Topo

Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Morrer de frio é triste realidade; o mais absurdo é que prevenção é simples

Pedestres e moradores em situação de rua tentam se proteger do frio na Praça da Bandeira em São Paulo  - RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Pedestres e moradores em situação de rua tentam se proteger do frio na Praça da Bandeira em São Paulo Imagem: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

18/06/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Sempre que o clima muda e vem uma frente fria, as pessoas já preparam cobertores e agasalhos para se proteger. Todos esses cuidados são necessários para não "morrer de frio". A grande questão é que o frio excessivo e a exposição do corpo humano a baixas temperaturas não causam somente incômodos e desconforto; o frio pode realmente matar. Aliás, de forma muito lamentável, temos visto e lido sobre casos de mortes de pessoas que vivem nas ruas, em decorrência das baixas temperaturas.

Chamamos de hipotermia quando nosso corpo perde calor para o ambiente que está muito frio. Progressivamente, nossa temperatura corporal começa a cair e o fluxo sanguíneo começa a ficar muito lento, com risco maior para "engrossamento" do sangue e formação de coágulos, ou seja, verdadeiras rolhas que entopem os vasos sanguíneos. Esse fluxo sanguíneo reduzido significa uma entrega insuficiente de oxigênio e nutrientes para todos os órgãos, resultando na falência múltipla de todos eles.

Mas a ação lesiva do frio excessivo não se restringe à possível formação de coágulos. As baixas temperaturas podem causar o espasmo dos vasos sanguíneos e aumento do trabalho por parte do nosso coração. Espasmo de vasos sanguíneos significa que está ocorrendo o fechamento ou estreitamento dos mesmos, o que também seria fator determinante para redução do fluxo sanguíneo. Na tentativa de equilibrar nossa temperatura corporal e manter o fluxo sanguíneo, nosso coração trabalha mais, podendo entrar em sobrecarga e insuficiência.

No universo esportivo, os alpinistas —pessoas que escalam montanhas— precisam de equipamentos e vestimentas especiais para suportar as baixas temperaturas. Quando ocorrem falhas, essas pessoas ficam expostas a temperaturas extremamente baixas e acabam morrendo pelas complicações da hipotermia.

Na prática, considerando qualquer pessoa, as medidas preventivas para evitar a hipotermia são bem simples, mas deveriam ser mais valorizadas. Usar agasalhos e vestimentas de proteção em conjunto com uma boa alimentação diária podem garantir sucesso no enfrentamento das baixas temperaturas.

O choque térmico —quando as pessoas estão em ambientes de temperatura mais quente e subitamente enfrentam aquelas rajadas de vento frio— deveria ser evitado a qualquer custo. Agasalhos e cobertores exercem a função de isolamento térmico, permitindo que nosso corpo não perca calor para o ambiente externo. Uma alimentação balanceada, várias vezes ao dia, favorece a manutenção de nossa temperatura corporal em um patamar saudável.

Em relação aos alimentos e bebidas, podemos incluir alguns temperos que ativam a nossa circulação sanguínea, como é o caso da pimenta e da canela. Sopas e chás quentes também seriam muito úteis para aquecer nosso organismo.

Do ponto de vista socioeconômico, o frio excessivo escancara uma realidade muito dura do Brasil e de muitos outros países: pessoas em condições precárias, vivendo nas ruas, expostas a baixas temperaturas e literalmente morrendo pelo frio. A condição de miséria dessas pessoas se acentua quando as temperaturas caem.

Morrer de frio é uma triste realidade e não podemos negar sua magnitude, tendo em vista que isso tem ocorrido do nosso lado, nas principais cidades brasileiras. Os maiores antídotos para essa estúpida forma de morte são o casaco e a comida. Por mais óbvio que pareça, nem todos têm acesso a esses requisitos e talvez essa constatação supere o absurdo de se morrer de frio e pelo frio.