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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O coração pode parar de bater subitamente: veja o caso de Taylor Hawkins

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

02/04/2022 04h00

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Quantos corações param de bater subitamente e não temos a mínima noção ou percepção da gravidade disto! Quantas pessoas morrem durante o sono! Quantas pessoas estão praticando esportes e simplesmente desabam sem nenhum sinal de vida residual!

A verdade é muito simples e objetiva: nosso coração é essencial por tantas funções indispensáveis que executa mas, por outro lado, é extremamente traiçoeiro quando ocorre uma falência aguda e súbita.

Embora uma parada súbita do coração represente uma condição difícil de assimilar, uma vez que você pode ter estado com uma pessoa minutos ou horas antes sem que ela apresentasse qualquer sinal do que iria acontecer, esta ocorrência é fruto de algum processo patológico que já vinha se consolidando ao longo de determinado período de tempo. Por isto que reitero: o coração é uma órgão traiçoeiro e minimamente devemos nos apoiar em medidas preventivas.

O caso de Taylor Hawkins, baterista do grupo Foo Fighters, foi mais do que emblemático. Este caso ilustra uma realidade que não queremos aceitar, com a qual sofremos muito quando ocorre com algum ente querido e sobre a qual ainda pairam dúvidas e incertezas.

Para entender melhor como um coração humano pode atingir este ponto crítico de parar de bater subitamente, vamos analisar fatores que podem deformar este coração, causando mudanças em seu formato e na sua funcionalidade original.

Fica mais fácil pensar da seguinte forma: alguns fatores tornam o coração mais dilatado e com paredes musculares mais finas; outros fatores, por sua vez, são capazes de transformar a massa muscular do coração numa estrutura hipertrofiada e espessa. Como a medicina não é e nunca será exata, existem também casos de coração hipertrófico e dilatado de forma combinada.

Num primeiro momento, pode parecer estanho, mas tanto um coração dilatado como um coração mais "musculoso" ou hipertrofiado, acabam perdendo progressivamente sua capacidade de bombeamento, sendo esta deficiência um prenúncio para uma falência cardíaca súbita. O caso de Taylor Hawkins, tendo como base as informações divulgadas em diferentes veículos de imprensa, traz algumas reflexões válidas para muitos de nós:

Reflexão 1

A fama pode acarretar alguns efeitos colaterais, como uma vida desregrada, uma rotina de muitos eventos, shows e festas e uma maior tentação para experimentar supostos prazeres como etilismo e uso de drogas ilícitas.

Reflexão 2

As pessoas que se tornam públicas e famosas também são seres humanos sujeitos a depressão, ansiedade e pânico. São pessoas absolutamente normais, mas revestidas de uma aparência física ou digital que pode iludir seus admiradores.

Reflexão 3

Existe um conceito muito importante para nossa saúde —existe um potencial de toxicidade em tudo aquilo que consumimos ou injetamos em nosso corpo. O exagero no consumo de bebidas alcoólicas pode causar um processo inflamatório em diferentes órgãos, sendo que no coração pode provocar uma dilatação progressiva e risco elevado para arritmias cardíacas.

O uso de drogas ilícitas também acarreta toxicidade, podendo favorecer a dilatação do músculo cardíaco e o espasmo (fechamento) das artérias que levam nutrientes para este músculo, aumentando o risco de um infarto.

Reflexão 4

Além de nossos hábitos e de nosso estilo de vida, carregamos uma herança familiar, quanto a predisposição para alguns agravos e doenças. Situações como hipertensão arterial, arritmia cardíaca, diabetes mellitus, colesterol elevado, infarto do coração e derrame cerebral podem ser mais evidentes em pessoas cujos pais e avós tiveram seu histórico de vida marcado por tais ocorrências. Mesmo em pessoas com estilo de vida saudável, o fator hereditário pode ser determinante para o surgimento e progressão de uma determinada doença.

Reflexão 5

O coração humano pode dilatar progressivamente devido ao uso prolongado de drogas e abuso constante de bebidas alcoólicas. Analogamente, o coração humano pode se tornar hipertrofiado, quando existe descontrole da pressão arterial, alterações na estrutura de algumas valvas do coração, atividade física exagerada e uso inadvertido de hormônios como anabolizantes. Quando pensamos que tudo isto pode estar somado em uma mesma pessoa, em um mesmo coração, conseguimos ter noção acerca dos possíveis desfechos e do risco de uma parada súbita.

A partir das informações divulgadas, o coração de Taylor Hawkins apresentava um tamanho e peso acima do normal para o biotipo físico dele. Talvez não consigamos determinar precisamente se o coração dele tinha dilatação e hipertrofia ou predomínio de uma destas deformidades, mas certamente o histórico de vida do cantor tal como as substâncias encontradas em seu corpo denunciam que o coração de Taylor poderia parar a qualquer momento e de forma absolutamente súbita, como aconteceu.

Os relatos demonstram que ele foi encontrado sem vida dentro de um quarto de hotel e que, alguns dias antes, mencionou estar sentido algo estranho no peito. Além disto, vimos que o evento ou os eventos que determinaram a parada de seu coração foram tão intensos que as manobras de reanimação foram completamente ineficazes.

Algumas substâncias que foram identificadas como medicamentos para sistema nervoso (antidepressivos), álcool e drogas, são fatores potenciais para uma descompensação súbita de um coração já deformado e com um histórico de muitas injúrias atribuídas a um estilo de vida desregrado.

Nossos hábitos, nossas escolhas, nossa capacidade de lidar com a vaidade e fama e nossa carga genética podem potencializar conquistas positivas e qualidade de vida plena.

No entanto, basta iniciar uma quebra neste equilíbrio, extrapolar limites e achar que ser jovem é sinônimo de saúde intocável, para conhecermos o começo do fim e experimentarmos um caminho sem volta —a parada súbita de nosso coração.