Quando o corpo grita antes da linha de chegada

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Nos últimos anos, o Brasil viu um crescimento explosivo no número de praticantes de corrida de rua. Em 2024, foram registradas mais de 2.800 provas oficiais, e estima-se que entre 13 e 19 milhões de brasileiros corram com frequência. A corrida se tornou um dos maiores movimentos de saúde coletiva do país.
Mas junto com essa expansão, cresceu também o número de emergências —e, infelizmente, de mortes em provas. Em 2025, apenas no primeiro semestre, já são pelo menos cinco confirmadas em corridas públicas. Em 2024, embora os dados ainda não tenham sido consolidados, houve diversos relatos de colapsos e intervenções médicas.
Em janeiro, um corredor de 52 anos morreu durante a Meia de Itaquera, em São Paulo. Em abril, uma idosa de 76 anos colapsou durante uma prova de 5 km, em João Pessoa. Já em maio, um policial de 33 anos morreu após sofrer um mal súbito durante uma corrida no Rio de Janeiro. Em junho, uma mulher de 30 anos teve uma parada cardíaca durante uma prova em Goiânia, e um jovem de 20 anos morreu enquanto participava de uma meia maratona em Porto Alegre.
O que as mortes nas corridas de rua nos ensinam sobre prevenção, propósito e limites? O corpo não mente, e negligenciar seus sinais pode ter consequências irreversíveis. Apesar da aparência saudável, a corrida é uma atividade de alta exigência fisiológica. Longas distâncias, calor, ansiedade pré-prova, histórico silencioso de doenças cardíacas —tudo isso pode desencadear eventos fatais, especialmente em atletas amadores mal preparados, que, muitas vezes, não fazem avaliação médica antes de competir, não treinam com acompanhamento técnico ou não respeitam o tempo do corpo para evoluir. E por que continuamos ignorando os alertas?
1. Vivemos a cultura da superação a qualquer custo
A corrida é um símbolo de vitória pessoal, mas o excesso de competitividade silenciosa tem feito muitos atletas ignorarem dores, sinais de exaustão e o próprio instinto de proteção.
2. Há muita desinformação sobre riscos reais
Muitos corredores não sabem que arritmias, hipertrofias cardíacas, desidratação extrema e uso inadequado de suplementos podem ser gatilhos para paradas cardíacas.
3. Corredores fazem treinos solitários
Treinar sozinho, sem supervisão ou orientação, reduz a chance de perceber sinais precoces de desequilíbrio físico e emocional.
Como se prevenir (e continuar correndo por muitos anos)
- Faça uma avaliação médica completa antes de iniciar ou intensificar os treinos. Exames como ECG, ecocardiograma e teste ergométrico podem identificar riscos invisíveis.
- Tenha um treinador ou programa com método. Treinar por conta própria é possível, mas perigoso sem base. Acompanhamento técnico garante evolução progressiva e evita exageros.
- Não ignore os sinais do corpo: tontura, enjoo, falta de ar fora do comum, batimentos muito acelerados ou dor no peito são sinais de alerta. Não os normalize.
- Hidrate-se com estratégia e antecedência. A desidratação é um gatilho comum para arritmias e colapsos. Não dependa apenas dos pontos da prova --já chegue hidratado.
- Não tente "compensar" treinos perdidos com sobrecarga. A pressa em "estar pronto" já matou corredores. Volume não se recupera no desespero. Respeite seu corpo.
- Corra em comunidade. Estar em um grupo pode representar mais segurança, suporte e consciência. Alguém sempre vai notar se você estiver diferente.
Correr é vida (mas tem que ser com responsabilidade!)
Nenhuma medalha vale mais do que um abraço no seu filho, um jantar em casa, uma conversa com os amigos. A corrida é sobre vida, mas se for feita com pressa, ego ou negligência pode se tornar o oposto disso.
Se você ama correr, cuide do seu corpo. E se você lidera pessoas, use sua influência para conscientizar. Uma cultura de performance saudável começa com verdade, limites e sabedoria.
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