulo não garante superioridade nutricional.

O produto "Mãe Terra" segue a mesma linha, destacando no rótulo que é feito com "milho orgânico" e "açúcar demerara", mas isso não transforma os nutrientes da pipoca, que tem 16 g de açúcar e quase 200 calorias por porção de 45 g.

No site do fabricante consta que ela é feita com ingredientes naturais, o que é parcialmente verdade, já que óleo de girassol, açúcar invertido e emulsificante vêm de fábricas, não da natureza. Como se não bastasse, o texto ainda menciona que as fibras da pipoca "equilibram o açúcar no sangue", mas sugiro perguntar a um diabético o que acontece quando ele come uma pipoca doce.

Escolha consciente

O objetivo desta análise não é dizer que você não deve comer pipoca doce industrializada, cada um é livre para fazer suas escolhas. Mas só a informação nos permite escolher conscientemente. Produtos como esses trazem um alerta importante: para saber o que realmente tem dentro da embalagem, não basta ler o rótulo frontal com as promessas de marketing, é preciso conferir a lista de ingredientes e as informações nutricionais. Com isso em mente, cabe a você decidir se vai abrir o pacote ou fazer sua pipoca em casa.

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Eu sou Sari Fontana, química industrial de alimentos e faço avaliações didáticas para ajudar você a comer de forma mais consciente (me siga no Instagram).

Como você já sabe, o Guia do Supermercado não é patrocinado por nenhuma marca. Por isso temos a liberdade de criticar, mas também de elogiar os produtos que merecem um lugar no nosso carrinho de compras.

Os produtos apresentados aqui são usados como exemplo ilustrativo, mas as explicações valem para alimentos similares de outras empresas. O mais importante é mostrar para você como interpretar a tabela nutricional e a lista de ingredientes dos alimentos, para fazer boas escolhas.

Lembre-se sempre de conferir o rótulo dos produtos que avaliamos, pois o fabricante pode alterar a receita a qualquer momento, adicionando ou substituindo ingredientes.