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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A cultura do estupro influencia as vivências sexuais de adolescentes?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

05/08/2022 04h00

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Eu já falei sobre cultura do estupro aqui, mas é importante lembrar que ela diz respeito a uma estrutura de sociedade que, de forma aparentemente sutil ou explícita, valida comportamentos, pensamentos ou desejos que relativizam o estupro e banalizam sua gravidade ou complexidade.

Vejamos um exemplo:

Desde criança, os meninos são incentivados a mostrar seus pênis às pessoas como forma de comprovar sua heterossexualidade. Muita gente já presenciou um homem adulto orientando uma criança da seguinte forma: "Se te chamarem de bichinha, baixa a calça e mostra o tamanho da bichinha pra eles".

Essa situação é parte da cultura do estupro, pois apresenta ao menino a possibilidade de expor sua genitália a alguém que não pediu ou consentiu tal ato. Lembrando sempre que incentivar crianças a expor sua genitália é violência sexual!

Outro exemplo relacionado à cultura do estupro é quando uma menina é culpabilizada pelo assédio que sofreu na rua por parte de homens adultos. "Não queria ser assediada, então por que usou esse short tão curto?".

De acordo com o dicionário da língua portuguesa Michaelis, estupro é um "crime que consiste em constranger alguém a manter relações sexuais por meio de violência; forçamento, violação".

É importante dizer que a palavra "sutil", que eu usei lá no começo do texto, é utilizada de forma ilustrativa para nomear aqueles momentos em que não percebemos as violências causadas por nossas ações enquanto sociedade ou que tratamos como menores. Entretanto, vale lembrar que nenhuma violência é sutil, toda violência é violenta e não existem delicadezas em nenhuma agressão ou no incentivo dela.

E o que tudo isso tem a ver com adolescentes? Tudo!

Infelizmente, muitas pessoas na adolescência buscam aprendizado sobre vivências afetivo-sexuais por meio de contato com conteúdo pornográfico ou consultando seus pares que também podem ter baseado seus aprendizados nas mesmas fontes ou, em alguns casos, diálogos com homens adultos cisgênero que perpetuam a cultura do estupro em seus ensinamentos e "conselhos" sobre sexualidade.

A urgência em discutir cultura do estupro de forma mais ampla e aprofundada é apontada por diversas mulheres há muito tempo como forma de construir relações afetivo-sexuais saudáveis e combater a violência de gênero que engessa todos os corpos e vulnerabiliza meninas e mulheres cisgênero e meninos e homens transgênero.