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Fernanda Victor

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dormir mal pode contribuir para aumentar seu peso; entenda a relação

Ketut Subiyanto/Pexels
Imagem: Ketut Subiyanto/Pexels

Colunista do UOL

24/03/2022 04h00

Você tem a impressão de estar dormindo cada vez menos? Coletivamente, todos estamos! Pesquisas apontam que hoje dormimos menos —em média, quase 2 horas a menos— do que 50 anos atrás.

Fato esse preocupante, pois quem dorme uma quantidade inferior a 7 horas de sono por noite apresenta um maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes e ainda é cerca de 8 vezes mais propenso ao sobrepeso.

Em nossa cultura em que tudo funciona 24 horas por dia, com tantas demandas diárias e informações propagadas tão rapidamente, nem sempre é fácil nos desconectarmos para recarregar o cérebro e obter um sono reparador.

A cada noite de sono insuficiente, vamos acumulando uma espécie de "dívida de sono" difícil de recuperar e compensar. O resultado do efeito da privação do sono é um impacto negativo e cumulativo sobre a saúde e o bem-estar.

Mesmo sabendo que somos biologicamente capazes de nos adaptarmos a uma grande variedade de duração de sono (em geral entre 6 e 9 horas), dormir mal pode desequilibrar nosso ritmo circadiano e interferir na nossa produção hormonal.

Além disso, diversos estudos já sugerem que o sono insuficiente, tanto em tempo quanto em qualidade, pode predispor ao adoecimento.

Enquanto dormimos, funções importantes para o nosso corpo continuam acontecendo, como a liberação de hormônios e a regulação do metabolismo. A privação de sono, sobretudo de forma crônica, provoca diversas alterações hormonais:

aumento do cortisol (hormônio do estresse);
- diminuição da tolerância à glicose, contribuindo para o maior risco de desenvolver diabetes;
- redução da melatonina (hormônio do sono);
- aumento dos níveis de grelina (hormônio da fome) e redução dos níveis de leptina (hormônio da saciedade), levando a um aumento do apetite e da ingestão de alimentos, bem como favorecendo para aumentar o risco de obesidade e de doenças metabólicas associadas ao ganho progressivo de peso.

Embora negligenciado e considerado por alguns como desperdício de tempo, é inegável que o sono proporciona diversos benefícios: auxilia no controle do peso, melhora a imunidade e o humor, reduz o risco de diabetes, além de contribuir para a criatividade, produtividade, concentração e memória.

Ter um sono reparador é essencial e a necessidade diária de sono pode variar de pessoa para pessoa. A qualidade do sono pode ser melhorada ao adotar medidas de higiene do sono, tais como um ambiente adequado (temperatura agradável, silencioso e sem luminosidade, sobretudo de aparelhos eletrônicos), horários regulares, prática de exercícios físicos durante o dia, menor exposição a substâncias que contenham cafeína e/ou nicotina próximo ao horário de dormir, dentre outras medidas.

Relaxar também é uma responsabilidade nossa, talvez até o jeito mais fácil de recarregar diariamente nossa energia física e mental. Assim, dormir bem pode ser uma forma de presentear seu corpo e sua mente, proporcionando melhor desempenho no dia a dia e ainda prevenindo doenças.

Referências:

1. Jones KE, Johnson RK, Harvey-Berino JR. Is losing sleep making us obese? Nutrition Bulletin. 2008; 33:272-278.

2. Calhoun DA, Harding SM. Sleep and Hypertension External. Chest. 2010; 138(2):434-443.

3. Chapman CD, Nilsson EK, Cedernaes J et al. Acute sleep deprivation increases food purchasing in men. Obesity (Silver Spring). 2013;21(12):E555-560.