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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A beleza do corpo e a saúde cardiovascular: atenção aos limites

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Imagem: iStock

Edmo Gabriel

Colunista do UOL

30/04/2022 04h00

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Claro que quando o assunto é beleza, imediatamente vem à mente o conceito da estética e de certos padrões físicos que a sociedade consolidou ao longo de décadas.

A grande questão é se realmente os critérios da beleza física também preencheriam as demandas de uma saúde cardiovascular plena. Será que, em todas as circunstâncias, de forma absolutamente inquestionável, os padrões da beleza física garantem a longevidade de uma pessoa? Eis o grande dilema, a mais importante das discussões.

As redes sociais e os recursos tecnológicos foram aditivos essenciais para que a beleza física ficasse cada vez mais perfeita. Não há como negar que as imperfeições e assimetrias de um corpo "normal" são convertidas em figuras delineadas em corpos muitas vezes "anormais".

Neste cenário tão frequente, com o qual nossos olhos certamente já estão extremamente acostumados, pulsa a maior das dúvidas: qual o limite entre a beleza física e a saúde cardiovascular? Nada contra melhorar imperfeições do corpo, nutrir a vaidade, afinal, quem de nós sobrevive sem uma dose mínima de vaidade?

Quero, na verdade, refletir um pouco mais sobre este tênue limite entre a beleza física e a plenitude de uma saúde cardiovascular longeva. A beleza, como um conceito amplo e ocasionalmente complexo, desmembra-se em algumas vertentes como atividade física, suplementos, "chips" hormonais, anabolizantes, cirurgias e dietas.

Observem que, embora muitos defendam que a beleza é exterior e interior, beleza de corpos e de almas, imperfeição de um corpo em uma alma grandiosa, não escapamos do absoluto predomínio da beleza física moldada por padrões culturais e sociais.

Quantas vezes já ouvimos que alguém é "gordinho e saudável", sendo que, na verdade, caso a pessoa pudesse controlar seus fatores genéticos, ela escolheria ser magra, saudável e podendo fazer muitas extravagâncias alimentares.

Quantas vezes já ouvimos pessoas comentando que sua libido não é a mesma devido às mudanças hormonais cíclicas, mas que está tudo bem, isto faz parte da vida e vamos seguir em frente.

Caso estas pessoas pudessem mudar este cenário, seja por meio do uso de "chips" ou qualquer medicamento supostamente milagroso, vocês acham que iram pensar duas vezes em tomar esta decisão?

Para estabelecer claramente um elo entre as estratégias para garantir a tão almejada beleza, se possível de forma imediata, e a segurança de nossa saúde cardiovascular, vejam as situações abaixo:

Situação 1

Uso de hormônios anabolizantes para hipertrofia muscular: risco de intoxicação no fígado, tromboses, infarto do coração, derrame cerebral e câncer.

Situação 2

Uso descontrolado de suplementos para emagrecer: risco de complicações no fígado e rins e possibilidade de muitos efeitos colaterais indesejáveis.

Situação 3

Implantes hormonais ("chips" da beleza): risco de elevação do colesterol, eventuais taxas crescentes de complicações cardiovasculares e hepáticas.

Situação 4

Atividade física exagerada ("overtraining"): risco de sobrecarga cardíaca, com repercussões como arritmias, tromboses e infarto do coração.

Situação 5

Excesso de cirurgias estéticas: risco de complicações relacionadas aos medicamentos anestésicos, risco de hemorragias, perfuração de órgãos, complicações cardiovasculares.

Segundo o ilustre poeta Vinicius Moraes, "a beleza é fundamental". Mas quero aqui humildemente chamar a atenção para necessidade de bom senso e moderação no que tange a "intensidade" desta beleza.

Buscar a beleza física como algo próximo da perfeição, algo que seja incontestável perante o espelho e perante os olhos da maioria das pessoas, pode também resultar em ameaças ao equilíbrio cardiovascular.
Quando a beleza não está alinhada prioritariamente com a saúde cardiovascular plena, eu tenho sinceramente muita preocupação quanto as consequências.

Lutar e investir tempo e dinheiro para uma suposta beleza incontestável e acabar adoecendo com sequelas ou mesmo perder a vida, não pode ser um ato a ser replicado em larga escala. Ao contrário, a vida de um ser humano e, especialmente sua saúde cardiovascular, deveria ser a maior vaidade de cada um de nós.

Estando a saúde cardiovascular plena, nada contra buscar o aprimoramento físico e correção de sinais que o envelhecimento pode acarretar. A maior vaidade de um ser humano deveria ser viver muito tempo com qualidade.