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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Semenarca: compreender para acolher adolescentes em sua primeira ejaculação

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

22/07/2022 04h00

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Acordar pela manhã e perceber o pijama, a roupa íntima ou o lençol molhado com um líquido espesso pode ser constrangedor para adolescentes com idade entre 12 e 14 anos, ainda mais quando se vive num núcleo familiar que pouco (ou nunca) dialoga de forma aberta sobre sexualidade e puberdade.

A semenarca ainda é pouco falada dentro dos espaços de discussão sobre sexualidade adolescente, e fora desses locais se fala menos ainda.

Chamamos de semenarca, a primeira ejaculação da vida de adolescentes com idade entre 12 e 14 anos, e ela indica que os testículos já estão produzindo espermatozoides. Junto com a semenarca acontece também a orgasmarca (primeiro orgasmo peniano).

Assim como a menarca (primeira menstruação), não existe uma idade certa para acontecer a semenarca, já que isso pode variar de pessoa para pessoa.

É importante salientar que a semenarca não se trata de algo que adolescentes "fazem de propósito" e, justamente por não conseguirem controlar o momento dessa ejaculação, existem adolescentes que têm uma experiência de extremo constrangimento ao perceberem que a semenarca aconteceu.

Diferente da primeira menstruação, a semenarca muitas vezes não é revelada aos familiares, tornando esse processo de entendimento do que está acontecendo com o próprio corpo algo confuso e solitário. Adolescentes então recorrem aos amigos e a sites de busca para obter informações do que fazer a respeito dessa mudança no corpo.

É preciso dizer que nem sempre amizades e sites aleatórios trazem informações adequadas sobre o tema, deixando adolescentes em situação de maior vulnerabilidade.

O que podemos fazer enquanto pessoas adultas para cuidar do diálogo sobre semenarca?

O primeiro passo é dado lá na infância. É importante tornar o diálogo sobre corpo, saúde e puberdade algo comum e parte do cotidiano em casa desde cedo.

Não espere a adolescência chegar para conversar sobre as mudanças que ocorrem em todos os corpos. Que tal falar com as crianças sobre as células que nascem e morrem todos os dias em nossos corpos? Você também pode dialogar com as crianças que elas não precisam ter vergonha de conversar sobre novas descobertas com seus corpos, seja uma pintinha na perna, xixi na cama ou questões mais complexas.

Se a infância já passou e você não conseguiu tornar o diálogo sobre corpo, saúde e puberdade algo cotidiano, você pode propor um diálogo sobre puberdade, início da adolescência e suas mudanças.

Talvez seja interessante você dizer que sabe que essa conversa está um pouco atrasada, mas que é sempre tempo de iniciar um bom diálogo. Se o assunto o constranger enquanto pessoa adulta, é possível dizer isso para adolescentes também: "Olha, falar sobre isso é um pouco desconfortável para mim também, mas podemos aprender coletivamente a tratar o assunto com maior naturalidade".

Você pode dizer que a semenarca é algo comum de acontecer e que, quando ela chegar, você estará disponível para dialogar sobre isso e que não é motivo de vergonha, mas um sinal de que o corpo está se desenvolvendo de forma saudável.

Por fim, é importante saber que muitas mulheres cisgênero adultas têm produzido materiais sérios e acolhedores para falar sobre menstruação com adolescentes, então é importante que pessoas adultas que já passaram pela semenarca também criem materiais cuidadosos para que adolescentes tenham recursos lúdicos para lidar com esse novo momento de suas vidas.

Que tal produzirmos materiais assim?