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Opinião

Colágeno, glúten e marketing: não se engane com alimentos proteicos

Há duas semanas, iniciei a trilogia de publicações sobre as estratégias usadas pela indústria para vender seus alimentos proteicos. A primeira delas é destacar a palavra proteína no rótulo em produtos que, na verdade, contêm mais carboidratos e gorduras, resultando em calorias extras. A segunda é anunciar um valor de proteínas incompatível com o tamanho da porção típica de consumo.

Hoje vou falar da terceira estratégia, que é usar proteínas de baixo valor biológico, como o colágeno e o glúten, para aumentar o teor proteico de alimentos, o que diminui a qualidade nutricional dos produtos —e alguns nem sempre têm tanta proteína quanto parece.

Se o seu objetivo for garantir um aporte proteico para a preservação e construção de massa muscular, proteínas como colágeno e glúten não serão úteis

Proteínas como as do leite têm alto valor biológico e também comercial. Consideradas completas por fornecerem todos os aminoácidos em proporções equilibradas, elas agregam qualidade ao produto. É por isso que elas custam caro.

Seja para reduzir custos, seja para atingir determinadas características sensoriais, muitos fabricantes podem diluir essas proteínas com ingredientes menos nobres ou até mesmo fontes de carboidratos e gorduras, sem destacar isso no rótulo.

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Imagem: Reprodução/Arte UOL

Isso acontece, por exemplo, na bebida Piracanjuba 23 g. Embora o colágeno contribua para aumentar o teor de proteínas sem elevar tanto o custo, ele não se compara ao whey protein em termos de qualidade. Ao contrário das proteínas do leite, o colágeno é incompleto e de baixo valor biológico. Ainda é uma opção melhor do que adicionar açúcar, amido ou gorduras, mas definitivamente não é a mesma coisa que whey.

Além disso, na maioria das bebidas lácteas proteicas, predominam os carboidratos. Fique atento. Quem vê apenas a parte da frente da embalagem não percebe que está levando pra casa mais carboidratos que proteínas.

Outro produto que dá destaque para as proteínas no rótulo é o pão preto zero da marca Amalfi. Quando olhamos a lista de ingredientes, vemos que a fonte de proteínas é o glúten, e que a quantidade total desse nutriente é de apenas 4.4 g por porção.

Tem ainda o caso da "cerveja proteica", que já apareceu aqui no Guia do Supermercado. Usar o argumento da proteína para vender álcool não tem cabimento. Como se isso não bastasse, os tipos de proteínas presentes na bebida são de baixa qualidade: uma mistura de glúten com o aminoácido glutamina, que nem mesmo proteína é.

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As proteínas não são todas iguais. Enquanto o glúten é uma proteína incompleta e de baixa biodisponibilidade, a glutamina é apenas um aminoácido não essencial que o próprio corpo produz. Ou seja, do ponto de vista prático, ambos são pouco úteis para a saúde.

Ao invés de se deixar levar pelas propagandas na parte da frente das embalagens, procure pela lista de ingredientes e confira quais as fontes de proteínas do alimento. Se o seu objetivo for garantir um aporte proteico que permita ao corpo obter suficiência de todos os aminoácidos a fim de otimizar a síntese proteica e a preservação e construção de massa magra, proteínas como colágeno e glúten não serão úteis.

Embora alguns industrializados proteicos sejam úteis para consumo eventual, não devem substituir os alimentos naturais com frequência. As melhores fontes de proteína na dieta são as contidas nos alimentos in natura, como carnes, peixes, frango, leite e derivados, ovos, ou leguminosas, como a soja.

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Eu sou Sari Fontana, química industrial de alimentos e faço avaliações didáticas para ajudar você a comer de forma mais consciente (me siga no Instagram).

Como você já sabe, o Guia do Supermercado não é patrocinado por nenhuma marca. Por isso temos a liberdade de criticar, mas também de elogiar os produtos que merecem um lugar no nosso carrinho de compras.

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Os produtos apresentados aqui são usados como exemplo ilustrativo, mas as explicações valem para alimentos similares de outras empresas. O mais importante é mostrar para você como interpretar a tabela nutricional e a lista de ingredientes dos alimentos, para fazer boas escolhas.

Lembre-se sempre de conferir o rótulo dos produtos que avaliamos, pois o fabricante pode alterar a receita a qualquer momento, adicionando ou substituindo ingredientes.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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