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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que uma convulsão pode ter origem no seu coração?

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Imagem: iStock

Edmo Gabriel

Colunista do UOL

14/05/2022 04h00

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Em primeira análise, pode parecer uma rima de poesia —convulsão com origem no coração. Mas, na verdade, o assunto é muito sério e precisamos entender um pouco mais sobre como alterações ou patologias cardíacas poderiam resultar em convulsão.

Mas, afinal, o que seria uma convulsão? Acredito que muitas pessoas têm histórias para contar sobre amigos ou parentes que certa vez apresentaram uma convulsão. Acredito, também, que estas pessoas que tiveram a oportunidade de testemunhar uma convulsão jamais esquecerão o fato, visto que a cena é realmente muito forte.

A convulsão consiste num conjunto de espasmos ou tremores, de caráter involuntário (quando a pessoa não consegue controlar), podendo estar associados com alterações da consciência. Em alguns casos, enquanto a pessoa está apresentando os tremores, pode ocorrer a chamada liberação de esfíncteres, ou seja, escape de urina ou fezes sem nenhum tipo de controle.

Uma convulsão, além de ser um sinal de alerta para se buscar uma investigação minuciosa tal como um tratamento precoce, pode colocar a vida de uma pessoa em risco. Uma pessoa que esteja dirigindo um veículo pode sofrer subitamente uma convulsão e se acidentar gravemente.

Existem muitos casos de convulsão seguida de traumatismo craniano, visto que a crise convulsiva associada com alterações de consciência pode determinar a queda inesperada e o trauma na cabeça.

A atriz e ativista Luísa Mell recentemente apresentou uma crise convulsiva durante uma apresentação, na qual ela estava num palco e, subitamente, caiu de costas e começou a manifestar inúmeros espasmos e tremores pelo corpo.

Ela está atribuindo esta ocorrência ao estresse do dia a dia, que realmente poderia ser um importante gatilho, visto que a tensão emocional excessiva pode gerar desequilíbrio hormonal e muitos efeitos negativos em nosso sistema nervoso.

Quero compartilhar com vocês uma experiência vivida por mim certa vez: um colega médico que fazia plantões noturnos quase que diariamente, sem se alimentar adequadamente, dormindo muito pouco e acumulando estresse devido às demandas dos plantões, apresentou quadro convulsivo durante uma reunião médica.

Foi terrível, ele se debateu muito, ficou com a feição desfigurada por alguns instantes até se recobrar completamente. Estresse e falta de sono podem causar uma convulsão.

Com nosso coração, não é diferente. Este órgão tão complexo e tão essencial pode estar relacionado com a ocorrência de uma convulsão. Quero apresentar algumas situações que envolvem nosso coração e que podem justificar um quadro convulsivo.

1) Arritmias cardíacas

Mudanças no ritmo natural do coração, especialmente quando estas mudanças cursam com desorganização importante dos batimentos, causam alterações no fluxo sanguíneo que segue do coração para o cérebro. Isto pode ser decisivo para gerar um quadro convulsivo.

2) "Entupimento" de valva cardíaca

Quando uma valva cardíaca começa a ficar mais rígida, endurecida e com acúmulo de cálcio, ocorre uma situação conhecida como estenose, o que seria, na prática, um entupimento desta valva. O sangue não passando adequadamente por dentro da valva, acaba não chegando adequadamente aos órgãos vitais, entre eles o cérebro. Este baixo fluxo cerebral e a consequente taxa reduzida de oxigenação cerebral levam a maior risco de convulsão.

3) Variações da pressão arterial

Muitas pessoas convivem com variações importantes da pressão arterial, o que costuma causar bastante desconforto no dia a dia. Em alguns casos, de acordo com a reatividade de cada um a este tipo de variação, eventualmente poderá ocorrer um episódio de convulsão.

4) Variações da frequência cardíaca

As variações da frequência cardíaca, mesmo que não sejam numa situação de arritmia propriamente dita, podem desencadear uma convulsão. As variações da frequência cardíaca mais determinantes de uma convulsão seriam os casos de bradicardia, quando os batimentos cardíacos ficam consideravelmente baixos, menos de 40 batimentos por minuto.

5) Coração "inchado"

Em caso de sobrecarga do músculo cardíaco, como na insuficiência cardíaca, o coração perde força de contração e ejeção. A estrutura do coração também pode se modificar, ficando bem dilatado, como se estivesse "inchado". A baixa ejeção do sangue resulta em fluxo cerebral reduzido.

6) Parada cardíaca

Na iminência de uma parada cardíaca, quando os sinais vitais estão fracos, pode ocorrer uma crise convulsiva. Como o coração não está mais bombeando de forma efetiva, o fluxo sanguíneo e a oxigenação acompanham esta tendência.

A convulsão não pode ser vista como algo corriqueiro. Deve ser investigada e acompanhada por especialistas, principalmente um neurologista e um cardiologista. São necessários exames laboratoriais e de imagem para melhor elucidação e definição terapêutica. As doenças cardiovasculares, o câncer e, em muitos casos o estresse excessivo, podem corroborar com esta ocorrência.

No caso específico do coração, seria fundamental a realização de alguns exames complementares para pesquisar arritmias, variações da pressão arterial, problemas das valvas e sinais incipientes de uma insuficiência cardíaca.

Nesta lista de exames, poderiam estar presentes o Holter (eletrocardiograma de 24 horas para pesquisa de arritmias), Mapa (monitoração da pressão arterial nas 24 horas) e um ecocardiograma transtorácico com doppler colorido (avaliação das valvas cardíacas e força do coração).