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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que as redes sociais não são recursos de cuidado à saúde mental?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

04/02/2022 04h00

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Já começo dizendo que minha intenção com esse texto não é de desencorajá-lo a ter redes sociais ou diminuir a importância delas em sua vida. Mas quero propor uma reflexão sincera sobre os usos dessas redes como recurso para cuidar da saúde mental.

Tenho observado muitas pessoas relatando que seguem perfis de psicólogas, psicanalistas e religiosas, pois sentem que suas postagens são uma espécie de terapia e, por vezes, os textos fazem tanto sentido que servem como conselhos para repensar suas decisões amorosas, trabalhistas ou familiares. Isso pode ser bom em alguns casos, mas em geral é muito perigoso!

O Instagram nasceu em 2010 com a ideia de ser um aplicativo de interação social a partir do compartilhamento de fotos com ou sem filtros. Mas de repente essa rede social foi ganhando novos objetivos e hoje é usada como espaço para divulgação de trabalhos, reflexões e entretenimento. E está tudo bem ser esse o objetivo agora, mas precisamos ter nitidez de que o objetivo principal das pessoas que usam essa rede social não é —ou não deveria ser— cuidar da saúde mental dos outros.

Existem profissionais de saúde que usam as redes sociais como ferramenta de proposição de reflexões sobre a sociedade e os impactos dela na saúde mental da população, mas isso não quer dizer que somente isso seja suficiente para que você modifique suas atitudes.

Muitas pessoas costumam dizer que seguem influencers pois seus conteúdos acalantam a alma e acalmam as emoções, porém é importante saber que os textos e vídeos produzidos e postados nas redes sociais não são direcionados especificamente a uma pessoa, logo, podem até servir como um abraço, mas não como um processo de reflexão sobre atos específicos que você tem ou deixa de ter.

Mesmo que saibamos que é fundamental refletir sobre nossas atitudes analisando a cultura e a história brasileira, também é necessário sabermos que é preciso entrelaçar essa análise macro com a sua história pessoal, e isso nenhum influencer dará conta de fazer —e acredito que nem seja esse o desejo de influenciadores.

Embora pareça que aquela postagem "conversa" com você, isso não é totalmente real, porque uma conversa pressupõe troca e escuta atenta e, por mais que você comente um texto ou vídeo, a pessoa que responde não está ali para analisar seus traumas, suas dores ou caminhar contigo numa jornada reflexiva sobre como a história geral se entrelaça à sua história de vida e gera certos movimentos seus. Isso você poderá fazer dentro de um processo terapêutico com alguém que se debruçará na escuta e proposição de reflexões a partir disso.

Se algumas postagens trazem ânimo a você para enfrentar as dificuldades diárias, é muito importante que você saiba que isso é desdobramento, é consequência, mas não é o objetivo principal daquela rede social ou da pessoa que postou o conteúdo.
Autocuidado não tem a ver com se sentir momentaneamente feliz, mas em construir o fortalecimento emocional dentro de um processo que inclui recordar, repetir e elaborar. Aliás, o Freud tem um texto com esse título que vale muito ler.