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Fernanda Victor

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que as dietas tendem a dar errado?

Não existie dieta mágica que se encaixe e funcione para todos - iStock
Não existie dieta mágica que se encaixe e funcione para todos Imagem: iStock

Colunista do UOL

21/04/2022 04h00

Dieta detox, do tipo sanguíneo, da lua, da sopa... Você provavelmente já ouviu falar ou, até mesmo, já se aventurou em alguma dessas dietas. De tempos em tempos surge mais uma novidade e uma dieta mirabolante, prometendo inovação e resultados surpreendentes.

Em muitas situações, o grande problema é a necessidade de emagrecer em tempo recorde. O imediatismo pode ser uma das razões para o fracasso das dietas. Afinal, atingir um peso adequado com saúde requer constância e equilíbrio nas escolhas alimentares.

Além disso, as dietas tendem a dar errado pelo simples fato de não existir uma dieta mágica que se encaixe e funcione para todos. O sucesso de uma intervenção dietética está mais relacionado a encontrar um plano alimentar apropriado que te possibilite adesão sustentada, focando em metas reais e respeitando suas preferências alimentares e características individuais.

Até porque dificilmente você conseguirá se adaptar e manter a longo prazo dietas muito restritivas (< 500 calorias diárias) ou intervenções dietéticas com muita seletividade a ponto de excluir grupos alimentares importantes (tais como as dietas sem carboidratos e/ou gorduras).

Optar por boas fontes de alimentos é simples, mas não é nada fácil! Estudo recente publicado na PLOS Medicine afirma que adotar modificações positivas na dieta pode aumentar a expectativa de vida e que esse incremento na longevidade pode ser estimado através de calculadoras de padrão alimentar.

Ainda segundo o estudo, os maiores ganhos seriam obtidos ao consumir menos carne vermelha e processada e mais leguminosas e grãos integrais.

Ao que tudo indica, incorporar alimentos com melhor qualidade nutricional traz benefício cardiovascular e ainda impacta na expectativa de vida. Não é à toa que importantes diretrizes internacionais (American Heart Association e American Diabetes Association) recomendam fortemente dietas com ênfase no consumo de frutas, vegetais, peixes, oleaginosas e azeite de oliva (dieta do Mediterrâneo) e com restrição de sal e de gorduras saturadas (dieta conhecida como dash).

O que preocupa é haver muito mais disseminação do terrorismo nutricional do que de estratégias que estimulem o reconhecimento das reais necessidades do corpo. Somado a isso, a preocupação excessiva com a estética e com um padrão corporal idealizado contribui para o aumento crescente dos transtornos alimentares.

Saber avaliar os sinais de fome e de saciedade do próprio corpo aumenta a chance de realizar escolhas alimentares mais conscientes e assertivas, ter autonomia nutricional e desenvolver um comer mais intuitivo. Tal autopercepção já pode despertar mais prazer e menos culpa no ato de comer, estabelecendo uma relação mais saudável com o seu corpo e, consequentemente, com a comida.

A palavra dieta, do grego "díaita", significa maneira de viver. É preciso abandonar os atalhos para que haja mudança e incorporação de hábito, pois a reeducação alimentar genuína só ocorrerá quando ela deixar de ser uma dieta e passar a ser sua alimentação habitual, seu modo de vida.

Referências:

1. Fadnes LT et al. Estimating impact of food choices on life expectancy: A modeling study. Plos Medicine. 2022.

2. Ranking 2022 US News &Worl Report: Best Diets Overall 2022.

3. Gardner CD et al. Effect of Low-fat vs Low-Carbohydrate Diet on Weight Loss in Overweight Adults and the association with genotype pattern or insulin secretion. JAMA. 2018.